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De Tim Maia a Rod Stewart: assessora revela "causos" de estrelas do showbiz

Léa Penteado posa com o cantor Tim Maia - Cristina Granato/Reprodução
Léa Penteado posa com o cantor Tim Maia Imagem: Cristina Granato/Reprodução

Leonardo Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

28/04/2015 06h00

Ela presenciou o sequestro do empresário Roberto Medina, criador do Rock in Rio. Foi ameaçada de morte por Tim Maia. Já teve de comprar lasanha para um faminto James Taylor. E, na cara de pau, chegou a furar a guarda do Palácio do Planalto, simplesmente porque Alcione queria dar um “alô” ao então presidente e conterrâneo José Sarney.  

São muitas e saborosas as histórias da assessora de imprensa Léa Pentado, agora reunidas no recém-lançado “A Verdade É a Melhor Notícia” (Bookstart, R$ 24,99). Voltado a fãs de música e, principalmente, a estudantes de jornalismo, o livro revela memórias de três décadas de showbiz, boa parte delas dedicadas à casa de shows carioca Canecão e ao festival Rock in Rio.

“Eu costumo dizer que o trabalho do assessor é como o do advogado. Além de ter jogo de cintura para saber improvisar, tem que entender de estratégia e ser confiável para adquirir a confiança do cliente. E o mais importante: falar a verdade. Hoje as pessoas tem a tendência de vender histórias e personagens para os jornais com muita maquiagem”, diz ao UOL Léa, conhecida pelos "causos" e também por ter sido citada por Jorge Ben Jor na letra de “W/Brasil” –embora exista a versão de que a “Tia Léa” da música seja, na verdade, Léa Millon, advogada de Caetano Veloso e Gilberto, morta em 2011. "Nem gosto muito de falar sobre isso."

Para a jornalista, os casos mais marcantes da carreira foram o inesperado sequestro de Roberto Medina, em 1990, às vésperas do segundo Rock in Rio, e o protagonizado pelo síndico Tim Maia, em sua primeira temporada de Canecão. Já o segundo entrevero com o cantor.

“Antes, já tinha ido entrevistá-lo no início da carreira, quando eu ainda era repórter da revista ‘Amiga’ no Rio. Cheguei no local e ele me recebeu oferecendo um pacote de cocaína na mesa. Imagina isso, na época, para a menina. Desisti da pauta e fui embora na hora”, revela.

Veja a seguir algumas das histórias retiradas do livro.

A assessora posa com Roberto Medina, criador do Rock in Rio - Luis Guilherme/Reprodução/Facebook - Luis Guilherme/Reprodução/Facebook
A assessora posa com Roberto Medina, criador do Rock in Rio
Imagem: Luis Guilherme/Reprodução/Facebook

Ameaça de morte de Tim Maia

Para a minha surpresa, antes da casa abrir chegou a informação que o show estava cancelado. A direção, para poupar o artista, pediu que comunicasse à imprensa que o motivo era de “força maior” (...) Mas o fato real é que Tim havia passado a madrugada comemorando o sucesso do show no camarim, e depois esticou com amigos no Nogueira, um bar na entrada de Copacabana, tendo ido dormir só ao meio dia.

(...) Os jornalistas que lá estavam tinham com isso uma matéria ótima, e na terça-feira, quando a manchete do jornal O Globo era “Tim Maia cancela show no Canecão”, o cantor me telefonou soltando fumaça pelo nariz. “Léa Penteado, eu mando acabar com você” (...) Tim recebeu um aviso da polícia: “Cuidado com o que possa acontecer a essas moças, pois você será culpado”. Para se desculpar, ele telefonou fazendo declarações de amor e me pedindo em casamento! Grande e sedutor Tim!


Sequestro de Roberto Medina

Já se passavam das 8 horas da noite quando Roberto saiu da sua sala acompanhado de dois amigos, agradeceu por meu trabalho extra e desceu no elevador. Minutos depois, ouvi um barulho na rua, corri na janela e percebi que havia uma grande confusão de carros na frente da agência (...) Lá do alto, a imagem do Cristo olhava sem entender o que se passava, até que o segurança da agência entrou correndo na sala em que eu estava, repetindo a frase que até hoje ecoa em minha mente como uma gravação que eu não consigo deletar: “levaram o Dr. Roberto”.

(...) De assessora de imprensa de um festival de rock, passei a ser testemunha de um sequestro. Na sequência dos tiros na rua e do aviso do segurança, o telefone tocou e era Carlos Amorim, chefe do jornalismo da TV Globo, querendo saber se era um assalto (...) “Amorim, o Roberto Medina foi sequestrado, acabou de ser levado, ainda não fizeram contato, e pelo amor de Deus, isso não pode ser noticiado!”


Alcione e Sarney

Um dia, Alcione foi convidada para ir a uma homenagem que iriam prestar a ela na Embaixada da União Soviética, em Brasília, e me convidou para ir junto. Avisei à imprensa e lá fomos nós, ainda com a companhia da atriz Jacira Silva e do seu pianista. Chegando à capital federal, esperava-nos no aeroporto o adido cultural da Embaixada, Felix Potapov, com quem eu já havia encontrado uma vez no Rio, quando fizemos uma festa de despedida com direito a bateria da Mangueira.

Entramos no carro diplomático: Potapov na direção e Alcione ao seu lado. Com aquele jeitão de gente muito boa, ela pediu para que, antes que fôssemos para o hotel, déssemos uma paradinha no Palácio do Planalto, pois precisava cumprimentar o seu conterrâneo – o então Presidente Jose Sarney.

Lasanha para James Taylor

Eu conheci o empresário Manoel Poladian em algum dos muitos shows internacionais que ele trouxe ao Brasil e que passaram pelo Canecão. Foi naquela época em que eu ainda não tinha um escritório no Rio, e acabava fazendo outras tarefas além de atender à imprensa: uma vez fui comprar lasanha para James Taylor, pois a encomendada por sua produção havia desaparecido da geladeira da casa de espetáculos, em outra, fui encontrar uma pequena toalha – que muitos americanos utilizam para esfregar o corpo no banho – para os músicos da orquestra de Ray Connif e ainda, em outra vez, fui guardar no escritório os vasos com palmeira que serviam de cenografia no show de Paco de Lucia, e por aí vai.

Rod Stewart, o “ladrão” de Rolex

Às oito horas da noite, Rod Stewart e seu grupo chegaram ao restaurante, onde eu já os aguardava com uma grande mesa preparada (...). Quando os pratos de entrada estavam sendo servidos, veio à mesa fa¬lar comigo uma modelo muito bonita, que havia voltado recentemente de uma temporada no exterior (...) E assim, no “empurra prá cá, puxa prá lá”, abriu-se espaço ao lado do artista para a bela modelo se sentar.

(...) Ela elogiou o relógio dele, que era um autêntico Rolex de ouro. E neste clima de começar uma conversa, entre sorrisos, eles trocaram de relógio para ver como ficava o seu no pulso do outro (...) Como a noite é uma criança, em um determinado momento o artista quis conhecer outro lugar. Sugeri o People, que era a melhor casa noturna do Leblon, e, na saída do restaurante, a bela modelo seguiu na limousine com o artista. Na chegada ao People, encontrei com o jornalista Alessandro Porro24, editor da revista Veja no Rio.

No barulho da casa noturna, entre a música, as conversas animadas e a fumaça dos cigarros, me deparo com a seguinte cena: o roqueiro, delicadamente, tentava retirar o relógio do pulso da modelo, que escondia o braço entre risadinhas. O jornalista assistia a cena possesso e disse ao meu ouvido: “Este coveiro irlandês quer roubar o relógio da moça”. Passei a semana tensa, torcendo para que a cena do relógio não fosse citada na matéria da Veja. Não ficaria bem para o artista, e muito menos, para a modelo. Para o meu alívio, creio que o jornalista preferiu pular esta parte.