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Análise: Dia mais pop levou gente mais jovem e tolerante à Cidade do Rock

Alexandre Matias

Colaboração para o UOL, no Rio

27/09/2015 07h00

O sábado (26) foi o primeiro dia do Rock in Rio em que as principais atrações despontaram neste século, e isso era refletido não só na faixa etária do público, mas também em sua aparência. Saem as hordas de camisas pretas, as estampas de banda e os cabelos compridos como sinal de contestação. Saem também as famílias, sexagenários e diferentes gerações cantando músicas de décadas atrás.

O sexto dia do Rock in Rio 2015 foi um desfile heterogêneo de cabelos coloridos, shortinhos, camisetas com frases de efeito em inglês, peças de vestuário com cores berrantes, óculos escuros gigantes e turmas de meninas --foi disparado o dia com mais mulheres, além de ser nítida a sensação de que havia mais grupos de mulheres do que nos outros dias. Casais gays que nos outros dias andavam quase escondidos e em evidente minoria agora desfilavam felizes entre seus iguais --gente bem mais tolerante do que nos outros dias.

Essa tolerância ficava evidente até nos retrógrados shows de rock que começaram as atividades do palco Sunset. A dupla Brothers of Brazil --formada por Supla e por seu irmão João Suplicy-- tocava com seu ídolo Glen Matlock, baixista dos Sex Pistols, e o encontro do Ultraje a Rigor com Erasmo Carlos funcionaram como meras jukeboxes de hits do passado  --e o público curtia com um mínimo de empolgação, embora preferisse se aglomerar na fila da montanha russa. A abertura do público para o pop ficou mais evidente quando a cantora beninense Angelique Kidjo subiu no palco e conquistou facilmente o público ao fazê-lo dançar mesmo sem que ninguém conhecesse nenhuma de suas músicas. 

Lulu Santos seguiu o clima alto astral ao desfilar seu rosário de hits e toda forma de amor, como canta uma de suas músicas que mais agitou o público - pouco depois do Rock in Rio sediar o primeiro casamento gay na Cidade do Rock. O clima de tolerância seguiu no show da insossa banda australiana Sheppard, dessas nulidades que só o Rock in Rio explica. Mas como eram amantes do pop, aguentaram pacientemente e até chegaram a se empolgar – mas era evidente que estavam apenas no aquecimento para as principais atrações da noite.

E tanto Sam Smith quanto Rihanna não tiveram a menor dificuldade em conquistar a massa mais pop do festival. O primeiro com seu soul meloso com um pé na pista de dança e a segunda com toda sua postura agressiva e envolvente. Sam Smith agitou o público com momentos mais dançantes, mas conquistou a todos de verdade com suas baladas, parte delas composta para um ex-namorado. Mas frisou que não guarda rancores apesar da motivação inicial das músicas: "Elas hoje são de vocês", festejou, antes de encerrar com a apoteótica balada "Stay With Me".

Foi a chave para deixar todo o público em polvorosa à espera desta que é um dos ícones do pop atual. Rihanna desfilou toda sua majestade misturando carisma agressivo e presença de palco sexy - e transformou o Rock in Rio numa imensa pista de dança.

Enquanto as redes sociais ironizavam seu vestuário, os fãs simplesmente reverenciavam cada sílaba que ela cantava, hipnotizados por sua presença impositiva. O curto show atingiu o ápice no estrondoso hit "Bitch Better Have My Money", que a cantora cantou pela quinta vez ao vivo, a primeira em um evento deste porte. Foi o suficiente para que todos saíssem com a sensação de terem sido abençoados por estar no mesmo ambiente de uma das maiores divas do pop desta década.