Racionais encena assalto a caixa-forte na estreia do show "Cores & Valores"
Diante de um cenário caprichado que parece reproduzir a sede de uma transportadora de valores, com muros altos, guaritas, rolos de arame farpado e grandes cifrões dourados nos portões, o Racionais MC’s fez o show de lançamento do disco "Cores & Valores", na madrugada deste sábado (20), tomando de assalto o público que encheu o Espaço das Américas, em São Paulo.
O grupo, principal representante do rap nacional, com 25 anos de carreira, não tinha uma tarefa fácil. Doze anos após ter lançado o grandioso e emblemático “Nada Como um Dia Após o Outro Dia”, ressurgiu no final de novembro com o último trabalho, curto e enigmático, que dividiu as opiniões entre os fãs.
No Espaço das Américas, a expectativa era grande. Todos queriam saber como seria a apresentação, se o set traria músicas antigas e se os Racionais ainda eram os mesmos. E tiveram que esperar, e bastante, para saber.
Anunciado como uma “festa de lançamento”, o show estava marcado para as 22h. Mas, pouco depois desse horário, quem subiu ao palco foi o grupo paulistano Obstinados, que não fez feio durante a sua curta apresentação de quase meia hora.
A festa continuou com DJs tocando clássicos do rap nacional, como os grupos SNJ e RZO, além do cantor Sabotage, entre outros. Pouco depois das 23h, quem apareceu no palco foi o rapper Dexter, que foi ovacionado pela plateia. Ex-integrante do 509-E, criado junto com o rapper Afro-X dentro da prisão onde os dois cumpriam pena –o nome era referência ao número da cela—, o rapper também fez um show curto, de cerca de meia-hora, com destaque para “Oitavo Anjo”, que foi cantada em coro.
Encerrado o show de Dexter, houve mais um tempo de espera, com discotecagem. E por volta de meia-noite foi anunciada mais uma atração que antecederia o Racionais: Negra Li. Revelada pelo grupo RZO, a cantora esteve transitando por outros estilos nos últimos anos, como a MPB e o soul. Houve gente que torceu o nariz ao vê-la no palco, acompanhada de DJ e algumas backing vocals.
Mas Negra Li conquistou a plateia ao mostrar um excelente show de hip-hop, com batidas, rimas e letras fortes, sem deixar a sensualidade de lado. Houve até espaço para um trecho de “Doo-Wop (That Thing)”, de Lauryn Hill e músicas do RZO. Ela ainda homenageou a rapper Dina Di, do grupo Visão de Rua, que morreu em 2010 após complicações no parto. Ao terminar de cantar a clássica “Amor e Ódio”, do Visão, Li até chorou de emoção. Outro falecido homenageado foi Sabotage. “Rap É Compromisso”, foi acompanhada aos berros por um público empolgado.
Antes de deixar o palco, muito aplaudida, Negra Li ainda estourou uma garrafa de champanhe, agradeceu o Racionais e frisou para a plateia que ela é e sempre será uma cantora de rap.
Roubo encenado
Negra Li deixou o palco pouco antes da 1h. O público dava sinais de cansaço. Já se via até pessoas cochilando, sentadas no chão. Mas o Racionais MC’s ainda fez os fãs esperarem mais um pouquinho. Por volta da 1h30, abriram-se então as cortinas negras que escondiam o cenário do show. Uma voz disse: “Isso é uma obra ficção. Qualquer semelhança com a realidade é uma mera coincidência”. E houve uma breve encenação, simulando um roubo à transportadora de valores representada no palco –entrava em cena a figura do ladrão, quase sempre presente na obra do grupo, citada em diversas de suas músicas.
E Mano Brown, Edi Rock e Ice Blue surgiram pelos portões da caixa-forte, acompanhados por backing vocals, dançarinos mascarados com roupas de bufões e os personagens mostrados na capa de “Cores & Valores” –quatro assaltantes com uniformes de gari, um deles com o rosto coberto por uma máscara de palhaço, e os outros com máscaras de hockey (aquela usada pelo assassino Jason, na série de filmes “Sexta-Feira 13”). O DJ KL-Jay comandava as batidas de cima, de dentro da “guarita” que fazia parte do cenário. Outro destaque da “formação da quadrilha” era o MC Helião, do RZO, que participa do disco e permaneceu no palco o show inteiro.
Durante pouco mais de meia hora, o grupo tocou quase todas as curtas faixas do novo disco. A escolhida para abrir o show foi “Preto Zica”, seguida por “Cores & Valores/ Somos o que Somos”. O som estava bem alto e, em alguns momentos, ficava meio embolado. Ao longo do show, este problema foi sendo superado, mas faixas potentes do disco, principalmente as cantadas por Edi Rock, foram prejudicadas. Em “A Escolha que Eu Fiz”, “A Praça” e “O Mau e o Bem”, tocadas em sequência, como na ordem do álbum, quase não se ouvia o vocal.
Brown voltou a assumir a posição de “front man” em seguida, com a voz muito mais nítida do que a do parceiro. Dando continuidade à ordem do disco, cantou “Você me Deve”, “Quanto Vale o Show”, “Coração Barrabaz” e “Eu te Proponho”. Estava terminado set do álbum novo, com todas as músicas bem recebidas pelo público –mesmo as que sofreram defeitos técnicos.
Havia chegado então o momento de tocar os clássicos. Aí, sim, o show pegou fogo. Logo após os últimos versos de “Eu te Proponho”, Brown já emendou “Vida Loka”, cantada em coro pela plateia. Na sequência, veio “Eu Sou 157” e “Negro Drama”, todas hinos do álbum “Nada como um Dia...” .
Ice-Blue e Helião ainda mostraram “Triplex”, música que fizeram em parceria, antes da grande surpresa da noite: “Homem na Estrada”, um dos maiores hits da carreira do grupo, que marcou a geração de rappers dos anos 1990. Mas a música não foi cantada inteira. Foi interrompida na metade, após o verso “E a vida desse homem para sempre foi danificada”.
Nesse momento, Brown fez uma breve despedida do público, e eles deixaram o palco, que ficou apenas com um dos dançarinos mascarados, vestido de bufão. Pouco tempo passou, e o Racionais voltou para o bis, encerrando o show com “Vida Loka – Parte 2” e estouro de garrafas de champanhe. Eram 2h40 da manhã.
Com exceção dos problemas técnicos, o grupo mostrou uma apresentação grandiosa. Mas ficou claro que dificilmente as músicas de “Cores & Valores” um dia chegarão a ser cantadas com tanta empolgação quanto os sucessos antigos.
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