Topo

Metaleira, Rachel Sheherazade diz que aprendeu história ouvindo Iron Maiden

A jornalista e apresentadora Rachel Sheherazade - Roberto Nemanis/SBT
A jornalista e apresentadora Rachel Sheherazade Imagem: Roberto Nemanis/SBT

Daniel Buarque

Do UOL, em São Paulo

14/04/2015 07h00

A jornalista Rachel Sheherazade estava longe de ser a controversa apresentadora do telejornal “SBT Brasil” e do “Jornal da Manhã”, da Rádio Jovem Pan, quando começou a estudar política internacional e a importância do primeiro ministro britânico Winston Churchill na história da Segunda Guerra Mundial. A origem do interesse pelo tema, porém, não veio de um livro, mas do gosto da jornalista pelo heavy metal, mais especificamente pelo Iron Maiden, uma de suas bandas preferidas desde os 12 anos de idade.

“Muitas canções eram verdadeiras aulas de história. Foi através de uma música do Iron que ouvi falar de um ‘tal’ Winston Churchill. Na introdução de ‘Aces High’, que fala dos ataques aéreos da Inglaterra durante a Segunda Guerra, há um trecho de um famoso discurso do premiê. Aprendi muito com a banda e aproveitei para aperfeiçoar o meu inglês também”, disse, em entrevista ao UOL.

Às vésperas do festival Monster’s of Rock, que vai reunir alguns dos nomes mais importantes do rock pesado em São Paulo, Sheherazade diz que é eclética e gosta de rock pesado, mas não vê o estilo como machista e nunca sofreu preconceito por ser roqueira. “Vejo machismo e depreciação das mulheres no funk. É deplorável”, disse.

UOL - Você já disse em entrevista que gosta de bandas de rock pesado, como Iron Maiden, e que já quis ser roqueira. Como definiria seu gosto musical em relação a essa cena de heavy metal?
Rachel Sheherazade - O heavy metal é um dos vários estilos musicais que aprecio. Também gosto de rock, pop, blues, jazz, gospel, reggae... Gosto de muita coisa. Mas, na seara do heavy metal, prefiro o Iron Maiden a qualquer outra banda, que, na minha opinião, é quem melhor representa o “metal pesado”.

live - Reprodução - Reprodução
Capa do disco "Live After Death", do Iron Maiden
Imagem: Reprodução
Conheci o Maiden ainda criança, aos 12 anos, através do meu irmão mais velho, que me apresentou o álbum “Live After Death”. O encarte do LP já me encantou de cara. Aquele monstro meio morto, meio vivo, saindo de uma sepultura, num antigo cemitério inglês em meio a uma tempestade de raios... fiquei petrificada. Nessa época, eu tinha uma fascinação e grande curiosidade por cemitérios. Amava filmes de terror e do Hitchcock. Quando ouvi aquela música furiosa, e ao mesmo tempo melodiosa e elaborada, na voz do Bruce Dickinson, me apaixonei pela banda.

Tempos depois passei a traduzir, por conta própria, as letras das músicas (nesse tempo não havia Google). Minha admiração só aumentou, porque muitas canções eram verdadeiras aulas de história. Foi através de uma música do Iron que ouvi falar de um “tal” Winston Churchill. Na introdução de “Aces High”, que fala dos ataques aéreos da Inglaterra durante a Segunda Guerra, há um trecho de um famoso discurso do premiê. Aprendi muito com a banda e aproveitei para aperfeiçoar o meu inglês também.

O machismo é frequentemente apontado como uma característica do rock pesado. Você já enfrentou alguma manifestação machista por gostar de rock?
Nunca. Nunca fui vítima de machismo por gostar de rock pesado. E olha que eu morava numa cidade pequena. Eu era uma menina tímida e introvertida, que, no entanto, gostava de rock pesado. Meus colegas não entendiam meu gosto musical exótico. A maioria não gostava de heavy metal, mas me pedia para que eu desenhasse o “Eddie” [o monstro mascote do Iron Maiden] em seus cadernos. Se muitos meninos não gostavam de rock pesado, imagina as meninas?!

Sherazeda

  • Roberto Namanis/SBT/Divulgação

    Não encaro o heavy metal como um estilo musical machista. Não vejo essa exploração excessiva da sensualidade feminina. Vejo machismo e depreciação das mulheres no funk. É deplorável

    Rachel Sheherazade

Eu não tinha uma amiga com quem conversar sobre as novas músicas do Iron, os clipes recém-lançados, as letras, enfim... Não tinha com quem dividir essa “paixão” pelo Iron Maiden. Então, no meu colégio, descobri um grupo pequeno de roqueiros, que se vestiam de preto, calças rasgadas, usavam cabelões até a cintura... Era com eles que eu conversava sobre a banda, trocávamos figurinhas, mas nunca fui tratada com desrespeito ou preconceito. Éramos todos iguais.

Em shows de rock pesado, geralmente não há muitas mulheres no público. Você costuma frequentar esses shows? 
Sempre sonhei em ir a um show do Iron Maiden, mas nunca fui. Minha cidade não era roteiro desse tipo de banda. Acompanhava as apresentações do Iron no Rock in Rio pela televisão. Acho que o heavy metal não é um estilo que agrade a maioria das mulheres. Quando me casei, fiz meu marido me prometer que um dia ele me levará a um show do Iron Maiden. Ele não gosta, mas prometeu me acompanhar. Não vejo a hora desse dia chegar.

Quando se fala sobre mulheres na cena metal, discute-se a exploração da sensualidade de mulheres que fazem parte dela. O que você acha desse tipo de exploração da imagem feminina?
Não encaro o heavy metal como um estilo musical machista. Não vejo essa exploração excessiva da sensualidade feminina. Talvez eu esteja desinformada, mas como sempre concentrei minhas atenções e minha “devoção” no Iron Maiden, nunca percebi machismo em suas músicas. Vejo machismo e depreciação das mulheres no funk. É deplorável.