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"Hoje o sertanejo é roqueiro", afirma o cantor Eduardo Costa

Leonardo e Eduardo Costa lançaram DVD em parceria com regravações de clássicos dos anos 80 e 90 - Felipe Caldo/UOL
Leonardo e Eduardo Costa lançaram DVD em parceria com regravações de clássicos dos anos 80 e 90 Imagem: Felipe Caldo/UOL

André Cáceres

Do UOL, em São Paulo

06/03/2015 15h56

Numa época em que o sertanejo domina as paradas nacionais, quando dois dos maiores nomes do gênero se reúnem para gravar clássicos, o sucesso é certo. A parceria entre Leonardo e Eduardo Costa rendeu o DVD “Cabaré”, repleto de faixas que habitam até hoje o cancioneiro popular.

Entre as regravações, “Boate Azul”, “Garçom”, “Ainda Ontem Chorei de Saudade”, “Borbulhas de Amor” e “Fio de Cabelo” ganham novo verniz, que transporta o espectador a um verdadeiro cabaré, com direito a bailarinas, figurinos impecáveis e produção de primeira.

“A aparência foi inspirada no Moulin Rouge, para ter uma imagem legal, mas ele foi inspirado nos cabarés daqui, com as mulheres daqui”, conta Eduardo Costa, ao passo que o brincalhão Leonardo jura nunca ter ido a um estabelecimento deste tipo.

Além das músicas interpretadas, os dois cantores pincelam o show com diálogos engraçados. “Minha preocupação é improvisar as piadas. No DVD foi tudo improvisado, mas nas apresentações ao vivo, nós não vamos repetir”, conta Leonardo, que já era amigo de Eduardo Costa antes de oficializar a parceria.

“Não foi ideia de ninguém. Eu e o Leonardo ficávamos cantando juntos em casa, e as pessoas falavam que a gente tinha que gravar junto”, afirmou Eduardo. “Não pensamos em dinheiro nem sucesso. Gravamos o DVD com a intenção de dar para os amigos”, acrescenta.

“A partir do momento em que foi lançado, apareceu muita gente com o DVD. Até pessoas famosas como o Anderson Silva e Milionário e José Rico. De repente, começou a estourar na boca do povo”, lembra Leonardo. Os dois mostravam entrosamento até para complementar a resposta do outro.

Os cantores lembraram com carinho de José Rico, que faleceu recentemente. “Ele foi o cara que mais cantou bonito nesse mundo da música sertaneja”, disse Leonardo, enquanto Eduardo completou: “Ele foi inovador, porque além de fazer todos esses ritmos, ele buscou ritmos no México, os metais, as guarânias. Hoje parece comum, mas imagina na época, entrando com violão e trompete, era muito moderno”.

O panorama atual da música brasileira vem favorecendo muito o sertanejo, e Eduardo Costa acredita que a chave para essa invasão às rádios é o ecletismo do gênero.

“A música sertaneja começou a abranger todos os ritmos. Hoje o sertanejo é roqueiro. Você escuta uma levada de sertanejo e vai se lembrar do rock na hora, o sertanejo faz isso com autoridade. O rock é só rock, o samba é só samba, já o sertanejo tem a oportunidade de brincar com todos os ritmos. O sertanejo virou pop rock. Se você pegar o Jota Quest e pegar uma dupla sertaneja, é a mesma pegada de guitarra, baixo, bateria”, analisa o artista.

Leonardo comentou também que o estilo dominou regiões que antes não alcançava. “A música sertaneja está muito legal. Tomou um espaço realmente. Em São Paulo, Goiás, Mato Grosso, Paraná, sempre tocou. Mas agora se você vai para Salvador, está no trio elétrico do Carnaval. Realmente tomou conta”, opina.

Entre os gêneros que o sertanejo absorveu para criar a música híbrida que faz sucesso hoje, Eduardo Costa lista vários ritmos. “Buscou influência do nordeste, das bandas de forró moderno como Aviões, Garota Safada. Um pouco do pop rock do Jota Quest, Skank, Pato Fu. Foi para o interior e pegou aquele sertanejão gostoso que só Goiás faz. O samba do Rio de Janeiro, o samba de roda e o samba paulista como Demônios da Garoa. Foi pegando tudo isso e fazendo uma mistura”, explicou o cantor.

“Misturou também com Luiz Gonzaga, com o pagode, com polca, com guarânia”, completou Leonardo.

Apesar de ser um artista solo, Eduardo Costa disse não ter enfrentado dificuldades em se adaptar a esse novo projeto. “Eu tive dupla sertaneja e sempre ouvi duplas. Sempre fiz segunda voz quando cantava em rodas. Sempre quis fazer segunda, pois a primeira eu sempre canto em todo lugar que eu vou”, contou, antes de ser interrompido por Leonardo: “e canta muito bem”.

“Junto com o Leonardo, melhor, porque eu e ele temos uma linha musical parecida, gostamos das mesmas coisas, e temos muita irmandade também”, prosseguiu Eduardo Costa. “Sempre me inspirei demais nele cantando e a minha voz lembrava muito a dele”, concluiu. “O resultado foi esse DVD, que está muito bom”, comemorou Leonardo, que brincou ao final com a forma física do parceiro: “Quero ficar forte também, mas não quero malhar”.