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Mike Bordin, do Faith no More, diz que não vai desperdiçar tempo do público

Mike Bordin, baterista do Faith no More - Reprodução/Facebook/Faith No More
Mike Bordin, baterista do Faith no More Imagem: Reprodução/Facebook/Faith No More

Felipe Branco Cruz

Do UOL, em São Paulo

22/09/2015 07h00

Dezoito anos depois de ter lançado o último álbum autoral, a banda Faith no More está na estrada novamente com o inédito "Sol Invictus", lançado em maio deste ano. Para divulgar a obra no Brasil, o grupo fará shows em São Paulo na quinta-feira (24) e no Rock in Rio na sexta-feira, com a formação clássica: Mike Patton nos vocais, Billy Gould no baixo, Roddy Bottum nos teclados, Mike Bordin na bateria e Jon Hudson na guitarra.

"A única maneira que encontramos para fazer isso [o novo disco] foi com honestidade", diz Mike Bordin que conversou por telefone com o UOL. "Billy [Gould] trabalhou no disco literalmente durante três anos todos os dias. Não dá para fazer algo assim se você não acreditar", completa. Para ele, a banda continua consistente. "Acredito sinceramente que temos um dos melhores cantores do rock. Ninguém canta melhor que Mike Patton", afirma.

Em 1995, após o fim da banda, Mike Bordin foi trabalhar na banda solo de Ozzy Osbourne. “Foi um sonho que virou realidade. Ozzy salvou a minha vida”, conta. Ele diz que, quando era jovem, "era um cara no fim da vida, e a música me salvou. Eu fazia coisas erradas, andava com pessoas erradas. Não existia esperança para mim. Foi o Black Sabbath que salvou a minha vida. Depois que eu ouvi o Ozzy eu pensei: 'Uau'".

Em 2009, quando o Faith no More voltou a se reunir, Mike deixou o ídolo da infância e retornou para o seu grupo original. “Sou um cara de equipe. Eu toco bateria. Eu ajudo as pessoas a fazerem o que precisam fazer no palco. Minha relação com o Faith no More é muito sólida”.

Faith no More - Theo Wargo/NBC/Getty Images for 'The Tonight Show Starring Jimmy Fallon' - Theo Wargo/NBC/Getty Images for 'The Tonight Show Starring Jimmy Fallon'
13.mai.2015 - Faith No More se apresenta no "The Tonight Show Starring Jimmy Fallon", em Nova York
Imagem: Theo Wargo/NBC/Getty Images for 'The Tonight Show Starring Jimmy Fallon'

UOL - O último disco da banda foi lançado há 18 anos. Depois de tanto tempo, qual a fórmula para lançar algo novo sem perder a identidade original?
Mike Bordin - Eu não vou perguntar como você se sentiu ao ouvir o novo álbum, mas posso dizer que nós amamos e estamos orgulhosos. O único jeito que conseguiríamos fazer isso era com honestidade. Não haveria nenhuma maneira de nos forçar a fazer um álbum novo se não tivesse muita emoção envolvida. Billy [Gould] trabalhou no disco literalmente todos os dias durante três anos. Não dá para fazer algo assim se você não acreditar. Nos Estados Unidos temos um ditado, que é 'mail it in', que significa: 'Eu não ligo. Eu vou fazer só o suficiente e está ok'. Somos o oposto. 

Voltar a tocar junto com o Faith no More foi como uma reunião de amigos da escola?
Eu acho que sim. Temos muito em comum. Nossa vida foi vivida juntos. Começamos adolescentes e nos separamos aos 30 anos. E agora voltamos mais velhos. Percebemos que fizemos um ótimo trabalho juntos.

Cada integrante voltou ao estúdio, 18 anos depois, com uma bagagem cultural diferente. Como integraram essas diferenças ao novo trabalho?
Fomos em direções contrárias. Eu, por exemplo, fui tocar com Ozzy Osbourne e fiquei por mais de dez anos. A música dele é completamente diferente do que eu fiz com os outros caras. Quando voltamos, foi como ajustar o foco. Quando você é novo, você precisa trabalhar pesado. Quando é mais velho, você precisa trabalhar de maneira inteligente, porque aprendeu muitas coisas no caminho. Nós trabalhamos agora de maneira inteligente.

Quais são as diferenças e semelhanças da banda de 20 anos atrás?
Ainda somos uma banda consistente. Acredito sinceramente que temos um dos melhores cantores do rock. Ninguém canta melhor que Mike Patton. No palco, nós damos sangue e lágrimas ao público. Mas sinto que agora estamos diferentes. E de uma maneira boa, porque eu sinto que agora estamos na mesma sintonia. Quando éramos jovens não sabíamos disso. Estamos super unidos. Sou um cara de equipe. Eu toco bateria, ajudo as pessoas a fazerem o que precisam fazer no palco. Minha relação com o Faith no More é muito sólida.

Esta será a segunda vez que vocês vão tocar no Rock in Rio [a primeira foi em 1991]. Já se sentem íntimos do festival?
Conheço pessoas que dizem que o show de 1991 foi memorável. Para nós também, e é uma honra voltar, saber que há pessoas que se lembram daquele show. Vamos fazer tudo o que pudermos para repetir.

O clipe da nova faixa "Sunny Side Up" foi feito em um palco pequeno. Vocês se consideram uma banda de estádio ou de pequenos clubes?
Somos os dois tipos. Somos diferentes em cada momento. O importante é estar pronto para fazer os dois. É legal um palco grande com muitas luzes e som. Mas eu gosto também dos palcos pequenos onde dá para ver as pessoas de pertinho. Recentemente fizemos um show no Troubador [pequeno clube de rock em Los Angeles] e as pessoas disseram que nunca tinham visto uma apresentação tão incrível do Faith no More.

Corey Taylor, vocalista do Slipknot, disse que tentou se matar aos 19 anos. Quando ele voltou do hospital e ligou a TV, estava tocando "Epic", do Faith no More, e ele descobriu o que queria fazer pelo resto da vida. E neste Rock in Rio vocês vão tocar na mesma noite que ele...
Foi um sinal, né? Ele ligar a TV na mesma hora. Eu conheci o Corey, é um cara muito legal. Significa muito para nós saber que a nossa banda o ajudou. Embora o Faith no More seja de uma outra geração e façamos um som diferente do deles, estou feliz de tocar na mesma noite. Eles são jovens e fazem parte de uma das maiores bandas do mundo. É maravilhoso saber que eles são nossos fãs.

Você acha que a música é tão poderosa a ponto de salvar a vida de alguém?
Claro! A música é capaz de fazer qualquer coisa. A força da música é absoluta. Certamente foi a música que me trouxe aqui. Eu era um cara no fim da vida, e ela me salvou. Eu fazia coisas erradas, andava com pessoas erradas. Não existia esperança para mim. Foi o Black Sabbath que salvou a minha vida. Depois que eu ouvi o Ozzy eu pensei: "Uau". Eles cantavam tudo o que eu estava pensando.

Você tocou na banda solo de Ozzy por mais de dez anos. Como foi a sua relação com ele?
Ele significou muito para mim. Eu apenas queria dizer obrigado para ele. Enquanto eu trabalhei com ele, a única coisa que eu estava fazendo era retribuindo tudo o que a música dele tinha feito por mim. E, no Brasil, eu quero que as pessoas percebam que estamos dando tudo o que temos de verdade. Não sentamos no palco e desperdiçamos o seu tempo e o nosso tempo.