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Decifrando a ascensão e queda do Smashing Pumpkins, de A a Z

Alexandre Matias

Do UOL, em São Paulo

26/03/2015 06h00

O Smashing Pumpkins já foi considerado uma das maiores bandas de rock do mundo. Hoje, no entanto, o grupo soa como uma caricatura distorcida de algo que nunca foi, movida pelo delírio terminal de um músico megalomaníaco, seu líder Billy Corgan.

A banda, que toca na edição do Lollapalloza Brasil deste ano, só tem a sombra da importância que teve no início dos anos 1990, quando rivalizou com o Nirvana pelo posto de maior banda do rock alternativo, em alta na época. Com o suicídio de Kurt Cobain, o Pumpkins perdeu os parâmetros de grandeza, e Billy Corgan entrou num delírio obsessivo em torno de sua própria sensibilidade e acabou enterrando a banda de vez no ano 2000, para recriá-la em 2007 numa versão completamente disfuncional.

Hoje, o timbre anasalado do vocal de Corgan e suas guitarras retumbantes seguem intactos, mas suas canções perderam a inocência e a pureza, e a banda já não tem mais qualquer apelo popular, seguindo importante apenas para seu ferrenho --e cada vez menor-- séquito de fãs. No glossário abaixo, revemos os altos e baixos da carreira da banda.

A – “Aeroplane Flies High” ou “Adore”?
Quando foi que Billy Corgan começou a perder a mão? Há 20 anos, o líder dos Smashing Pumpkins lançava seu opulento disco “Mellon Collie & the Infinite Sadness”, aumentando ainda mais as expectativas sobre o futuro do Pumpkins. Mas logo depois desse disco, algo aconteceu, e a banda foi atingida em plena curva de ascensão. Entre a caixa de singles do disco de 1995 (“The Aeroplane Flies High”, lançada em 1996, que reunia seis singles e seus lados B em uma maleta) e o pretensioso disco “Adore”, de 1998, a banda tirou o pé da realidade e começou a se fechar em um universo particular e artificial.

B - Butch Vig

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O produtor Butch Vig
Imagem: Divulgação

O primeiro semestre de 1991 foi especial para o produtor Butch Vig, que, no começo daquele ano, produziu “Gish”, o primeiro disco do Smashing Pumpkins e, a partir de maio, o segundo disco do Nirvana, “Nevermind”. Embora lançados com meses de diferença, “Gish” foi ofuscado pelo sucesso de “Nevermind”. Mas Billy Corgan gostou do trabalho de Vig e voltou a chamá-lo para produzir sua grande obra-prima, “Siamese Dream”, em 1993. No ano seguinte, o produtor fundou o Garbage e nunca mais foi chamado para trabalhar com o Pumpkins.

C - Chamberlin, Jimmy

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O baterista Jimmy Chamberlain
Imagem: Reprodução

O primeiro baterista do Smashing Pumpkins assistiu à banda tocando ao vivo numa casa de shows chamada Avalon, em Chicago. Eles tocavam com uma bateria eletrônica, e Jimmy achou-os horrorosos, mas percebeu que as canções de Billy Corgan eram boas e respondeu a um anúncio em que eles procuravam um baterista. O estilo de Chamberlin --que usava penteado mullet, uma camiseta rosa e tinha uma bateria amarela-- não tinha nada a ver com o do resto da banda, cujo estilo era glam-gótico. Mas a química entre Billy e Jimmy funcionou, e sua estreia aconteceu quando o Pumpkins abriu para o Jane’s Addiction, em 1988. Ele passou a integrar a banda e continuou até o fim da primeira fase, no ano 2000, mas ficou afastado entre 1996 e 1998 devido ao seu vício em heroína, mesmo problema que causou a morte do tecladista Jonathan Melvoin, em 1996. Depois tocou com Corgan no breve Zwan e voltou a tocar na nova formação dos Pumpkins entre 2005 e 2009. Desde o fim dos anos 1990 ele tem seu próprio projeto solo, The Jimmy Chamberlin Complex.

D - D'Arcy Wretzky

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A baixista D'Arcy
Imagem: Reprodução

O Smashing Pumpkins era só uma dupla formada por Billy Corgan e James Iha quando, após uma discussão, Billy chamou a baixista D’Arcy para entrar no grupo. A baixista nunca gravou seu instrumento nos discos do Pumpkins --Corgan sempre preferiu ele mesmo tocar o baixo em suas músicas--, mas era considerada, no início da carreira do grupo, a “autoridade moral” da banda. Ela começou a ter problemas com drogas --especificamente crack-- a partir das gravações de “Mellon Collie”, e os problemas persistiram até a dissolução da banda no ano 2000. D’Arcy nunca mais voltou a tocar com o Pumpkins, e sua carreira musical foi se desfazendo até ela ser presa ao dirigir bêbada em 2011 e voltar ao noticiário. Depois, ela tentou se reconciliar com Corgan, em vão.

E - EPs
A banda lançou poucos EPs --apenas seis: “Lull” (1991), “Peel Sessions” (1992), “Zero” (1996), “American Gothic” (2008), “Songs for a Sailor” (2009) e “The Solstiice Bare” (2010), sendo que os dois últimos fazem parte do projeto “Teardrop by Kaleidoscope”.


F - Flood

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O produtor Mark Ellis, conhecido como Flood
Imagem: Reprodução

O produtor Mark Ellis, conhecido como Flood, já havia produzido discos de Nick Cave, U2, Depeche Mode e Nine Inch Nails quando foi chamado para assumir a produção do Smashing Pumpkins após Butch Vig ter largado o bastão. Ao lado de Alan Moulder e Billy Corgan, ele produziu o épico “Mellon Collie”, em 1995, e seguiu produzindo discos da banda até o final da formação original, no ano 2000.

 

 

G - “Gish”

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"Gish"
Imagem: Reprodução

O primeiro disco da banda foi batizado em homenagem à atriz do cinema mudo Lillian Gish. Billy conta que, quando sua avó era mais jovem, ela morava em uma cidade minúscula no interior em que o grande acontecimento era se reunir para ver o trem passando com Lillian Gish a bordo. Corgan nunca escondeu a natureza íntima do disco: “Não é um disco político, é um disco pessoal”, disse em várias entrevistas.

 

 

H - Homerpalooza

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Homer Simpson e o Smashing Pumpkins
Imagem: Reprodução

O auge da fama do Smashing Pumpkins foi consagrado no 24° episódio da sétima temporada de “Os Simpsons”, em que Homer entra para a trupe de um festival de rock alternativo como uma atração bizarra (ele aguenta tomar tiros de canhão na barriga). Vários artistas fazem ponta no episódio (Cypress Hill, Peter Frampton e Sonic Youth) e o Smashing Pumpkins é retratado no curto momento após o lançamento de “Mellon Collie”, quando Billy Corgan já usava a camiseta estampada com a palavra “ZERO”, mas ainda não tinha raspado sua cabeça. O melhor diálogo ocorre quando o líder do Pumpkins se apresenta a Homer Simpson: “Billy Corgan, Smashing Pumpkins”. E Homer responde: “Homer Simpson, smiling politely (sorrindo educadamente)”, sem perceber que Corgan havia falado de sua banda e não do que estava fazendo (“amassando abóboras”).

I - Iha, James

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O guitarrista James Iha
Imagem: Reprodução/Facebook

Descendente de japoneses, James Iha foi o primeiro músico chamado para juntar-se à banda imaginária que Billy Corgan lentamente tirava de sua cabeça, o Smashing Pumpkins. O guitarrista acompanhou Corgan por toda a primeira fase do grupo, tornando-se seu segundo compositor (gravando uma dezena de canções), além de assumir os vocais em algumas faixas (notadamente nas versões para “A Night Like This”, do Cure, e “Terrapin”, de Syd Barrett). Lançou seu primeiro disco solo, “Let it Come Down” (1998), quando ainda estava no Pumpkins. Após o primeiro fim da banda, no ano 2000, nunca mais voltou a tocar com Corgan. Segundo Corgan e Charmberlin, “a porta estava aberta”, mas Iha preferiu não tocar, enquanto o guitarrista diz que nunca recebeu este convite. Desde sua saída da banda, ele seguiu trabalhando com música como produtor e integrante da banda A Perfect Circle. Lançou o segundo disco solo, “Look to the Sky”, em 2012.

J- Jeff Schroeder

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Jeff Schroeder
Imagem: Reprodução

Fundador da banda shoegaze californiana Lassie Foundation, o guitarrista Jeff Schroeder substituiu James Iha quando Billy Corgan reformulou o Pumpkins em 2007. Desde então, é o único integrante constante nas diferentes formações da banda de Corgan.

 

 

 

K - KROQ
Rádio de Los Angeles em que Billy Corgan declarou, no dia 23 de maio do ano 2000, que o Smashing Pumpkins iria terminar logo após a turnê daquele ano.

L - Love, Courtney

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Courtney Love
Imagem: Getty Images

Antes de conhecer Kurt Cobain, a vocalista do Hole namorou Billy Corgan em 1992, e a relação continuou com altos e baixos mesmo após a morte de Cobain. Corgan produziu o disco da banda de Love, Hole, de 1998, “Celebrity Skin”. Também coescreveu cinco canções do disco e, em mais de uma ocasião, disse que deveria ter levado crédito por todo o álbum. A baixista do Hole, Melissa Auf Der Mauer, tocou com Billy Corgan em diferentes formações dos Smashing Pumpkins.

 

 

 

M- “Mellon Collie & the Infinite Sadness”

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"Mellon Collie..."
Imagem: Reprodução

Considerado por muitos a obra-prima do grupo, o CD duplo de 1995 alterna canções perfeitas e riffs pesados de guitarra com faixas que funcionariam melhor em coletâneas de lados B. É considerado por muitos o momento em que a banda começou a acreditar que era mais importante do que o mundo e perdeu seu contato com a realidade.

 

 

 

N - Nicole Fiorentino

Corgan11 - Andrew Cowie/AFP Photo - Andrew Cowie/AFP Photo
A baixista Nicole
Imagem: Andrew Cowie/AFP Photo

A baixista seria só mais uma das substitutas de D’Arcy na volta dos Pumpkins após 2007, se não fosse uma piada feita por Billy Corgan por meio do Twitter, em que o vocalista dizia ter descoberto, em 2011, que sua baixista era uma das garotas na capa do disco Siamese Dream, de 1993. A notícia foi publicada em vários veículos, mas, anos depois, o webmaster do site smashingpumpkins.com descobriu o paradeiro das duas garotas da capa, e nenhuma delas era Nicole.

O - Oceania
Um dos discos que saíram do projeto “Teardrop by Kaleidoscope”, que Billy Corgan começou a gravar em 2009, lançando canções avulsas pela internet. “Teardrop…” começou como uma série de 44 canções que depois foram formatadas em dois EPs (“Songs for a Sailor” e “The Solstiice Bare”) e dois álbuns (“Oceania” e “Monuments to an Elegy”). Um terceiro disco desta série, “Day for Night”, deverá ser lançado neste ano.

P - “Pescetariano”
Billy Corgan só come carne de peixe e vegetais.

Q - “Quasar”
Uma das faixas mais festejadas da nova fase da banda, também é uma das primeiras músicas de Corgan com caráter espiritual.

R - Rock clássico

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O grupo Led Zeppelin
Imagem: Michael Ochs Archives/Getty Images

Ao contrário de seus contemporâneos de geração, influenciados principalmente pelo cânone do punk, o Smashing Pumpkins saiu da paixão de Billy Corgan pelo rock clássico dos anos 1970 (Led Zeppelin, David Bowie, Black Sabbath) e pelo indie rock dos anos 1980 (The Cure e New Order eram as bandas citadas no anúncio para recrutar músicos para sua banda no início da carreira).

 

 

 

S – “Siamese Dream”

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"Siamese Dream"
Imagem: Divulgação

Grande obra-prima do Smashing Pumpkins, combina as guitarras épicas do primeiro disco com  uma delicadeza indie que o produtor Butch Vig lapidou durante as gravações do “Nevermind” do Nirvana. Um disco enxuto e cheio de hits imbatíveis, como “Today”, “Cherub Rock”, “Disarm”, “Geek U.S.A.”, “Rocket” e “Soma”.

 

 

 

T – “TheFutureEmbrace”
Único disco solo de Billy Corgan, “TheFutureEmbrace” foi lançado em 2005 e marca o ponto entre as duas formações do Smashing Pumpkins. O álbum tem base eletrônica com sons de guitarra superpostos.

 

U - U2, Metallica e R.E.M.

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James Hetfield, o vocalista do Metallica
Imagem: AP/Carolyn Kaster

A visão que Billy Corgan tinha no início dos anos 1980 sobre o que seria o futuro do rock está registrada em uma edição do jornal da escola em cursava o segundo grau, Glenbard North, em Chicago. No texto, ele diz que bandas como U2, R.E.M. e Metallica seriam os grupos clássicos dos anos 1990.

 

 

 

V- “Viewforia”
No auge do sucesso, a banda reuniu várias apresentações ao vivo e lançou a compilação em vídeo (ainda em VHS) “Viewphoria”. A edição em DVD, lançada em 2002, ainda trazia a íntegra de um show de 1994 que muitos consideram o auge da banda.

W - William

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"William" Corgan
Imagem: Getty Images

No último dia 17, ao completar 48 anos sobre o palco do Jockey Club de Lima, no Peru, Billy Corgan agradeceu os parabéns do público, mas reforçou que seu nome não é Billy, e sim William.

 

 

 

 

X - Xadrez
Dois integrantes da banda já passaram pelo xilindró: Jimmy Chamberlin foi preso em 1996, quando o tecladista que tocava com a banda na época, Jonathan Melvoin, morreu de overdose de heroína em seu quarto de hotel. Já D'Arcy foi presa no início de 2011, uma década depois de sair do Pumpkins, por dirigir bêbada.

Y - Yelena Yemchuk

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Yelena Yemchuk e Billy Corgan
Imagem: Reprodução

A fotógrafa e diretora de arte ucraniana Yelena Yemchuk começou a namorar Billy Corgan em 1995, quando passou a cuidar do visual da banda. Ela dirigiu os clipes de “Zero” e “Thirty-Three” e continuou com Billy até 2004, quando se separaram.

 

 

 

 

 

Z - Zwan

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O grupo Zwan
Imagem: Reprodução

Formado por Billy Corgan, Jimmy Charmberlin, David Pajo (Slint e Tortoise), Matt Sweeney (Chavez) e Paz Lenchantin, o grupo Zwan nasceu logo após o fim do Smashing Pumpkins e lançou um único disco, “Mary Star of the Sea”, em 2003. No mesmo ano, a banda encerrou suas atividades.