Topo

Novo disco de Adele é um emotivo (e cansativo) diário aberto

Adele na capa de seu novo álbum, "25"; cantora exorciza de forma intimista  - Divulgação
Adele na capa de seu novo álbum, "25"; cantora exorciza de forma intimista Imagem: Divulgação

Leonardo Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

20/11/2015 17h25

Após quase quatro anos na penumbra, Adele voltou explorando ao limite os elementos que a fizeram um dos maiores fenômenos recentes da música pop. Em “25”, álbum lançado nesta sexta (20) boicotando os serviços de streaming, ela capricha na potência vocal, prioriza arranjos etéreos, quase sempre grandiosos, e entrega letras tão intimistas quanto as anotações de um diário adolescente.

A proposta pode soar repetitiva e cansativa e soa, mas o fato é que nenhum fã terá do que reclamar. Esse é o terreno em que Adele caminha com mais desenvoltura. Aos 27 anos, ela tinha dois a menos quando começou a trabalhar nas músicas que, segundo ela, foram compostas como forma de "apagar o passado". Aparentemente, ela se refere ao ex, o fotógrafo Alex Sturrock, que já havia inspirado o disco "21" (2011). Parece não ter sido o suficiente.

“Agora eu sou uma mamãe que tem muita coisa na cabeça. Tenho que limpar um monte de coisas que me prejudicam, o que é realmente terapêutico, porque eu consigo guardar rancor. A vida é muito mais fácil quando você não acumula seu passado", disse a cantora em entrevista recente à revista à britânica "i-D".

Como se quisesse ver a vida passando ante aos olhos, Adele evoca o passado em quase todas as faixas de “25”. Vai da infância em “River Lea”, em que usa a metáfora do rio inglês para justificar sua personalidade, passeia pelos (muitos) traumas sentimentais (“Hello, "When We Were Young", "Million Years Ago") e enfim desemboca na maternidade ("Sweetest Devotion"), sua grande transformação até aqui.

Entre mágoas, lenços e lágrimas, o amor parece triunfar no fim. “Meu amor é tão profundo e verdadeiro pelo meu homem que me coloca em uma posição em que eu consigo finalmente estender a mão para o ex. Deixe-o saber que eu o superei", disse ela esta semana, em entrevista ao “The Guardian”.

Veja abaixo um faixa a faixa de "25".

1. "Hello"  

No primeiro single do disco, Adele tenta superar um relacionamento usando uma clássica estratégia: ligar para o ex-namorado. Cantada em primeira pessoa, assim como a música homônima de Lionel Richie, é metade deprê, metade grandiosa. Os fãs amaram.

2. "Send My Love (To Your New Lover)"  

A batuta dos produtores Shellback e Max Martin, que assinam a música, aparece forte em forma de beats contemporâneos. É um dos momentos mais pop e otimistas do álbum. Algo totalmente Adele, mas que poderia ter sido gravado por Rihanna.

3. "I Miss You"  

Climática, leva assinatura de Paul Epworth, do sucesso vencedor do Oscar "Skyfall”. Com um dos melhores arranjos, fala francamente sobre sexo e sobre uma entrega cega à paixão: “Trate-me suave, mas me toque cruel”.

4. "When We Were Young"  

Mais uma balada nostálgica de Adele. Ou como ela se sentiu ao completar 25 anos. A menina sofre. “Deixe-me te fotografar sob esta luz/No caso desta ser a última vez/Que nós conseguimos ser exatamente como éramos/Antes de percebermos/Estamos tristes por estarmos envelhecendo.”

5. "Remedy"  

Sobre um econômico arranjo de piano, Adele canta melosamente sobre ser o antídoto da solidão e da “sofrência”. Mas aqui o amor aparece diferente, mais fraternal. Tem tudo para ser um dos ápices dos shows, com a plateia cantando cada verso em uníssono.

6. "Water Under the Bridge"  

Um pouco de balanço não faz mal. Traz guitarras suingadas à la anos 1980, mas com produção moderna. A letra faz referência ao namorado, o empresário Simon Konecki, e vai ao estilo “me ame ou me deixe”. A melodia é chiclete, a cara do pop rock da última década, com direito a “ô, ô, ô” no refrão.

7. “River Lea”

Produzida pelo requisitado Danger Mouse, faz Adele deitar no divã para falar sobre suas raízes. Para isso, ela usa a metáfora do rio Lea, que corta a capital britânica. "Está no meu sangue e eu mancho cada coração que eu costumava curar", canta. “Havia algo na água, agora há algo em mim.”

8. "Love in the Dark"  

Piano, cordas e aquele sentimento complexo de que o amor acabou e você tem de deixar alguém para trás. Tudo o que ela mais precisa(va). “Não posso te amar no escuro/Parece que estamos a oceanos de distância/Tem tanto espaço entre nós/Talvez já estejamos derrotados.”

9. "Million Years Ago"

O violão singelo traz de volta o clima do primeiro álbum, “19”. Mas, diferente do passado, ela solta a voz em uma melodia que chega a lembrar Burt Bacharach. Novo ensejo para rememorar a sofreguidão. “Olhe para o céu, e não apenas no chão/Eu sinto que minha vida está passando pelos meus olhos/E tudo o que posso fazer é observar e chorar.”

10. "All I Ask"

A ideia para a parceria de Adele com o cantor Bruno Mars era fazer algo mais acelerado, até dançante, mas a música acabou virando uma balada dramática e com ecos de Mariah Carrey. Mas Adele é Adele. Fala sobre ter uma última e edificante noite de amor. “Me dê uma memória que eu posso usar.”

11. "Sweetest Devotion"

O disco não poderia acabar sem uma homenagem a Angelo, filho da cantora com Simon Konecki, que nasceu em 2012. “Eu não estava pronta, agora estou/Eu estou indo direto para você/Você será eternamente aquele a quem eu pertenço”, esgoela-se a mamãe coruja.