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Ao contrário da Sony, Madonna usa vazamento para chegar ao topo das paradas

James Cimino

Do UOL, em São Paulo

22/12/2014 08h31

Enquanto a Sony tem um prejuízo estimado em US$ 90 milhões com o ataque hacker que sofreu e a decisão consecutiva de não lançar o filme "A Entrevista" após ameaças terroristas, a cantora Madonna, que também protagonizou um caso de vazamento de 13 versões demo das canções de futuro álbum "Rebel Heart", aproveitou o caso para faturar.

Desde sábado (20), quando em resposta ao vazamento resolveu lançar as versões acabadas de seis das canções vazadas, as pré-vendas de seu álbum, que só será oficialmente lançado em 10 de março, chegaram ao topo da parada do iTunes em 40 países.

As seis músicas lançadas também se alternam em posições consecutivas na mesma parada em número de downloads, com destaque para o single "Living for Love", que rapidamente chegou ao topo em países como EUA, Brasil, Argentina, França, Itália, México, Rússia e Japão logo após seu lançamento.

Também esteve entre os assuntos mais comentados do Twitter na noite de sábado quando duas músicas do novo disco, “Living For Love” e “Bitch, I’m Madonna” ficaram consecutivamente entre o top 3.

Com o burburinho, fãs da cantora fizeram selfies com fios elétricos enrolados no rosto imitando a arte da capa do disco (uma dessas montagens, apenas com fãs brasileiros e um cachorro, foi repostada pela própria Madonna em sua conta no Instagram e no Facebook). E neste domingo, a popstar já começou a rodada de entrevistas de divulgação do material, falando com a revista especializada em música "Billboard" e com o jornal britânico "The Guardian".

Na conversa com a Billboard, ela nega que o vazamento de suas músicas inacabadas tenha sido uma estratégia de marketing, conta como funciona o processo de gravação e que cuidados sua equipe toma para que nada saia do controle. Agora, com o vazamento, a metódica Madonna teve de, em suas palavras, "pensar fora da caixa" e lançará o material em três etapas, sendo a última delas o lançamento oficial em 10 de março.

"Eu queria planejar tudo com antecedência. Soltar o single, gravar o vídeo, começar a falar sobre o meu disco. E você sabe, me preparar para o lançamento do álbum inteiro. Quero dizer, esse é o tipo de pessoa que eu sou. Acho que essa é a melhor maneira de fazê-lo. Mas nós ficamos sem escolha."

Já no "Guardian", Madonna além de reforçar a ideia de que o vazamento não foi marketing ("Não peguei minha música e disse 'tá pronta, pega aqui'. Foi roubo."), conta porque a música "Illuminati" é uma resposta às teorias conspiratórias de que astros da música e líderes mundiais fariam parte de um movimento destinado a dominar o mundo através do mal. Também conta que seus filhos são seus consultores musicais.

"Há um monte de boatos na música pop que dizem, 'oh, esta pessoa é um membro do Illuminati' e a ideia das pessoas de que há um grupo de artistas ou pessoas muito ricas que trabalham nos bastidores controlando as coisas. Tudo isso é narrado de forma sombria e associado à magia negra, ou algo parecido. Eu tenho que rir de todas essas coisas. Eu sei quem são os verdadeiros Illuminati e de onde essa palavra veio. A raiz da palavra é "iluminar" e veio da época do Iluminismo, quando artes e a criatividade floresceram, de Shakespeare a Isaac Newton, de Leonardo Da Vinci a Michelangelo, os filósofos, artistas, cientistas estavam todos envolvidos em uma espécie de alto nível de consciência através de seu trabalho, e eles estavam esclarecendo coisas e sendo inspiradoras em todo o mundo. E esses são o verdadeiro Illuminati. Assim, o propósito de escrever essa canção era realmente dizer: 'Então, você acha que eu sou um Illuminati? Muito obrigado, é um elogio, porque eu gostaria muito de fazer parte desse grupo, os reais Illuminati, mas este não é o caso."

Madonna também afirmou que seus filhos atuam como seus conselheiros artísticos, ajudando-a a tomar decisões sobre os produtores com quem trabalhou em "Rebel Heart", entre eles Kanye West e EDM, além de DJscomo Avicii e Diplo.

"Eu certamente não vou a boates o todo o tempo, mas os meus filhos vão. Minha filha e meu filho constantemente tocam coisas em casa, no carro, e eu fico: 'Quem é esse? Quem é aquele? Quem fez isso?' Eles me trazem coisas o tempo todo. E eu ouço música. É uma combinação. Consigo me cercar de pessoas que apresentam coisas para mim, me mantêm em contato, em sintonia. Eu me sinto muito mais ligada à cultura de rua, pop e underground, do que já estive antes."

Leia os melhores trechos da entrevista da "Billboard".

Como você está?

Eu estou bem. Não durmo há uma semana, mas eu estou bem.

Você está bem agora?

Sim. Quero dizer, você sabe, eu não estou feliz que demos inéditas estejam lá fora, para as pessoas para ouvirem, julgarem etc etc. Uma vez que isso aconteceu, nos antecipamos: 1- tentando descobrir onde os vazamentos estavam vindo; 2- tentando estacar o vazamento lançando as músicas e acabadas e tirando o foco do público das inacabadas, que nunca foram feitas para serem ouvidas. Isso me levou à insônia.


Rebel Heart

  • Reprodução/Instagram madonna

    Bem, esta é a nossa forma de estancar o dano. Nós tivemos que pensar fora da caixa. Eu não pretendia exibir minhas gravações dessa forma. Eu queria planejar tudo com antecedência. Soltar o single, gravar o vídeo, começar a falar sobre o meu disco. Mas nós meio que ficamos sem escolha.

    Madonna, sobre o porquê de ter antecipado o lançamento de seus faixas de seu novo álbum
Você disse "Bitch, I´m Madonna" [nome de um das novas músicas com parceria de Nicki Minaj] durante o processo?

Não. Eu disse: "Merda, esta é a era em que estamos vivendo." É uma loucura. Quero dizer, olhe para o que está acontecendo com a Sony Pictures. É apenas a era em que estamos vivendo. São tempos loucos. A Internet é tão construtiva e útil em unir as pessoas como é em fazer coisas perigosas e em ferir as pessoas. É uma faca de dois gumes.

Desde que você disse que as demos foram roubadas, o que mudou? Como você está operando o seu dia-a-dia? Considerando que tudo é tão virtual, mudou o seu dia-a-dia com a gravação do álbum e fazer música?

Bem, nós não colocamos mais as coisas em servidores. Todo o trabalho, se trabalhamos em computadores, não está em wi-fi, não estamos na internet, nós não trabalhamos de uma forma que qualquer pessoa pode acessar as informações. Os discos rígidos de música são para as pessoas transportarem à mão. Não deixamos a música por aí. Nós temos sessões de fotos ou de gravações de vídeo, e todas as pessoas têm de deixar o seu telefone na porta. Quero dizer, infelizmente, é uma porcaria, mas essa é a maneira que é.

Que saco!

É! Porque eu quero ir para sessões de fotos e tocar a minha música alta e dançar com ela e celebrá-la, e eu não posso.

Você é tão meticulosa sobre planejar as coisas com meses de antecedência. E agora o processo foi todo alterado. Você pensou: "Tudo bem! Vamos começar a promover o single agora!"

Bem, esta é a nossa forma de estancar o dano. Nós tivemos que pensar fora da caixa. Eu não pretendia exibir minhas gravações dessa forma. Eu queria planejar tudo com antecedência. Soltar o single, gravar o vídeo, começar a falar sobre o meu disco. E me prepararei para o lançamento do álbum inteiro e ter tudo configurado exatamente assim. Quero dizer, esse é o tipo de pessoa que eu sou. Acho que essa é a melhor maneira de fazê-lo. Mas nós meio ficamos sem escolha.

Mas ainda vai ser um vídeo da música?

Claro! Vou fazer todas essas coisas que eu planejava fazer. É só que, você sabe, as pessoas estão agora ouvindo seis músicas acabadas.

Você foi capaz de fazer dos limões uma limonada...

Sim. Esse é o clichê estúpido que eu e (seu empresário) Guy Oseary temos usado. Meio que funcionou...

Você pensou em liberar essas seis canções como um EP e depois fazer outra EP mais tarde? Ou você quer ter certeza de que todas as músicas ficassem juntas, como um álbum inteiro?

Originalmente eu queria colocar tudo em conjunto. Eu tenho uma superabundância de músicas, e, na verdade, a razão pela qual eu queria chamar o registro de "Rebel Heart" foi porque eu senti que explorou dois lados muito diferentes da minha personalidade. O lado rebelde renegado de mim, e o lado romântico de mim. Em minha mente, era quase como se eu quisesse fazer um conjunto dos dois registros. Esse era o meu objetivo original. Mas, em seguida, todas as demos vazaram e eu realmente não posso ir por esse caminho mais, por isso eu coloquei para fora essas seis músicas em primeiro lugar. Eu acho que um pouco mais de músicas vão sair durante a temporada dos Grammys. Em seguida, o resto do álbum só vai sair completo em março, e aí o público conhecerá meu lado rebelde e meu lado romântico misturado.

Você menciona o Grammy Awards ... Eu já estou imaginando você nos Grammy Awards cantando "Living For Love"...

Sim, isso seria maravilhoso. Isso é, possivelmente, algo que vai acontecer. (Risos).

Possivelmente?

Sim. Possivelmente.

O Diplo disse que "Living For Love" teve 20 versões, isso é verdade?

Uhm... (longa pausa). Vinte soa alto demais. Mas definitivamente mais de 10. Um monte de versões diferentes. Nós sabíamos que queríamos fazer um álbum dance. Mas você sabe, há muitos níveis diferentes de música dance e até mesmo diferentes categorias de house music. Então, foi realmente gosto. Qual é a linha de baixo? Será que vai ser realmente despojado e esparso, ou vai ser carregado? Será que vai ser tipo Chicago? Será que vai ser tipo Reino Unido? Será que vai ter um pouco de uma linha vocal? Será que vai ser um coral inteiro cantando? Por isso, fomos experimentar e tentar coisas diferentes. Todos elas soaram bem, mas no final do dia nós queríamos que soasse atemporal também. Não apenas algo do momento.

Tem que equilíbrio certo da soul music com a house music...

É um velho eu e o novo eu se misturando.