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De relógio branco, Ed Motta encerra polêmica e abre show com "Manuel"

James Cimino

Do UOL, em São Paulo

17/04/2015 22h52

O cantor Ed Motta subiu ao palco da casa de shows Terra da Garoa, na noite desta sexta-feira (17), em São Paulo, disposto a encerrar, na esportiva, a polêmica em que se envolveu após criticar o comportamento de fãs brasileiros no exterior. Já na primeira faixa do repertório, tocou o hit "Manuel", que prometera não incluir nos shows mais jazzísticos que fará na Europa em breve.

"Vou tocar a guitarra com esse pedal [de efeito wah-wah]. Sem o pedal, o som é assim. Com  o pedal, é assim", indicou, antes de soltar o primeiro acorde da famosa faixa de seu primeiro disco, "Conexão Japeri", lançado em 1988, que, segundo afirmou em um desabafo no Facebook, costuma ser a favorita da "turma mais simplória", que não acompanha sua carreira.

E se a polêmica era golpe de marketing para atrair público, conforme muita gente especulou nas redes sociais, não funcionou. A casa de shows estava bem longe de estar lotada. Na plateia, era possível se ver vários espaços vazios. A área superior, dos camarotes, estava praticamente vazia.

No pulso, Motta usava um relógio branco chamativo, que ganhou de presente da turma do programa humorístico "Pânico", minutos antes do show. O acessório é uma brincadeira com a descrição que fez em seu post de fãs "que vêm beber cerveja barata com camiseta apertada tipo jogador de futebol, com aquele relógio branco, e começa a gritar nome de time".

"Nesse clima de relógio branco, já vou cantar 'Manuel'. Peguem celulares e podem filmar", avisou o cantor no início do show em São Paulo. O público, que não chegou a lotar a casa de shows, foi ao delírio, com palmas e aplausos.

"Vilões" da música

Antes do show, Ed Motta voltou a comentar suas declarações e reafirmou que a culpa por ele estar fora do mercado no Brasil é de ritmos que caem no gosto popular como sertanejo e axé. “Não me arrependo do que disse sobre esses gêneros. Porque estou fora do mercado por causa desses gêneros [sertanejo e axé]”, disse. “Na minha opinião [o sertanejo e o axé] são os vilões. Eu nunca gostei de nada popular, não tenho nada contra a Ivete Sangalo, por exemplo, mas axé não acho legal”, desabafou em entrevista aos repórteres do "Pânico" Vesgo e Impostor - a entrevista completa irá ao ar neste domingo.

O artista contou ainda que sua música não é compreendida no Brasil. “A minha frustração é de minha arte ser mais compreendida no Japão, na Inglaterra, na Alemanha e não ser compreendida pela maioria do público aqui no Brasil."

Bom humor 

Durante a apresentação, em que Motta esbanjou bom humor e conversou do início ao fim com a plateia, é possível compreender a frustração do cantor. Sozinho no palco, com uma guitarra, um piano elétrico e uma voz de versatibilidade notável, Motta praticamente expunha seu talento como músico e seu processo de composição contando as histórias por trás de seus hits, como "Daqui pro Méier", "Fora da Lei" e "Ainda Lembro" (sucesso em dueto com Marisa Monte).

O público, meio preso no começo, foi se soltando a cada piada que o cantor fazia sobre sua forma física e sobre a polêmica que protagonizou na semana passada. Kauê Ribeiro, bailarino da casa onde aconteceu o show, comentou com a reportagem do UOL a súbita simpatia de Ed Motta. "No outro show que ele fez aqui, quase não falou."

Se a simpatia foi ensaiada ou não, o fato é que lá pelo fim do show a plateia comentava até sobre comida com o cantor. "Não tenho nem roupa pra comer as comidas que você fotografa, Ed!", em referência a fotos que ele publica nas redes sociais.

Em outro momento do show, em que falava de suas influências musicais, tocou um trechinho de "Ebony Eyes", do cantor Rick James. Quando a plateia cantou em uníssono o refrão, o fanfarrão Ed Motta não perdeu a piada: "todo mundo americanizado como eu, né?". E assim foi, durante quase duas horas, em que Ed fez exatamente o contrário de tudo o que pregou no Facebook, inclusive atender pedidos de músicas antigas, como "Outono no Rio", que, segundo ele, é a preferida de sua mãe.

Em entrevista ao jornal "O Estado de S.Paulo" publicada nesta sexta, Motta disse não se arrepender "nem de uma vírgula" de seu post na rede social. "Meu grande erro foi a forma como eu respondi a essas pessoas, escrevendo coisas lamentáveis das quais não me orgulho. Mas do conteúdo original do meu texto, não me arrependo nem de uma vírgula." 

Antes do início da apresentação, fãs do cantor que estavam na fila da entrada, disseram concordar com o que Ed Motta disse sobre o comportamento dos brasileiros em shows. O empresário Marcio Dedivitis disse respeitar a opinião do cantor e que toda crítica tem de ser ouvida. "Não me importa esse tipo de polêmica. Eu gosto das músicas e é isso o que me importa. Agora, muita gente não sabe se comportar em show. Vão, bebem e se excedem."

Já o analista de cobrança Djonatan Nascimento, 30, foi curto na análise: "Sim, tem gente que não sabe se comportar em show, mas ele usou mal as palavras. Eu também acho falta de educação ficar pedindo música no meio do show. O artista faz um repértório também com base no que o público gosta, mas ele tem direito de tocar outras músicas."

VEJA TRECHO DE ED MOTTA CANTANDO "MANUEL" NO INÍCIO DO SHOW