Emicida saúda África e lembra chacina em novo show: "Silêncio dói"
De volta a São Paulo para o lançamento oficial do álbum "Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa", Emicida entregou, na noite desta sexta-feira (21), no Sesc Pinheiros, um show de impacto e perfeitamente alinhado ao discurso de seu novo trabalho.
Uma das vozes mais incisivas da luta contra o racismo na atualidade, o rapper prestou uma grande ode às suas raízes, à origem africana do Brasil e, principalmente, pregou à união.
"Preciso homenagear meus irmãos nordestinos. Falam que o país está dividido. Mas os únicos que podem mandar os imigrantes embora dessa terra são os índios, os donos dela", bradou antes de emendar "Soldado Sem Bandeira".
No palco, Emicida é papo reto. Gesticula, fala pouco e geralmente restringe os recados às próprias letras das músicas. Mas nem por isso deixa de se posicionar. "O que dói mais do que a chacina, muito mais do que os mortos, é o silêncio", emendou em alusão ao ataque que deixou 18 mortos em Osasco e Barueri na semana passada, cuja autoria ainda está sob investigação.
Com uma banda formada por instrumentistas negros, ele deu mostras de que seu novo trabalho, musicalmente mais diverso, é capaz de funcionar sem problemas em meio aos raps mais antigos.
Da emoção familiar da terna "Mãe" --com declamação da própria no palco, tal como no disco--, passando pelo balanço afro de "Mufete" e pelo samba de "Chapa", com direito à citação à Cartola.
Mas são nos momento mais "da quebrada" que o show de fato decola com o público, nem tão "da quebrada" assim, mas que encheu e permaneceu de pé durante todo o show no teatro do Sesc. Os "flows" de "Zica, Vai Lá" e "Sorriso Favela" levaram geral ao delírio, assim como a sincrética "Axé pra Quem É de Axé", com muito "axé" e vários convidados em cena.
Para arrematar, a cultura hip-hop foi brindada em grande estilo no bis, ao som de "Rinha", espécie de tributo de Emicida ao passado e um aceno aos grandes nomes do rap paulistano.
Na sequência, o festival de batuques e percussão de "Salve Black", que serviu de gran finale para o show tal como no novo disco. Uma espécie de compêndio da atua fase "africana" do rapper. "Sempre seremos livres se tudo que nos deixarem for a música", sintetizou.
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