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Músicos do Eagles of Death Metal contam como escaparam de ataque em Paris

Integrantes da banda Eagles of Death Metal falam sobre atentado durante show no Bataclan, em Paris, em entrevista à Vice - Reprodução
Integrantes da banda Eagles of Death Metal falam sobre atentado durante show no Bataclan, em Paris, em entrevista à Vice Imagem: Reprodução

Do UOL, em São Paulo

25/11/2015 18h34

Os momentos de terror ocorridos na casa de shows Bataclan, em Paris, na semana passada, foram lembrados pelos integrantes da banda norte-americana de rock Eagles of Death Metal, que na ocasião se apresentava no local. Em entrevista à revista "Vice", divulgada nesta quarta-feira (25), os músicos relatam o que viram naquela noite e como escaparam dos terroristas. O ataque deixou 89 mortos dentro da casa de shows, entre eles Nick Alexander, um dos membros da equipe da banda.

"Achei que fosse um problema de som, mas logo percebi que não era isso e vi os atiradores", contou o guitarrista Eden Galindo. "Então, Jesse [Hughes, vocalista da banda] correu em minha direção e ficamos no canto do palco. Não sabíamos se eles estavam mirando na gente ou o que estava acontecendo. Um dos atiradores ficou sem munição, então quando ele recarregou a arma, o Jesse olhou para mim e falou: 'Vamos'. E saímos do palco".

Eden lembrou que subiram as escadas da casa e foram até o camarim para tentar encontrar Tuesday Cross, namorada de Jesse e que estava filmando o show e transmitindo ao vivo pelo site Periscope. "Ela não estava lá, então voltamos correndo porque vimos o atirador lá em cima. Descemos as escadas e saímos por uma porta lateral que dava em uma pequena rua. Os fãs nos viram e nos ajudaram, foram muito solícitos, [falavam] 'venham por aqui'".

O baixista Matt McJunkins lembrou que o público começou a correr e a ocupar uma sala da casa. "Algumas pessoas tinham sido baleadas e havia muito sangue. Colocamos cadeiras para bloquear a porta". Segundo ele, as pessoas usavam uma garrafa de champanhe como arma de proteção contra os terroristas. "Era tudo o que tínhamos naquele momento".

Julian Dorio, baterista da banda e que participou da entrevista por videoconferência, disse que ficou confuso com o próprio som. "Somos uma banda barulhenta, mas os primeiros tiros foram tão fortes que eu sabia que havia algo de errado. Senti uma pressão, olhei e vi dois atiradores mirando a plateia. Aí comecei a engatinhar para o lado direito do palco, me protegendo atrás dos equipamentos. Vi o Eden e o Jesse correndo e corri atrás deles."

Jesse lembrou que algumas pessoas começaram a seguí-lo. "Eu dei de cara com um dos atiradores. Parei e gritei [para as pessoas que o seguiam]: 'Não venham por aqui'". Foi quando ele viu a porta de saída de casa, mas ainda não havia encontrado a namorada. "O Julian estava na minha frente. E então a Tuesday viu o Julian, gritou, e eu me senti um pouco mais aliviado por saber que ela estava bem. Mas estávamos tão atônitos que ficamos parados ali, em frente àquela saída, sem saber bem o que fazer".

Shawn London, engenheiro de som do grupo, estava perto das portas do Bataclan e ouviu os tiros vindo de trás dele. "Os terroristas entraram e começaram a atirar imediatamente. Eram dois". Shawn contou que as pessoas começaram a cair mortas no chão, enquanto outras corriam. "Não havia para onde ir". O engenheiro diz que um dos atiradores chegou a mirar nele, mas errou o tiro.

"Tinha muita gente caída e sangrando ao meu redor, então acredito que ele [o terrorista] achou que eu estava morto". Shawn disse que conseguiu fugir quando percebeu que o atirador estava recarregando a arma e que, ainda assim, continuou atirando enquanto ele corria com um grupo de aproximadamente seis pessoas, algumas já feridas por tiros. 

Quando todos estavam fora do Bataclan, foram levados a uma delegacia de polícia. Jesse disse que sua primeira ação foi ligar para Josh Homme, vocalista do Queens of the Stone Age e confundador do Eagles of Death Metal, mas que não estava presente no show. "Quando chegamos à delegacia, ainda estava um caos. Havia fãs cobertos de sangue e nós ainda não sabíamos bem o que estava acontecendo, não havia notícias", lembrou Eden. 

Josh Homme disse que "demorou um tempo para acreditar que aquilo estava acontecendo, porque ainda não havia notícias". "Eu fui imediatamente para nosso escritório para começar a fazer qualquer coisa que pudesse ajudar a trazê-los de volta". Durante a entrevista, Jesse começa a chorar e interrompe o amigo. "Eu me senti tão culpado por ter deixado Matt e Dave no palco. Eu não queria que nada acontecesse com eles, eu realmente precisava que eles saíssem de lá, porque nós percebemos o que estava acontecendo quando saímos. Josh não me deixaria pensar sobre isso. Apenas espero que você me entenda, Baby Duck, eu te amo muito. Você é algo real para nós. Porque essa sempre foi a nossa banda."

Josh mostra ao jornalista Shane Smith uma lista de papel com os nomes das pessoas que foram mortas no Bataclan. "Eu gostaria de conversar com os pais dessas pessoas". "O que você diria?", pergunta o jornalista. "Eu não saberia o que dizer", responde Josh, chorando. "Talvez não existam palavras para isso", conclui Josh. "Nós representamos os fãs que não sobreviveram. Histórias que podem nunca ser contadas".

"Eu quero voltar a Paris. Quero ser a primeira a banda a tocar na reabertura do Bataclan. Porque eu estava lá quando ela se silenciou. Nossos fãs foram lá para ver rock and roll e morreram. Quero voltar lá", revela Jesse.

"Não temos escolha. Temos que terminar a turnê. Não só para nós, para os fãs, para o Nick Alexander. Não só por que essa é a vida. Isso não é um ator político. A beleza disso vai além. É a condição humana. Vamos recrutar gente para fazer parte da vida, para serem cidadãos no mundo", finaliza Josh.
 

VEJA A ENTREVISTA COMPLETA (EM INGLÊS):