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Aos 46 anos, filho de Roberto Carlos planeja lançar 1º disco

Dudu Braga, baterista da banda RC na Veia - Leonardo Rodrigues
Dudu Braga, baterista da banda RC na Veia Imagem: Leonardo Rodrigues

Leonardo Rodrigues

Do UOL, em Ilhabela (SP)

11/02/2015 06h00

Dudu Braga, 46 anos, tem o peso do mundo sobre as costas. Mas nem liga para isso. Há décadas longe dos holofotes, o filho do cantor Roberto Carlos está perto de lançar o primeiro disco da carreira. Cego desde 1994, após sofrer um descolamento de retina decorrente de glaucoma congênito, Roberto Carlos II, ou “Segundinho”, é desde o ano passado o baterista e produtor da banda tributo RC na Veia.

Na semana passada, sob os olhares do pai na plateia, ele fez a primeira participação no cruzeiro anual de Roberto Carlos, tocando o repertório roqueiro do mais popular cantor romântico do Brasil. Com a carreira aos cuidados de Dody Sirena, empresário de Roberto, ele já planeja entrar em estúdio em breve para registrar as releituras.

Sorriso largo no rosto, Dudu sabe da responsabilidade que o DNA lhe impõe. E para driblar as comparações, inevitáveis, recorre a um bom humor marcante. Uma característica que, segundo ele, sempre fez parte de sua personalidade.

Publicitário de formação e ex-surfista, o filho da primeira mulher de Roberto Carlos, Nice Rossi, é conhecido também pelas palestras que ministra para deficientes visuais no Brasil. Foi em uma delas, em 2013, meio no improviso, que a brincadeira de tocar bateria acabou dando início a uma nova e surpreendente fase de sua vida.

O UOL conversou com o Dudu no cruzeiro "Emoções em Alto-Mar", de Roberto Carlos, a quem ele se refere carinhosamente como “paizão”. Veja abaixo os principais trechos da entrevista.

UOL - Como é começar uma carreira aos 46, sendo filho de quem você é?

Dudu Braga - É complicado ser filho do Roberto Carlos, né? Mas é muito bom também. Meu pai é um cara maravilhoso. A gente tem que aprender a conviver com isso na música. A referência dele é muito alta. O perfeccionismo que ele tem. É conhecido muito pela afinação, interpretação. São duas coisas às vezes difíceis de convergir. E o “paizão” tem as duas coisas. Ele é a perfeição total. E eu também não posso negar que sou meio perfeccionista, e graças a Deus tenho um bom ouvido. Procuro isso também.

Quando começou a tocar?

Eu sempre toquei bateria, desde a infância, aos 9 anos. Comecei no Clam, uma escola de música em São Paulo, tocando com o pessoal do Zimbo Trio. Fiquei um tempo sem tocar porque meus pais se separaram e eu fui morar em apartamento.  Mas voltei a tocar anos depois, em 95. Toco há mais de 30. Na adolescência, fui surfista, por dez anos, de 82 a 92, quando comecei a perder a visão. Achava que seria profissional, mas era só ilusão.

Mas por que você decidiu voltar a tocar?

Eu já fui vendedor de carros,  comerciante. Aí montei uma gravadora. Comecei a trabalhar com os Meninos do Morumbi [ONG paulistana], com o Flavinho Pimenta, mentor de todo o projeto. E aí a música foi vindo. Demorou, mas aconteceu de maneira natural. Tive bandas de clássicos do rock, que é o estilo musical que mais gosto. O rock e o soul.

Como tenho uma palestra, que se chama “É Preciso Saber Viver”, que fala de motivação, superação e a inclusão da pessoa com deficiência, pensei :“Poxa, por que eu não trago a minha banda para tocar aqui no final?”. Aí a gente começou fazendo versões do “paizão”. E, sem querer advogar em causa própria, as versões eram boas. Daí decidimos fazer um show inteiro, sem a palestra, com a mesma formação.

Pensa em gravar um disco?

A gente tem a ideia, sim. Graças a Deus na minha vida as coisas sempre acontecem de um jeito muito natural. Nunca quis forçar nada. E estamos felizes tocando. Estamos vendo bandas aparecendo, como a banda Malta, fazendo sucesso com rock, além dos vários 'revivals' de Beatles. São coisas que a gente adora fazer. É muito legal, estou adorando.

Como foi tocar pela primeira vez no cruzeiro, nesse universo 100% Roberto Carlos?

Foi muito tenso porque eu sabia que o papai iria vir. Sabia que o Eduardo Lages [maestro e líder da banda de Roberto Carlos] estaria na plateia com os outros músicos. Foi uma tensão muito grande. Tocamos a primeira e, depois que tocamos a segunda e veio aquele aplauso, pensei “Ah! Acho que vai dar para se divertir”. Aí relaxei e toquei com o coração. O pessoal gosta. O papai canta mais as românticas, mas o público tem vontade de ouvir “Eu Sou Terrível”, “O Calhambeque”. Aquele repertório bem “rock'n'rollzão”.

Dudu Braga

  • Papai é cantor. Um cantor perfeito. Eu me considero, sem falsa humildade, um baterista competente. Faço o serviço direito. Se eu não fosse, não toparia fazer

    Duda Braga, baterista e filho de Roberto Carlos

Que tipo de dica o Roberto lhe dá?

A gente conversa bastante sobre música. E ele mesmo pergunta, de vez em quando, o que eu achei disso ou aquilo. E eu ouço muito o que ele diz. A experiência dele é imbatível. Ontem mesmo falou: “Nessa música aqui, três pontinhos no andamento e um pouquinho mais pra trás”. Anotei. Porque, não tem jeito, baterista gosta de acelerar, né?

Qual é a principal diferença em relação a ele?

É o cabelo (risos). Antes fosse só o cabelo. Papai é cantor. Um cantor perfeito. Eu me considero, sem falsa humildade, um baterista competente. Faço o serviço direito. Se eu não fosse, não toparia fazer.

O Dody, empresário do Roberto, já te chamou de “novo Paulo Ricardo”

É, o pessoal brinca comigo. Porque eu cantei em uma parte de uma música da Roberta Miranda, “Quando”, e eu cantei meio rouco, mais como rock'n'roll. E o pessoal falou que não sou mais o filho do Roberto Carlos, mas o filho do Paulo Ricardo. Preciso até ligar pro Paulo para falar isso para ele. Mas eu canto direito, sim (risos). Mas confesso que onde eu me realizo é atrás dos tambores.

Você desenvolveu alguma técnica por ser cego?

Não. Mas tenho que sentar com a posição que coloco minha bateria em casa. Muitas vezes a gente está assistindo a algum show, e o pessoal fala: “Dudu, vem dar uma canja!”. Eu respondo “Ah, meu Deus do céu!” (risos). Até localizar tudo, você já deu  25 mil “aros”.  Quando alguém me chama para dar uma canja, vou só na caixa, no bumbo e no chimbal. Um pratinho aqui e outro ali. Mas a gente se vira.

Além do RC, quais são suas referências musicais?

Led Zeppelin. É minha banda de cabeceira. O John Bonham, o batera do Led, para mim, é o cara. Não tem o que falar. Gosto muito também de Police, dos Paralamas. Não adianta. Baterista ouve aquelas bandas em que a batera vem explícita mesmo. Mas eu ouço de tudo. De forró a sertanejo. Acho que com todo tipo de música a gente aprende.

Você já fez alguma música com o Roberto?

Não. Mas fiz uma participação “micro” na música “Cama e Mesa”, de 1981. No auge dos meus 12 anos, quando eu entendia tudo de relacionamento de homem e mulher (risos). Ele estava compondo um dia, sem o Erasmo, e eu estava passando o fim de semana com ele no Rio, com um amigo meu. Ele me chamou e pediu para ajudar. Ficamos até 5 da manhã. A parte do “Todo homem que sabe o que quer. Sabe dar e querer da mulher” não vinha. E eu sugeri esse trecho. Mas acho que ele me induziu para ficar do jeito que queria (risos).

Você deveria fazer uma música com o seu pai para esse seu primeiro disco.

Vamos ver, né? Se ele me der a honra e vier a inspiração. Porque a inspiração tem que vir dele. Ele é o compositor. Eu só faço aquele pedacinho (risos).