Adam Lambert nega ser substituto de Mercury no Queen: "Sou mais exagerado"
Para sua primeira visita ao Brasil, o cantor americano Adam Lambert diz ter feito o dever de casa direitinho. Ouviu dizer que a volta do Queen ao País era especial por marcar os 30 anos da lendária apresentação na primeira edição do Rock in Rio, quando Freddie Mercury regeu uma multidão ao som de "Love of My Life", e foi atrás de vídeos no YouTube.
"Fiquei emocionado. Estou animado por representar este momento para esse público. Eu nunca estive na América do Sul, então será um momento muito importante para mim também", disse, em entrevista ao UOL por telefone, antes de chegar ao Brasil. "Vai ser demais não cantar sozinho".
Para os fãs brasileiros mais ferrenhos, que assistirão ao retorno do Queen a São Paulo, no Ginásio do Ibirapuera, na noite desta quarta-feira (16), e no Rock in Rio, na sexta (18), Adam avisa que nunca quis substituir Freddie Mercury. Sua essência, ele admite, tem um pé no brega.
Adam é um cantor mais teatral e fetichista. De roupa de couro, ele pula e se joga em um sofá vermelho na hora de cantar "Killer Queen". "Meu momento favorito", revela, aos risos. “É minha chance de ser louco e ‘campy’ [exagerado, brega], como adoro ser”.
A propósito, a comparação lhe é incômoda desde 2012, quando começou a fazer shows com os remanescentes da banda, o guitarrista Brian May e e o baterista Roger Taylor (o baixista John Deacon apoia a ideia da turnê, mas preferiu ficar de fora). “Quando começamos a trabalhar, eu fiquei intimidado com a ideia. Era uma coroa, uma realeza. Freddie era incrível, e eu não queria imitá-lo de qualquer maneira”.
A saída foi buscar a inspiração em Mercury no palco, sem cair na armadilha de reproduzir gestos. "Diante disso, eu me senti livre para interpretar, sem recriar o que ele fazia”, detalha.
Ele reconhece: os dois anos de trabalho com o Queen fizeram dele um artista mais seguro. O elogiado novo álbum solo, "The Original High", lançado em junho, segue a trilha pop, mas bebe na fonte do rock -- Brian May, inclusive, toca guitarra na canção “Lucy”. “Sabe, acho que estar no palco com Queen me deixou mais confiante. O público sabe como a banda é, sou eu que preciso provar que tenho permissão de estar ali. Eu trabalho duro e tenho certeza do que eu estou fazendo”, afirma.
Liberdade
Nada mal para quem teve o primeiro contato com o Queen como qualquer outro marmanjo de 30 anos (Adam tem 33): em uma cena de “Quanto Mais Idiota Melhor” (1992), quando Mike Myers canta “Bohemian Rhapsody” com amigos dentro do carro. “Eu virei para o meu pai: ‘meu deus, o que é isso?’. E ele: ‘é o Queen’. Fiquei impactado”. (Assista abaixo a cena)
Pomposo e operístico, o clássico voltou à mente quando Adam, até então um ator de musicais, ficou sabendo das vagas para o reality show “American Idol” em 2009. Foi selecionado – chegando ao 2° lugar na competição – ao escolher a canção na audição.
“Eu tinha uns 20 anos quando comecei a me interessar mais por classic rock, e especialmente as coisas dos anos 1980, que é um período de que eu gosto muito. Eu sempre me inspirei no Freddie Mercury, David Bowie, Robert Plant. Eles se tornaram ícones pela própria essência deles”, relembra.
Inegável também é sua liberdade nos palcos, que se tornou maior após assumir a homossexualidade ainda em 2009. “Eu acredito que houve certa resistência a mim em algum momento, mas na época eu não tinha muito claro que isso acontecia. Realmente não existiam muitos cantores abertamente gays antes de mim”, relembra.
“Falar abertamente sobre isso foi incrível. Eu tenho fãs, que se sentem inspirados, gente que me escreve ainda hoje: ‘muito obrigado por me entender, tenho algo em que acreditar’”.
Comparando com a época em que a sexualidade de Freddie Mercury não era tratada abertamente, ele afirma que a chegada da internet mudou tudo. “Acho que estamos sabendo muito sobre o outro hoje. Precisamos aproveitar esse espaço para se expor no bom sentido”, defende.
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