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"Violoncelo é perfeito para rock", diz dupla que levou AC/DC ao erudito

Luka Sulic e Stjepan Hauser, os violoncelistas "rock stars" do 2Cellos - Divulgação
Luka Sulic e Stjepan Hauser, os violoncelistas "rock stars" do 2Cellos Imagem: Divulgação

Leonardo Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

15/07/2015 07h00

Por onde passam, Luka Šulic e Stjepan Hauser, que formam o 2Cellos, arrastam multidões aos gritos. No palco, munidos de violoncelos, eles protagonizam releituras viscerais de grupos como AC/DC, Nirvana, U2 e Guns N´Roses. Fazem uma espécie de subversão —não muito subversiva do conceito de show de rock.

Jovens, bonitos e habilidosos, eles simbolizam uma geração cada vez mais independente e digital, capaz de construir reputação e carreira à base de vídeos na internet. Só no YouTube, são mais de 1 milhão de seguidores, que assistem a performances que chegam a bater 10 milhões de acessos.

Com agenda lotada, uma participação no seriado "Glee" e três álbuns de estúdio no currículo, os rock stars de formação erudita já ganharam elogios derretidos de gente como Elton John e Stevie Vai. Já foram apontados até como "líderes de uma nova revolução musical".

Cientes do exagero, Šulic e Hauser mantêm a sintonia fina também no tom da modéstia: ambos afirmam que, caso a internet não existisse, provavelmente estariam cuidando de ovelhas e ordenhando vacas no interior da Eslovênia ou da Croácia, onde nasceram.

“A internet é tudo para a gente. Um atalho para qualquer um que queira mostrar sua música. Você pode fazer qualquer coisa sozinho e alcançar uma audiência muito maior do que a do rádio”, diz ao UOL Luka Šulic, falando por telefone de Nagoya, no Japão. “Somos muito ‘visuais’, não apenas para se ouvir. É interessante: toda nossa experiência tem a ver com a nossa performance.”

Para o 2Cellos, a interseção entre o rock e clássico está na energia. “Começamos interpretando clássicos na infância, e tudo evoluiu de forma natural. Queríamos fazer algo empolgante para o público, especialmente para que os mais jovens pudessem conhecer o violoncelo. Combinar o novo e o antigo é interessante. E, independentemente do estilo de música, a emoção é sempre o mais importante”, diz Stjepan Hauser.

Veja a versão de "Thunderstruck" dos 2Cellos

Cello rock

O estilo difundido mundialmente pelos músicos desde 2011, quando postaram o primeiro vídeo, uma versão de “Smooth Criminal”, de Michael Jackson, não é novo. O chamado “cello rock” teve seus pioneiros nos anos 1990, com os finlandeses do Apocalyptica e os americanos do Rasputina, que incrementaram com rock e distorção o instrumento popularizado na Itália do século 17.

“Os respeitamos muito, pelo pioneirismo, mas nossos estilos e arranjos são diferentes. Não digo que são influências. Somos clássicos e populares ao mesmo tempo”, entende Šulic. “Nossa energia é muito similar à de algumas peças eruditas, como as da música clássica do século 20.”

O amor ao exibicionismo roqueiro do AC/DC e ao virtuosismo de compositores como Mozart e Paganini chegam a render cenas insólitas, que fazem a fama da dupla. No vídeo de “Thunderstruck”, clássico do grupo de Angus Young, os 2Cellos transformam seus instrumentos em guitarras, que são marteladas sem piedade pelos arcos e jogadas ao chão, por vezes servindo como caixas percussivas. “Puro rock 'n' roll.”

“Amamos o poder do rock. A intensidade é incrível. E o violoncelo é perfeito para tocar rock. Pelo alcance das notas e também por soar poderoso. Você não consegue tocar rock tão bem com violinos ou como outros instrumentos clássicos, como o piano”, diz Šulic, que, no futuro, não descarta lançar com o colega um álbum inteiramente voltado ao erudito.

Os planos do duo, por ora, resumem-se a gravar novos clipes e seguir excursionando pelo mundo. E o Brasil está no roteiro. Após dois anos, o 2Cellos voltará ao país em setembro, para apresentações em São Paulo (29), no Espaço das Américas, Porto Alegre (1º/10), no Auditório Araújo Viana, e no Rio (3/10), no Theatro Municipal. “Fizemos uma pequena turnê no Brasil em 2013. Agora será maior. Temos muitos fãs no Brasil. Mal podemos esperar para voltar.”