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Sem gravadora, artista de Recife emplacou duas músicas em novelas em um ano

Mariane Zendron

Do UOL, em São Paulo

11/09/2015 11h48

Com letras que levam a dramaticidade à décima potência, como "Você não presta, ninguém é seu amigo. A solidão vai ser o seu castigo", o recifense Johnny Hooker, de 28 anos, já emplacou duas músicas em novelas da Globo ("Geração Brasil" e "Babilônia") em menos de um ano. Isso tudo, comemora ele, sem “jabá de gravadora”.

A entrada de Hooker na Globo, no entanto, não foi pela via musical. “A direção de ‘Geração Brasil’ começou a procurar um ator recifense para integrar o núcleo que tinha Chandelly Braz. Como eu já tinha participado como ator de algumas produções do cinema, fiz o teste e fui aprovado. Quando estava me preparando para a novela, os atores pediram que a direção colocasse uma música minha na trilha”. Assim Denis Carvalho também conheceu o artista e quis colocar “Amor Marginal” na trilha de “Babilônia”. A música era tema de tema de Alice (Sophie Charlotte) e Evandro (Cássio Gabus Mendes).

"Agora, as coisas chegam às pessoas pela internet, que é o meu caso. A estrutura de gravadora e do jabá está ficando fragilizada. Antes, esse era o meio de se conhecer novos artistas, mas com o tempo ficaram sempre os mesmos, que tiveram o auge no final dos anos 1990. Essa estrutura é horrível, mas todo mundo sabe que é assim que funciona", contou ele, em entrevista ao UOL.

Ele diz que se vê no mesmo time de Karina Buhr, Tulipa Ruiz, Otto, que fazem um contra-ataque à cultura do jabá. “Sua música só vai tocar direto na rádio se você pagar R$ 15 mil. Eu não pago. Se quiser colocar minha música na novela, acho maravilhoso, mas é porque você gostou. É legal entrar nesses produtos de massa para que as pessoas conheçam novos artistas".

Álbum
As duas músicas fazem parte do CD, cujo nome já diz muito sobre a “vibe” do artista, "Eu Vou Fazer Uma Macumba Pra Te Amarrar, Maldito!", lançado em fevereiro deste ano. Também faz parte do CD "Volta", que integrou a trilha do filme "Tatuagem", no qual o artista também fez uma ponta. “Fui compondo esse álbum ao longo dos anos e ele tem ainda muito da raiva adolescente, mas o drama é muito uma coisa minha”, disse ele. 

Para combinar com o drama das suas músicas, ele costuma subir ao palco com os olhos pintados, roupa transparente e muito brilho. Também não poupa exagero na hora de definir: “Digo sempre que Johnny Hooker é uma mulher em fúria no corpo de um homem com os olhos marejados de lágrimas”.

Johnny Hooker

  • Sua música só vai tocar direto na rádio se você pagar R$ 15 mil. Eu não pago. Se quiser colocar minha música na novela, acho maravilhoso, mas é porque você gostou. É legal entrar nesses produtos de massa para que as pessoas conheçam novos artistas

    Johnny Hooker
Suas influências compõem para ele a santíssima trindade. “Madonna é ‘mainha’, David Bowie é ‘painho’ e Caetano Veloso é o Espírito Santo. Esses são os três artistas que me influenciaram muito. Minha mãe colocava Bowie para tocar e a Madonna eu descobri depois de ver ‘Na Cama com Madonna’. Já o Caetano tem a ver com esse resgate que minha geração fez da música brasileira”.

O reconhecimento foi revertido em um aumento do número de shows. “Nunca fiz tanto, apesar da crise”, brinca. O sucesso também serviu de investimento para o clipe de “Amor Marginal”, com previsão de estreia no dia 20 de setembro. Com diferentes cenários, o clipe, com a participação de Luis Miranda, Ariclenes Barroso (“Tatuagem”) e Carol Macedo (“Passione”).

Hooker já prepara um novo álbum e diz que virá mais maduro, falando de família, casamento. Ele não quer, no entanto, que seu visual exótico atraia somente o público mais alternativo. "Faço música para todo mundo, apesar de continuar sendo tachado de “underground”. A minha música é popular. Não quero ficar restrito a uma faixa etária, a um grupo de pessoas”.