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Legião Urbana faz show de novos talentos em São Paulo

José Norberto Flesch

Colaboração para o UOL, de São Paulo

08/11/2015 08h01

Quem deu o tom no show que os ex-integrantes do Legião Urbana fizeram na noite deste sábado (7), em São Paulo, não foi a geração Coca Cola, como diz a letra da canção da banda, mas sim uma boa amostra da nova geração da música brasileira. A cantora Marina Franco, da banda carioca Glass and Glue; e os cantores Jonnata Doll e André Frateschi assumiram os vocais na apresentação que lotou o Espaço das Américas e serviu, segundo o guitarrista Dado Villa Lobos, como tributo ao grupo brasiliense.

Frateschi fez as vezes de substituto "oficial' de Renato Russo durante o show, que começou com mais de 30 minutos de atraso. Com o intuito de celebrar os 30 anos do primeiro e homônimo álbum do Legião Urbana, o cantor assumiu o microfone e ajudou Dado e o baterista Marcelo Bonfá a tocarem o disco na íntegra, e com as músicas na mesma ordem em que aparecem no famoso LP.

Foi bom para o público, que armou um karaokê em "Por Enquanto", faixa que encerra o disco e também conclui a primeira parte do show. Com baixo, uma segunda guitarra e teclados no apoio sonoro, o grupo mandou, antes, versões bem aceitáveis de "Será", "Ainda é Cedo", "Soldados" e as demais faixas.

Apesar de Dado ter declarado que a turnê que passou por São Paulo neste sábado não é uma volta do Legião, mas um tributo, o nome da banda surgiu no cenário logo no início. O tom de homenagem pretendido começou de verdade quando a imagem de Renato Russo apareceu no intervalo entre a primeira e a segunda parte do show.

Foi nessa parte 2 que se revezaram os demais convidados. Jornada Doll, uma espécie de Iggy Pop do sertão, agradou com "1965 (Duas Tribos)", em versão um pouco diferente. No final, o cantor ainda foi até a plateia. Marina Franco assumiu os vocais em "Dezesseis", que segundo Dado, nunca havia sido tocada ao vivo pelo Legião e entrou no tributo a partir de escolha da própria cantora.

O ponto lamentável do line-up de aparições foi a presença de Rodrigo Amarante, do Los Hermanos. Sem presença de palco e com afinação sofrível, ele mandou "Monte Castelo" e "Quase Sem Querer". Ainda voltou no bis para "Índios".

A parte final abriu com "Faroeste Caboclo", momento em que mais se sentiu a falta de Renato. Frateschi não decepciona quando faz às vezes do cantor original, mas nesta, especialmente, o tom emocional que Russo impetrava à canção mostrou-se necessário, porém pouco eficiente na interpretação do "substituto".

A maior surpresa, no entanto, ficou guardada para o fim. Antes de encerrar as mais de duas horas de show com "Que País é Este", Dado resgatou a veia política da Legião e, com ironia, dedicou a música ao ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), que há alguns dias suspendeu a ação que tramitava na Justiça Federal do Rio de Janeiro contra militares acusados de homicídio e ocultação de cadáver do ex-deputado Rubens Paiva, morto durante a ditadura militar, em 1971.

Fica claro que, ainda que letras como a de "Que País é Este" e "Perfeição" - música que fechou a segunda parte do show - tenham sido escritas há quase 30 anos, se mostram tão atuais que a Legião, se ainda existisse, nem precisaria de novas canções para falar sobre o que acontece hoje no Brasil.