Tratando câncer, Sharon Jones volta ao país: "Cada show é como o último"

A frase “Carpe Diem” —o “aproveite o dia”, do poeta e filósofo romano Horácio— tem um significado especialmente literal para a americana Sharon Jones. Diagnosticada com um câncer no ducto biliar em 2013, do qual já se recuperou, a cantora descobriu, em dezembro, com um novo tumor, agora no fígado.

Após se submeter a uma cirurgia a laser em janeiro, ela afirma estar se sentido bem, mesmo sem saber ao certo se está curada. O tumor pode ter se espalhado. Ou não.

“Agora, falando com você, digo que estou me sentindo bem. Ainda preciso voltar ao médico, para ver o resultado, em junho. Eles vão me dizer o que preciso fazer. Agora, sinceramente, só penso em cantar e não ter mais que fazer quimioterapia. Acho que vai ficar tudo bem”, diz ao UOL Sharon, que nesta sexta-feira (22), em Porto Alegre, dá início a um novo giro pelo país (veja as datas no fim do texto). O primeiro em quatro anos.

Sempre ao lado dos Dap-Kings, ela está na estrada desde janeiro de 2014, quando lançou seu mais recente álbum de estúdio, “Give the People What They Want”, gravado pouco antes de receber o primeiro diagnóstico. O título —Dê às pessoas o que elas querem, em português—, imperativo, serve de mantra. A música como remédio para corpo, alma e coração.

“O que eu aprendi com tudo isso é: Viva a vida de forma completa e seja feliz. Você não sabe onde vai estar amanhã. Todo dia em que eu levanto e subo num palco é como se fosse o último show pra mim. Então eu preciso dar o que eu tenho de melhor. Ah, e cuide da saúde! Isso é importante."

Aos 59 anos, Sharon Jones é dona de uma trajetória pouco comum no showbiz. Antes de deixar tardiamente o amadorismo, em 1996, já aos 40 anos, trabalhou como carcereira na prisão Rikers Island, no Bronx, em Nova York. O primeiro disco veio só em 2002, bebendo do melhor do funk e rhythm & blues. Um furação soul comparável a James Brown.

“Para mim, de certa forma, foi bom ter começado tarde. Quer dizer, saber que mesmo assim havia uma gravadora grande interessada em me lançar. Que eu não precisava ser pop como as jovens, que aparecem seminuas por aí. Acho que ninguém gostaria de me ver por aí seminua (risos).”

Sobre a cena negra atual, a cantora não se diz exatamente uma fã. Em casa, nas horas vagas, ouve pouca música. Mesmo assim, acredita que há espaço para todos e que o sucesso, como sua própria história atesta, não é refém das fórmulas pasteurizadas do pop.

“Muita gente hoje em dia está imitando o que vem sendo feito há seis, oito anos. Tentando soar como a Beyoncé. Assim como fizeram nos anos 90, com a Whitney Houston. Tudo bem. Deixem ver o que acontece. Mas sempre existiram jovens que souberam manter o espírito do R&B vivo, como a Ledisi, que é uma grande cantora”, aponta.

Para o futuro, a diva diz estar trabalhando paralelamente em dois álbuns. Um de natal, que será lançado em dezembro, e o próximo de carreira, que já vem sendo esboçado em estúdio e deve sair no ano que vem. Para Sharon Jones, nada é tão urgente quanto a música.

“Estamos ansiosos para tocar no Brasil e continuar a excursionar com a banda, após alguns meses parados, por causa da minha cirurgia. Quando eu estava no hospital, só pensava em sair para cantar e dar às pessoas o que elas querem. Ter a chance de se apresentar para quem nunca nos viu. Essa sempre foi a maior motivação para mim. E olhe bem pra mim agora, estou viva, aqui. É incrível.”

Sharon Jones and the Dap-Kings no Brasil

22/5 - Teatro Bourbon Country, em Porto Alegre, RS
23/5 - Teatro Guaíra, em Curitiba, PR
26/5 - Bourbon Street Music Club, em São Paulo, SP
28/5 - HSBC, em São Paulo, SP
29/5 - Vivo Rio no Rio de Janeiro, RJ
30/5 - Bourbon Fest Paraty, RJ