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Feminista e mais "bem vestida", Valesca Popozuda foi a diva pop de 2014

Tiago Dias

Do UOL, em São Paulo

22/12/2014 07h00

Como as redes sociais nos ensinaram, os odiadores vão odiar. Mas, goste-se ou não, há exatamente um ano, Valesca Popozuda mandou beijinho no ombro ao recalque para se tornar o ícone pop brasileiro de 2014.

Sem disco e uma produção musical consistente, a “diva que você quer copiar” hoje está nos programas de TV, como o de Fátima Bernardes, e em eventos luxuosos e elitistas, como o baile de máscaras da Vogue. “Essa aceitação veio de forma natural. Eu não busquei nada que me aconteceu”, ela minimiza.

As conquistas, no entanto  certamente soariam como o topo do Everest para a então menina do bairro do Irajá, no subúrbio do Rio de Janeiro. Antes de ser um exemplo fashion e uma cantora pop, ela foi frentista e ganhou fama por ser a fogosa integrante da Gaiola das Popozudas, a passista do Carnaval com o bumbum siliconado pintado com os dizeres “buraco quente” e intérprete de versos lascivos, como “Pega no meu g**** e mama / Me chama de p****** na cama / Minha x*** quer gozar / Quero dar / Quero te dar”.

Valesca sobre feminismo

  • Jorge Bispo/Divulgação

    "Eu sou feminista. Hoje em dia está mais fácil ser feminista. Outras mulheres passaram a se impor mais e estamos mais unidas. Eu procuro colaborar sempre que posso e gostaria de ser mais ativa. O pop é muito forte [para abrigar a discussão sobre feminismo] e dessa forma atinge um número maior de pessoas. É um assunto que não tem como fugir"

    Valesca Popozuda

Em entrevista ao UOL por e-mail – exigência da cantora, que se recupera de uma cirurgia emergencial para retirada de um cálculo renal --, ela “culpa” apenas seu stylist, que passou a lhe acompanhar em 2012. “Eu só passei a me vestir melhor”, observa. “Nos meus shows, continuo cantando o mesmo que cantava antes, continuo falando de sexo abertamente, levando assim a liberdade sexual da mulher. Essa Valesca continua a mesma, porém, comercialmente falando, teve uma mudança sim”.

Em busca dessa nova persona, mais digerível e midiática, ela recentemente assinou contrato com a ex-empresária de Anitta, Kamila Fialho, em busca do que chama de “maturidade profissional”. Há, internamente, a necessidade de deixar Valesca mais vendável na publicidade. Segundo o UOL apurou, hoje, a cantora ganha cerca de R$ 250 mil mensais, apenas com os shows. Os lucros com publicidade ainda não decolaram –em parte pela fama de outrora. Oficialmente, a cantora e sua equipe não comentam o valor e as motivações dos contratos.

“Eu sou feminista”
Em 2014, Valesca também esteve nas provas de filosofia e nas discussões sobre o machismo. “Eu sou feminista”, responde sem titubear. “Hoje em dia está mais fácil ser feminista. Outras mulheres passaram a se impor mais e estamos mais unidas. Eu procuro colaborar sempre que posso e gostaria de ser mais ativa. O pop é muito forte [para abrigar a discussão sobre feminismo] e dessa forma se atinge um número maior de pessoas. É um assunto que não tem como fugir”.

Com a mesma dedicação, ela se defende de quem enxerga um incentivo à competição entre as mulheres nas letras de sucessos como “Beijinho no Ombro” e “Eu Sou a Diva que Você Quer Copiar”. “Isso é uma bobagem. O normal mesmo é essa disputa que existe no mundo feminino, que nós mesmas criamos. Quantas vezes nós nos arrumamos pra uma festa já imaginando como a outra ‘amiga’ vai? Isso é comum do ser humano, essa disputa de poder“.

Valesca na Gaiola das Popopzudas em 2008 - Divulgação - Divulgação
Valesca na Gaiola das Popopzudas em 2008. Foco é desassociar a imagem da funkeira dos primeiros anos
Imagem: Divulgação

Na sua visão, os hits são pequenas pílulas de autoajuda para mulheres. “O que eu quero dizer em ‘Beijinho no Ombro’ é que a inveja não tem vez e com ‘Eu Sou a Diva que Você Quer Copiar’ é que qualquer mulher pode ser diva. Basta ela querer”.

Feminista sim, mas ela mesma pondera, aos risos: “estou longe de ser uma grande pensadora”. Valesca prefere não comentar a polêmica envolvendo Anitta e Pitty, recentemente, no “Altas Horas”, quando a primeira defendeu que as mulheres provocam os homens a pensar mal delas: “Eu não assisti ao programa, então não posso opinar, mas eu sou do seguinte discurso: o que os homens podem nós também podemos”.

Após posar nua segurando um bastão para a campanha “Não Mereço ser Estuprada”, no começo do ano, Valesca não quer perder tempo com o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ). “Acho esse senhor totalmente equivocado em relação a todas as polêmicas que já vi dele”. Na política, mesmo sendo fã de Lula desde os tempos em que posou nua na "Playboy", ela abriu seu voto: foi de Luciana Genro, candidata pelo Psol.

No posto de destaque pop, ela diz que não sente mais preconceito na rua. “Hoje em dia, graças a Deus, não mais, mas já senti por ser mulher, favelada e pobre, né?”. Preparando o primeiro DVD ao vivo da carreira –carro chefe para 2015--, ela é citada, no material de divulgação de seu show, como a “a voz da mulher da favela, da classe média e do condomínio de luxo”. Em qual dessas fases ela está hoje e em qual quer chegar?  “Eu estou em todas as fases, sem tirar nem por. Aonde eu quero chegar? Aguarde e verás”, promete.