No Megadeth, Kiko Loureiro "estuda" músicas e já participa de novo disco
Kiko Loureiro vive o conto de fadas metaleiro. Confirmado na última quinta (2) como o novo integrante do Megadeth, o guitarrista do Angra é o primeiro brasileiro a fazer parte de uma banda do mais alto escalão do som pesado.
Em conversa exclusiva com o UOL, a primeira após ingressar no grupo americano, Kiko revela estar em fase de adaptação à nova vida. Desde que recebeu o sinal verde e embarcou às pressas rumo aos Estados Unidos, onde já mora, ele vem fazendo um “intensivão” de Megadeth.
Para se entrosar com os novos companheiros e equipe, nos últimos dias vem dividindo com eles uma casa de quatro quartos em Nashville, onde a banda já deu início ao processo de composição do novo álbum de estúdio, que em breve entrará em pré-produção.
Pouco antes da entrevista, falando da casa do vocalista Dave Mustaine, na Califórnia, Kiko havia acabado de receber “aulas” de guitarra do músico, que passou a ele os riffs e “macetes” das novas composições, ainda em fase embrionária.
Conhecido pela técnica apurada e pelo estilo melódico, Kiko começou a se aproximar do universo musical de Los Angeles há três anos, quando decidiu se mudar para lá e, assim, abrir ainda mais o leque profissional. No início deste ano, ele chegou a participar de um show tributo ao guitarrista do Randy Rhoads, tocando ao lado do baixista do Megadeth, David Ellefson.
Apesar do feito histórico, nem tudo são flores para Kiko. Primeiro, ele terá de lidar com o estilo de Mustaine, conhecido pelo lado temperamental e centralizador, capaz de mudar de formação como quem muda de guitarra. Segundo, precisará ter pique para se virar com as agendas. Com uma filha pequena em casa e tendo de conciliar as duas bandas --pelo menos até o fim da nova turnê do Angra--, ele prevê um horizonte de muito trabalho para os próximos anos, ainda que de imensa satisfação.
“Eu recebi muitas mensagens. De músicos, de amigos. De gente falando que agora vai tocar mais, que está mais motivada. Pessoas falando que, se você sonha e trabalha duro, um dia a coisa acontece. Acho muito positivo poder servir de inspiração, conseguir dar esse impulso.”
Megadeth publica foto de Kiko Loureiro ao lado de Dave Mustaine
É muito legal ver essa escola de riffs que o Dave Mustaine criou. Ver o cara na minha frente e me ensinando. Estou aprendendo. Eu tenho um jeito de tocar, e as músicas do Megadeth são de um jeito um pouco diferente. Não é que é fácil ou difícil. Mas há microdetalhes que ele vem e fala: 'não, é assim'
Veja abaixo os principais trechos da entrevista.
UOL - Como foi receber a notícia?
Kiko Loureiro - Estou feliz para caramba. Um sonho para qualquer guitarrista. E ainda mais por o ter um legado de ótimos guitarristas. Todos os caras que passaram são fantásticos. E é incrível participar dessa história, fazer parte desse legado. E desafiador para mim, inclusive tocar com o próprio Dave, é muito bom guitarrista também.
Você foi sondado no início de março por um dos empresários da banda, que perguntou sobre sua disponibilidade. Já sentia que estava dentro?
Eu sabia que estava meio dentro. Mas era uma coisa meio misteriosa. Ninguém confirmou nada. Na realidade, eu entendo o lado deles. Já tinha saído rumor e, se eu falo alguma coisa, poderia se pior. Existem muitos sites que ficam em cima e botam notícia sem conhecer a fonte. E acaba virando verdade. Nem eu tinha muita noção do que estava acontecendo. Nem perguntei ainda, mas, em qualquer momento, vou querer saber melhor como eles chegaram no meu nome.
Como foi a conversa com o Dave Mustaine?
Eu falei primeiro por telefone, com ele e o David Ellefson. Foi tudo muito rápido. Mas foi tranquilo, cara. Normal. Do tipo “Bem-vindo à família”, “estamos felizes de que esteja aqui”. Quando cheguei, o novo baterista, o Chris Adler, também já estava aqui. Já saímos para jantar juntos. Por enquanto estamos no momento de nos conhecermos mesmo. Hoje fomos tomar café da manhã em lugar legal, trocando ideia sobre música, o disco, a vida, sobre tudo. No fim de semana, almoçamos com a filha e a mulher do Dave. A gente tem ficado em uma casa em Nashville, que ele alugou. Uma casa de quatro quartos, no meio do campo. Tudo mobiliado. Um negócio “show”. E agora ele me convidou para ficar um tempo na casa dele, onde estamos agora. Um “puta” casão. Estamos nesse clima.
Quando sai o novo disco do Megadeth?
O processo de composição já está rolando. Ainda embrionário. Mas já tem um monte de música, um monte de coisa. Estou aprendendo os riffs de guitarra, comentando um pouco, mas não muito. É o meu estilo, sabe? Não vou sair falando o que acho numa primeira ouvida. Acho que isso é super errado. Quando já souber tocar as músicas e já estiver entendido, vou falar algo. Porque é muita informação também. Um monte de música. De repente estou chegando, tirando foto com eles, com um monte de gente me mandando e-mail. Tudo ao mesmo tempo nesses três últimos dias. Daqui a pouco já começa a pré-produção. Mas ainda não sei quando.
Está gostando das músicas?
São bem legais, mas é muito cedo ainda para comentar. Falando com minha voz de guitarrista: é muito legal ver essa escola de riffs que o Dave Mustaine criou. Ver o cara na minha frente e me ensinando. Estou aprendendo. Eu tenho um jeito de tocar, e as músicas do Megadeth são de um jeito um pouco diferente. Não é que é fácil ou difícil. Mas há microdetalhes que ele vem e fala: “não, é assim”. É legal. Estou mais vendo essas nuances agora, aprendendo os riffs.
Como fica o Angra agora?
Quando recebi o primeiro contato, a primeira coisa que fiz foi falar com os outros caras. E todos deram apoio. E até escreveram publicamente me dando força. Por sorte, nesse período agora em que estou aqui, não há nada marcado com o Angra. Não deu choque de agenda logo de cara. Mas não sei quando vai ser a gravação do disco. Criatividade não dá para botar data, né? Tem que ir fazendo. Mas eles não estão com muita pressa. Tenho shows com o Angra no Japão, além de várias outras coisas. O nosso último disco, “Secret Garden”, rolou legal, com bastante demanda de shows. Mas isso tudo já está conversado com o Angra e o Megadeth. Eles, inclusive pediram para mandar a agenda inteira para entender o que estava rolando. Tá tudo certo. Todos os shows do Angra que estão marcados eu vou tocar. Quem vai sofrer nisso sou eu, tendo de ir e vir sem parar (risos). Mas é maravilhoso.
O Angra deve ganhar mais visibilidade de agora em diante.
Com certeza, sim. Principalmente em mercados em que a gente não entrava muito. O Megadeth é muito mais internacional, principalmente no EUA. Eles venderam milhões, entraram nos charts aqui. Fez parte da vida de muito cara que gosta de metal e rock. Com certeza agora, quando anunciam o Angra, a pessoa vai ter uma curiosidade maior. Dá pra sentir isso nos números da internet. No meu Facebook, ganhei uma montanha de likes, em três, quatro dias.
Dave Mustaine é o dono do Megadeth. E ele tem fama de ser uma pessoa centralizadora, além de vir mudando constantemente a formação da banda. Isso te assusta?
Não me assusta nada. Encaro isso mais como desafio. Se eu não for bom o suficiente, não sou bom o suficiente. Ou não combinou. Sei da minha fama também (risos). As pessoas ficam brincando, que eu também sou centralizador. Os caras perguntam quem vai despedir quem primeiro. Como se eu sozinho tivesse despedido alguém do Angra. Mas tudo bem. Estou conhecendo a personalidade deles ainda. Pelo que vi até agora, tenho concordado sobre tudo. Mas vi pouco também, não posso falar muito. Mas me sinto feliz com este desafio. É uma banda que eu tenho que entrar e conquistar o meu espaço. Se eu pensar diferente, já começo entrando por baixo, com medo. Não é assim. Eu entro sabendo que eu posso acrescentar.
Você já comentou sobre como o Marty Friedman, que tocou no Megadeth nos anos 1990, foi importante na sua formação.
Sim. De todos os guitarristas do Megadeth, o que foi mais importante pra mim. Eu já o conhecia antes, ouvindo o "Cacophony", com o Jason Becker. Lembro quando ele entrou no Megadeth, achei legal. Eu já tinha os discos solo, gostava bastante. É daquela comunidade de guitarristas com discos solo, da época em que eu estava descobrindo esse mundo, de Steve Vai, Paul Gilbert, Satriani. Ele tem um estilo muito particular. Um cara para se espelhar.
Você se mudou para Los Angeles, em 2012, pensando em expandir a carreira. Esperava algo tão grande em tão pouco tempo?
Não estava pensando em algo assim. Antes de me mudar, já estava vindo uma, duas vezes por ano, e conhecendo várias pessoas. Um monte de gente desse meio, caras de quem eu era fã. E você pega a amizade. Fiquei amigo do Rudy Sarzo, baixista que foi do Whitesnake, do Ozzy. O cara é uma lenda e hoje eu posso tomar um café com o cara. Super perto da minha casa, por exemplo, mora o Derek Sherinian, que era tecladista do Dream Theater. Esse tipo de coisa. Situações que só Los Angeles proporciona. Como um cara do interior ou de uma cidade menor que vai para o Rio de Janeiro, e começa a conviver com atores globais. A diferença é que em Los Angeles tem os caras do rock. Eu fiz sons com esse pessoal: jams, ensaios, participações em músicas. Rolaram várias coisas. Quando você está nos Estados Unidos, realmente muda a perspectiva. Se existe a chance de alguma coisa pintar, você já está lá.
Então imagino que não tenha sido difícil dizer “sim” para o Megadeth.
Uma das coisas que me fizeram aceitar é poder dar essa motivação para todo mundo. De você sonhar com alguma coisa, ir lá e conseguir. Isso aí é uma coisa que pesou bastante nas minhas decisões, de uns anos pra cá. Pode até soar meio pedante, mas é uma coisa legal de se fazer. Desbravar certos caminhos e buscar mais coisas como músico, como guitarrista. Tinha que aceitar porque é uma conquista que poucos caras conseguiram, entrar em uma banda grande gringa. Acho que motiva a mim e a todos os outros músicos. Recebi muitas mensagens. De músicos, de amigos. De gente falando que agora vai tocar mais, que está mais motivada. Pessoas falando que, se você sonha e trabalha duro, um dia a coisa acontece. Acho muito positivo poder servir de inspiração, conseguir dar esse impulso.
Já tirou começou a tirar músicas antigas?
Tirei algumas, para mandar em um vídeo. Fiz “Hangar 18” e “Holy Wars”, que são bem conhecidas e têm solos longos, com bastante coisa de guitarra. Peguei duas mais complexas, só para mostrar que eu seria capaz também. Mas, de qualquer forma, essa nem era a preocupação deles. Falei com o Dave depois e ele disse que estava tudo certo.
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