Topo

Violinista-galã que está no Brasil, Garrett já quebrou violino de R$ 4,4 mi

Do UOL, em São Paulo

23/07/2015 05h00

Desde que se tornou conhecido na Alemanha com o lançamento de seu álbum “Virtuoso”, em 2007, o músico David Garrett vem ensinando a um público cada vez maior o que é um "crossover" --como é chamada a mistura de música clássica com outros gêneros.

No Brasil durante esta semana para uma turnê que abrange cinco capitais (Porto Alegre, Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília), o músico alemão apresenta seu repertório composto por interpretações guiadas pelo violino de clássicos da música pop e do rock, como “Smooth Criminal”, de Michael Jackson, “Viva la Vida”, do Coldplay, “Born In The USA”, de Bruce Springsteen, e “We Will Rock You”, do Queen.

Aos 34 anos, o músico clássico encontrou um mercado crescente ao misturar música erudita com visual moderno. No começo de sua carreira, chegou a ser chamado por alguns jornais de “David Beckham do violino”. Hoje, acompanhado por uma orquestra, Garrett já vendeu 3,5 milhões de discos e lota todos os seus shows, puxando coros e despertando gritos apaixonados em sua plateia composta majoritariamente por mulheres de todas as idades.

Galã bem comportado

Com visual descolado, que varia entre ternos pretos e calças jeans rasgadas, 1,85m de altura, olhos castanhos e longos cabelos tingidos de loiro, o alemão tem uma legião de fãs ao redor do mundo, que amam sua aparência talvez ainda mais do que sua música.

“É muito difícil encontrar uma mulher quando estou na estrada", disse o músico em uma entrevista recente para o jornal "Daily Mail". "Eu era extremamente tímido.Tive talvez três namoradas na faculdade, um número razoável”, continuou.

Sem namorada atualmente e conhecido por colocar a carreira à frente da vida amorosa, Garrett reconheceu ainda como seria o seu encontro ideal. “Um passeio a pé em uma grande cidade como Roma, Paris ou Nova York durante a época de neve.”

Para as possíveis pretendentes, ele avisa: “Você tem que ter, antes de tudo, um bom coração. E se você puder rir e não se estressar com os outros, isso que é importante. Eu não sou uma pessoa que gosta de discutir", disse à repórter Liz Jones.

David Garrett

  • Action Press/Honopix

    Bach, Mozart, Beethoven e grandes compositores usaram elementos populares para conquistar o público e não há nada repreensível nisso.

    David Garrett, violinista alemão

Prodígio

O alemão nascido em Aachen, perto da fronteira com a Bélgica e a Holanda, Garrett começou a tocar violino com quatro anos de idade para imitar seu irmão Alex, dois anos mais velho.

Mas quando seu pai, que também tocava violino e trabalhava em uma casa de leilões que vendia instrumentos, percebeu que o caçula era o mais talentoso, começou a incentivar o filho a trilhar um caminho próprio.

Aos cinco, Garrett ia para a Holanda todo fim de semana para estudar música. Sua primeira apresentação com a Filarmônica de Hamburgo aconteceu aos dez. Com 13 anos, ele foi o mais jovem contratado do história da prestigiado selo musical Deutsche Grammophon, o que o levou a gravar, com apenas 14 anos, todos os 24 “Caprichos” - solos de violino - do compositor italiano Niccolò Paganini.

Aos 17 anos, em plena ascensão de sua carreira, o violinista partiu para Nova York sob o pretexto de ir visitar seu irmão, que estudava em Harvard. Acabou fazendo um teste e sendo aceito para estudar na Juilliard School, famosa escola de música, teatro e dança. Durante os cinco anos em que estudou no local, Garret pagou suas contas trabalhando como garçom, bibliotecário, vendedor e até como modelo para marcas como Armani --foi nessa época que ganhou o apelido de “Beckham do violino”.

O acidente que custou um milhão de libras

Depois de tocar com uma série de instrumentos emprestados ou alugados, Garrett decidiu investir em sua carreira e comprar um violino próprio. A escolha perfeita foi um fabricado em 1772 por Giovanni Guadagnini, um aluno de Antonio Stradivari, o famoso fabricante dos violinos Stradivarius.

O problema era o preço da peça: 1 milhão de libras (cerca de R$ 4,4 milhões). Garrett, apaixonado pelo instrumento, fez um empréstimo  e dedicou a receita de suas apresentações para o pagamento. Mas apenas duas semanas depois da última parcela, em dezembro de 2008, ele escorregou na saída de um show, caiu sobre o violino --que não estava bem protegido-- e o quebrou.

“Eu só olhava para ele quebrado”, disse ao jornal inglês "The Guardian". “Eu estava em choque. Alguns momentos da vida são quase impossíveis de entender, são surreais. Eu estava em um estado de descrença”, lembra.

Depois de sete meses e mais 60 mil libras gastas com a restauração, Garret pôde finalmente voltar a tocar o seu amado instrumento. Hoje, contudo, ele toca com um Stradivarius comprado em 2010, já com uma carreira mais consolidada, por 3,6 milhões de libras (cerca de R$ 16 milhões). O instrumento, hoje, fica muito bem protegido contra quedas, enquanto o antigo violino é usado de vez em quando, apenas por diversão.

David Garrett 2

  • Divulgação

    Meu encontro perfeito é um passeio a pé em uma grande cidade como Roma, Paris ou Nova York durante a época de neve.

    David Garrett, violinista alemão

Tradição e cinema

“É preciso entender que eu ainda toco muitos concertos clássicos”, disse em entrevista recente ao jornal "Zero Hora". “Lancei recentemente um disco clássico com obras de Brahms e Bruch. Para mim, é importante estar nos dois mundos simultaneamente. O crossover é para atrair jovens, explicar a música para plateias jovens, mas não é uma mudança na minha carreira. É uma soma”, explicou.

Mas enquanto se dedica ao novo e ao clássico, David Garrett encontra tempo entre suas turnês para se arriscar em novas atividades. Em 2013, o músico estrelou o filme “The Devil’s Violinist”, que narra a vida do compositor Paganini, de quem o alemão é fã.

“Bach, Mozart, Beethoven e todos os grandes compositores sempre incorporaram elementos que eram populares em sua época para conquistar o público”, costuma repetir em entrevistas. “E não há nada repreensível nisso. Pelo contrário”, defende.