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Paula Fernandes lança disco com balada R&B: "Não cedo à pressão de mercado"

Leonardo Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

23/10/2015 06h00

Paula Fernandes, 31, está no céu. Com a derrocada da indústria do disco na última década, a mineira de Sete Lagoas já não sabe o que é vender menos de 400 mil cópias a cada lançamento.

A cobrança para repetir o feito com o recém-lançado "Amanhecer", um dos álbuns mais autorais da cantora, existe. E vem dela mesma. "Mas eu não cedo à cobrança de mercado, não", diz a repaginada "princesinha de cintura de pilão", que no disco canta com Almir Sater e em uma balada inspirada no R&B, "Depende da Gente".

De estilo musical mais introspectivo, fincado em raízes sertanejas nada universitárias, Paula hoje é cantora e a própria empresária. Em 2014, após imbróglio na Justiça, ela rompeu com a produtora Talismã, do cantor Leonardo, com intenção de aplacar o que descreve como "imagem distorcida".

"Minha equipe antiga causava uma distância que não existe entre o fã e eu. Ou entre a imprensa e eu. Não existe isso. Havia gente despreparada que vinha e falava: 'não, você não pode fazer isso'. Não era isso que eu queria."

A nova versão de Paula Fernandes é "good vibe", com visual despojado. Na coletiva de lançamento do álbum, ela apareceu de cabelo preso e calça colada, algo próximo do esporte, que ainda não havia sido experimentado apenas por timidez.

"Eu também cometo meus erros. Tem dia que você está para o pé, tem dia que está para a mão. Mas eu saio de casa feliz em relação a tudo que vou usar. Hoje estou superfeliz com essa botona aqui. Com os acessórios fazendo barulho [risos]", brinca Paula, que nem por isso deixa de ter suas preocupações.

"Minha preocupação é levar boas mensagens. Seria uma irresponsabilidade não pensar nisso. E as pessoas se identificam com essa questão de ser verdadeira. Como é que você vai questionar o que é verdadeiro, original? Contra boas obras não há argumentos."

UOL - Você é uma das artistas que mais vendem discos no Brasil. E é natural que essa fase passe, como acontece com qualquer um. Está preparada para isso?

Paula Fernandes - Essa cobrança pessoal de manutenção é algo que todo mundo tem. Mas eu não cedo à cobrança de mercado, não. Acho que isso é o grande pecado para qualquer artista. Porque fazer sucesso não é uma obrigação. A gente faz porque a gente faz. Eu faço música porque gosto de fazer. Como artista, sei que a recepção tem sido incrível, e que a manutenção disso é difícil, porque se renovar é muito difícil. Mas essa é a função do artista. Artista veio a esse mundo para se renovar mesmo. É a nossa missão.

Qual sua preocupação ao compor?

Eu atingi um público que vai de zero a cem anos. Um público muito diversificado. É um público da família, que cresceu junto comigo. Minha preocupação é levar boas mensagens. Seria uma irresponsabilidade não pensar nisso. E as pessoas se identificam com essa questão de ser verdadeira. Como é que você vai questionar o que é verdadeiro, original? Contra boas obras não há argumentos.

Alguns te chamam de princesinha. Você é uma das mais seguidas nas redes sociais. Já foi considerada uma das mais influentes e sexy dessa geração. Qual é o defeito da Paula Fernandes?

[Risos] Vou te falar uma coisa: eu ouço isso e fico muito orgulhosa. Mas isso não impede que eu continue lúcida, sensata. E eu não flutuo nisso, não. Acho legal. Fico muito lisonjeada. Agradeço aos elogios. A cada dia que passa eu tento aprimorar tudo, para honrar isso.

Mas conta aí um defeitinho.

Tenho milhões de defeitos. Mas você acha que vou falar aqui de defeito? Quando me perguntam, falo que não tenho muito cílio, que uso cílio postiço. Mas a gente não está aqui para ressaltar defeito, não [risos].

O sertanejo universitário parece ser a receita do sucesso, mas você corre por outra estrada, mais introspectiva, menos baladeira. Acha ruim esse monopólio do estilo?

Acho que não tem só universitário hoje em dia. Será? O que sinto é que tem uma diversidade. Um número muito grande de gente nova chegando. Mentes diferentes, estilos diferentes. Novas cantoras. Está havendo uma transformação. Mesmo porque a música sertaneja de verdade é aquela de moda de viola do João Carreiro. Inclusive fiz uma homenagem para ele no disco, um pagode de viola, "Água de Bico", que fala sobre meio ambiente. Decidi que tinha que cantar igual ao João Carreiro. Imagina eu cantando igual a ele [risos].

Não [risos].

E eu sou muito preocupada na questão das letras. Muito mesmo. Então a minha balada vai ser diferente. Minha canção o pessoal vai dançar, mas não vai ouvir nada que denigra a imagem de ninguém. Todos nós somos seres únicos. E eu não digo que: "Ah, sou melhor ou pior". Acho que todos nós somos companheiros de estrada, mas minha referência é outra. Por mais que eu tenha essência sertaneja, me vejo fazendo uma música muito universal.

Você falou que sua equipe antiga estava distorcendo sua imagem. De que forma?

Ela causava uma distância que não existe entre o fã e eu. Ou entre a imprensa e eu. Não existe isso. Havia gente despreparada que vinha e falava: "Não, você não pode fazer isso". Não era isso que eu queria. A gente quer que todos vocês [jornalistas] se aproximem, que fiquem próximos da gente. Acho que um trabalho completa o outro. O que eu senti e descobri é que realmente aconteceu essa distorção, causada por despreparo. Mas graças a Deus já acabou.

Talvez a grande novidade de "Amanhecer" seja "Depende da Gente", uma música com arranjo de pegada R&B. É o início de uma carreira internacional?

Na verdade, já está acontecendo. E naturalmente, o que é o mais legal. Eu nunca gostei de forçar nenhuma situação. Mesmo aqui no Brasil, eu sempre fui eu mesma, e o público me recebeu. Isso de ficar na obrigação acho muito ruim porque tudo tem prazo de validade. Então, se é para construir uma carreira sólida, bem-sucedida, que seja digna. Já gravei com Alejandro Sanz, com artistas internacionais. Sei que muita gente lá fora já fala de mim, procura minha música. Em Portugal, a gente lança um disco, e praticamente uma semana depois ele já é disco de ouro.

E esse novo visual, de calça, sem a cinturinha de pilão, vai para o palco?

[risos] Acho que minha cintura marcada é eterna, não tem jeito. Mesmo porque eu coloco uma calça, e o já povo fala. Vou apresentar esse lado que sempre existiu, mas que eu ficava um pouco intimidada, talvez por ser um pouco tímida. Acho que é bacana mostrar esse outro lado. O povo está curtindo. E eu mais ainda. Estou me sentindo mais leve. Eu não prendia o cabelo de jeito nenhum. Essa juba!

E quando criticam seu visual?

Receber crítica nunca é bom. Principalmente quando você vê que vem de um amador. Acho uma grande pena. Mas faz parte, né? O que seria da luz sem a escuridão? Eu também cometo meus erros. Tem dia que você está para o pé, tem dia que está para a mão. Mas eu saio de casa feliz em relação a tudo que vou usar. Hoje estou superfeliz com essa botona aqui, com os acessórios fazendo barulho [risos].

Nem todo mundo sabe, mas você faz trabalhos filantrópicos, geralmente de forma discreta. Tem medo que as pessoas interpretem isso errado?

Essa coisa de ser entendida de maneira errada depende muito de como a informação foi passada. E de quem a passou. Eu tenho essa preocupação, sim, porque sou formadora de opinião, e eu sei que posso ajudar. Nas ONGs que eu estou auxiliando, graças a Deus a coisa está caminhando bem. Tem uma que a gente está com alguma preocupação, que é a CEEG [Centro de Equitação e Equoterapia Gileade, de Sete Lagoas]. A gente precisa muito de apoio lá. Eles têm que se estruturar quase que do zero. Acho esse trabalho muito importante. Só não sou de ficar falando: 'Olha só o que estou fazendo'. Até porque, se eu fosse anônima, eu faria do mesmo jeito.