Cantora une Roberto Carlos, macumba e rock para firmar tradição africana
Rita Benneditto é uma cantora movida pelo mistério da fé e pelo encantamento da cultura africana. De maneira um tanto reducionista, ela já foi chamada por muitos de “cantora de macumba”, graças ao sucesso do álbum “Tecnomacumba” (2006), quando modernizou pontos (como são chamados os cânticos) e hits inspirados nas religiões afrodescendentes, ao lhes dar uma roupagem eletrônica. Na estrada desde os anos 1980, ela ganhou fama justamente ao abraçar definitivamente o estilo.
“Nunca me coloquei como defensora de bandeira de religião nenhuma, apesar de ser adepta da religião de matriz africana. Sou mesmo macumbeira e com orgulho”, ela responde, na lata, em entrevista ao UOL. “Mas isso não interessa a ninguém. Minha religião é a música”.
Rita
O Roberto [Carlos] tem uma ligação com a Igreja Católica, mas você tem fé pela sua mãe, no seu amor, na vida, na natureza, na resistência. É uma condição humana, de positividade de pensamento
Numa jornada em que busca os significados além dos dogmas religiosos, ela lança “Encanto”, seu sexto álbum –o primeiro após 11 anos da turnê de “Tecnomacumba” e com o novo nome. Ela já foi Rita Ribeiro e conquistou fãs e prestígio com esse nome até 2012, quando revelou a mudança. As razões são várias. Há uma reverência ao preto velho Pai Benedito d'Angola, ao próprio pai, que carregava o nome, e um encanto pela dualidade entre masculino e feminino.
Rebatizada, ela troca o eletrônico pelo rock. Logo de cara, a balada “Guerreiro do Mar/Cavaleiro de Fibra” traz o alcance característico de sua voz e uma bateria forte. “Apesar de eu não ser uma cantora de rock, minha atitude é de transgressão. É um gênero universal, que te dá milhões de possibilidades sonoras. Quis, nesse disco, fazer um desdobramento do 'Tecnomacumba'. É quase o renascimento.”
Destaque no álbum, a regravação de “Fé” --canção de Roberto Carlos lançada em 1978 na qual o Rei revelava sua devoção-- também vem no estilo básico com baixo, guitarra, bateria. E também gaita, para aguçar o estilo “on the road” da faixa. Supersticioso, o Rei demorou para aprovar a nova versão da música, mas liberou sem nenhuma restrição. “Acho que ele ouviu esse rock e pensou: 'Não tem como negar'. Ele também foi transgressor.”
Rita Beneditto
Nunca me coloquei como defensora de bandeira de religião nenhuma, apesar de ser adepta da religião de matriz africana. Sou mesmo macumbeira e com orgulho
“Fé” é um dos melhores rocks do disco, mas também alça Rita para um novo patamar. Para fugir de qualquer rótulo, ela se revela “ecumênica”, musicalmente falando. “O Roberto tem uma ligação com a Igreja Católica, mas você tem fé pela sua mãe, no seu amor, na vida, na natureza, na resistência. É uma condição humana, de positividade de pensamento”, observa.
Movimento semelhante surge na faixa seguinte, versão de “Extra”, de Gilberto Gil, um reggae com instrumental da banda Reggae B, projeto paralelo de Bi Ribeiro, baixista do Paralamas do Sucesso, com trecho de um salmo, lido pelo jamaicano Priest Tiger.
Em “De Mina”, um relato dos rituais dos negros no Maranhão, Frejat faz participação com um solo de guitarra. Há também uma mensagem, desta vez do babalorixá Oboromin T’Ogunjá.
“Encanto”, no entanto, ainda é um manifesto de brasilidade. “É uma intervenção cultural. A gente sofre hoje, como já sofremos antes, a questão do fundamentalismo religioso, que insiste em bloquear as manifestações populares brasileiras. Ninguém pode fechar os olhos pra isso. Se continuarmos a não considerar a religiosidade africana como religião, não respeitar a cultura africana na formação do povo brasileiro, vamos apagar nossa memória”, defende.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.