Filme resgata Luhli e Lucina, autoras da MPB que dividiam o mesmo marido
O vencedor do 7º Festival Internacional do Documentário Musical, In-Edit Brasil, foi "Yorimatã", eleito como o melhor filme tanto pelo júri popular quanto pelo júri oficial. O longa conta a história da dupla Luhli e Lucina (que antes assinava Luli e Lucina), autoras de centenas de canções interpretadas por Ney Matogrosso, Gilberto Gil, Tetê Espíndola e Nana Caymmi, entre outros.
Além do amor pela música, as duas artistas compartilham também uma história de vida singular, mostrada no documentário de maneira muito singela e natural. E essa história começou na década de 1970, quando Lucina conheceu Luhli e o marido, o fotógrafo Luiz Fernando Borges da Fonseca, e foi viver junto com o casal em um bucólico sítio em Magaratiba, no litoral fluminense. Dali em diante, os três levaram a vida juntos em um amor livre até 1990, quando Luiz morreu de câncer. Do relacionamento com o mesmo homem, nasceram as duas filhas de Luhli e os dois filhos de Lucina.
"É um filme muito bonito dirigido pelo Rafael Saar", diz Lucina ao UOL. "O longa foi feito a partir de alguns vídeos que o Luiz Fernando fez de mim e da Luhli em super 8 na década de 70. É uma mistura de passado e presente", completou.
Embora as duas não sejam mais uma dupla desde 1997, a afinidade musical entre elas remonta desde o dia em que elas se conheceram e passaram a compor juntas.
Hoje, a dupla é autora de clássicos da MPB como "O Vira", "Bandolero", "Pedra de Rio", "Aqui e Agora", "Napoleão", "Coração Aprisionado" e "Eta Nós", boa parte famosa na voz de Ney Matogrosso. Elas, no entanto, não ganharam tanta notoriedade quanto suas canções.
Lucina conta que o sucesso nunca foi prioridade para ela e Luhli. "A música e o amor vêm antes. Nunca quisemos levantar nenhuma bandeira. Nós vivemos juntos daquela maneira por amor. Não por uma bandeira", lembrou. "Muita gente na década de 70 se juntou e fez experimentos que ficaram na categoria ‘loucuras da mocidade’. Nós, não. Seguimos porque era verdadeiro."
Bancar essa escolha não foi fácil para o trio. Principalmente em uma época repleta de preconceitos e machismo de todos os lados, já que as músicas eram compostas por mulheres adeptas da umbanda que tocavam tambores nos shows. No disco "Yorimatã" (1982), por exemplo, elas gravaram músicas que falam de Iansã, Oxum e Gira das Ervas.
"Hoje em dia o preconceito religioso é ainda maior do que antes", avalia, porém, Lucina. "Acho que neste quesito o Brasil andou para trás. Já fomos um país mais aberto. A intolerância religiosa aumentou muito, e o governo encaretou."
Lucina e Luhli continuam amigas e vivendo de música, embora separadas como dupla. As duas seguem fazendo shows, e Lucina é parceira de composições de Zélia Duncan. "Nossa dupla teve começo, meio e fim."
Após ter sido encerrado em São Paulo, o festival está ocorrendo em Salvador, na Bahia, onde exibirá os filmes até o dia 19 de julho.
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