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Sem poder usar nome da banda, guitarrista critica volta do Camisa de Vênus

Tatiana Cavalcanti

Do UOL, em São Paulo

07/04/2015 16h35

Recentemente, o cantor Marcelo Nova e o baixista Robério Santana, integrantes originais da banda baiana Camisa de Vênus, anunciaram a volta do grupo, um dos principais representantes do rock brasileiro dos anos 1980. Dono de clássicos como "Eu Não Matei Joana D'Arc", "Simca Chambord", "Hoje" e "Sílvia", o Camisa fará uma turnê comemorativa de 35 anos, a partir de maio. Os shows contarão com o guitarrista Drake Nova, filho do vocalista, entre outros integrantes.

Há seis anos, no entanto, a banda já havia "voltado", mas com outra formação, que tinha à frente os guitarristas originais, Karl Franz Hummel e Gustavo Mullem, que não farão parte da turnê comemorativa. A versão deles do grupo vinha fazendo shows principalmente em Salvador, com Eduardo Scott, ex-cantor da banda punk Gonorreia, nos vocais. Dono da marca Camisa de Vênus, porém, Marcelo Nova agora impede com uma ação judicial que os ex-colegas continuem se apresentando com o nome da banda. 

mullem

  • Eduardo Knapp/Folhapress

    Junta um que não sabe cantar e outro que não sabe tocar, não pode sair coisa boa. Como já disse, esse é o show caça-níqueis mais sem-vergonha que já vi na vida

    Gustavo Mullem, guitarrista original do Camisa de Vênus

“Camisa de Vênus foi registrado por mim, e o nome pertence a Marcelo Nova, mas a banda pertence à história”, diz Nova, que deixou o grupo em 1987 para seguir carreira solo, causando o fim da banda. O Camisa voltaria a se reunir, com diferentes formações, algumas vezes entre os anos 1990 --quando chegou a gravar o disco ao vivo “Plugado!”, em 1995-- e 2000. A última delas foi para um show na Virada Cultural de 2009, em São Paulo. E, depois dessa apresentação, Nova não quis mais seguir em frente com o grupo. 

Sobre os ex-colegas, Mullem e Hummel, o cantor conta que não teve contato com eles nos últimos anos, mas diz que ficou “desapontado” com a forma como o Camisa “foi jogado fora”, referindo-se à banda dos guitarristas. “Eu, como criador e letrista do grupo, percebi que o Camisa não estava sendo tratado com profissionalismo [por Mullem e Hummel] e aquilo não estava me agradando.”

Por outro lado, o guitarrista Gustavo Mullem considera esse retorno da banda anunciado por Marcelo Nova e Robério Santana uma atitude “bem ridícula” para “caçar níqueis”. “Mostra que a carreira de Marcelo Nova está falida e que esse é um show mercenário”, diz ele. Mullen afirma que não deseja voltar para o Camisa “para ganhar como músico de bar” e provoca os ex-colegas ao dizer que Nova e Robério são músicos "medianos". “Junta um que não sabe cantar e outro que não sabe tocar, não pode sair coisa boa. Como já disse, esse é o show caça-níqueis mais sem-vergonha que já vi na vida”, desabafa.

Marcelo Nova

  • Junior Lago

    O que tenho é uma sensação de tristeza pela maneira como a banda foi conduzida. Não tenho ódio, até porque as minhas decisões [como o processo em andamento] são estritamente profissionais

    Marcelo Nova

Sobre o guitarrista Drake Nova, filho de Nova que participará da turnê de 35 anos como membro do Camisa de Vênus, Mullem diz que ele "ainda tem muito que aprender".

Apesar de ter tocado guitarra no clássico disco “A Panela do Diabo” (1989), gravado por Marcelo Nova em parceria com Raul Seixas, o guitarrista considera a carreira solo do cantor um fracasso. “Marcelo Nova solo não tem um hit.” Segundo Mullem, o seu  grupo chegou a atrair 9 mil pessoas ao Parque da Cidade Joventino Silva, em uma apresentação em 2011. “E Marcelo, em São Paulo, capital da cultura do país, tinha dificuldade para encher um local fechado para mil pessoas.” 

Mullem também afirma que seu relacionamento com o vocalista já não era bom havia bastante tempo. “Saí da banda porque cansei de ver a arrogância do Marcelo com as pessoas. Mas me surpreendeu quando ele registrou o nome da nossa banda em 2011.”

Marcelo Nova, por sua vez, diz que não tem raiva, mas, sim, "pena" dos ex-colegas. “O que tenho é uma sensação de tristeza pela maneira como a banda foi conduzida. Não tenho ódio, até porque as minhas decisões [como o processo em andamento] são estritamente profissionais.”

Impedidos de se apresentar

Marcelo Nova entrou na Justiça no final de 2011 para registrar a marca Camisa de Vênus, que não era renovada havia 18 anos, segundo Eduardo Scott, há seis anos vocalista do Camisa de Vênus de Mullem e Hummell. “Cheguei a comentar com Karl [Franz Hummel] e Gustavo [Mullem] para registrarem o nome, junto com Marcelo e Robério, claro. Mas eles acharam que nada aconteceria, ficaram de boa. Mas em fevereiro deste ano, três anos depois, fomos surpreendidos com a notificação dos advogados de Marcelo dizendo que estávamos impedidos de usar o nome da banda. Paramos com tudo até eles definirem o que vão fazer.”

Para Scott, quando a banda levou 9 mil pessoas ao Parque da Cidade de Salvador em 2011, isso fez com que Marcelo Nova _que antes nunca havia impedido os ex-colegas de se apresentarem como Camisa de Vênus_ entrasse na Justiça no final daquele ano. “Nova, inclusive, nunca exigiu dinheiro dessas apresentações. Sempre foi uma situação tranquila, até agora. Por isso ficamos um tanto chocados”, diz Scott.

Mullem e Hummel podem se apresentar com as músicas que compuseram no Camisa de Vênus, segundo Scott, mas sem usar o nome da banda. “Enquanto eles decidem o que vão fazer, vou retomar um projeto de carreira solo, mas torcendo para essa história não morrer, porque o Camisa ainda tem muita história a contar, em especial às novas gerações”, opina Scott, que afirma que sempre teve uma excelente relação com Marcelo Nova.

Eduardo Scott

  • Jessica Siva/Divulgação

    Cheguei a comentar com Karl e Gustavo para registrarem o nome, junto com Marcelo e Robério, claro. Mas eles acharam que nada aconteceria

    Eduardo Scott, vocalista


Futuro dos dois Camisas

Marcelo Nova diz que ainda não descartou fazer um show com os ex-colegas, mas sai pela tangente: “Não faço planos para o futuro”. Já Mullem afirma que só faria novos shows com a formação original se fosse algo estritamente profissional. “E se a grana for justa.”

O guitarrista também diz que "após o susto" da notificação judicial, vai aproveitar para tirar férias e pensar no retorno da banda. "Não vamos parar. Mesmo com outro nome, somos o mesmo bom e velho Camisa de Vênus."

Robério Santana preferiu não fazer comentários sobre a polêmica. Disse apenas que está entusiasmado com a turnê ao lado do parceiro Marcelo Nova. "Admiro muito a forma como ele escreve. Poucos sabem tirar sarro e falar sério ao mesmo tempo, como Marcelo Nova sabe", diz Robério.

Karl Franz Hummel não foi localizado para falar sobre o retorno do grupo.

Turnê de 35 anos

Sobre seu retorno com o Camisa de Vênus, Marcelo Nova disse que não pretende lançar nenhuma música inédita e que a volta é apenas para celebrar os 35 anos da banda. “Os shows serão por pura diversão”.

O vocalista diz que o filho Drake é um guitarrista muito talentoso e rasga elogios ao baixista Robério Santana. “Robério e eu sempre tivemos uma boa relação, desde quando montamos a banda lá em 1980.”

Quanto aos shows da turnê de 35 anos, Nova promete tocar, no mínimo, uma música de cada um dos sete discos que o Camisa de Vênus lançou. A turnê começa dia 9 de maio no Rio de Janeiro e segue ao longo do ano  por capitais como Rio de Janeiro, Fortaleza, Porto Alegre, entre outras. O último show confirmado será em São Paulo, em 13 de junho, mas a banda ainda negocia datas em outros locais.

Veja a agenda de shows da turnê de 35 anos do Camisa de Vênus:

9 de maio – Rio de Janeiro (RJ), no Circo Voador
15 de maio – Fortaleza (CE), no Teatro Riomar
16 de maio – Natal (RN), no Teatro Riachuelo
17 de maio – Recife (PE), no Teatro Riomar
29 de maio – Porto Alegre (RS), no Araújo Viana
30 de maio – Novo Hamburgo (RS), no Teatro Feevale
13 de junho – São Paulo (SP), no Aquarius Rock Bar