Rio de Janeiro

Escolas cariocas trazem a melhor safra de sambas dos últimos anos

Anderson Baltar

Do UOL, no Rio

  • Eduardo Hollanda/Divulgação

    A bateria da escola de samba Beija-Flor, comandada pelos mestres Rodney e Plínio, acompanhou as 12 agremiações no lançamento oficial do CD dos samba-enredos do Rio

    A bateria da escola de samba Beija-Flor, comandada pelos mestres Rodney e Plínio, acompanhou as 12 agremiações no lançamento oficial do CD dos samba-enredos do Rio

Lançado com uma festa para convidados na noite de terça (1), no Rio de Janeiro, o CD das escolas de samba do Grupo Especial do Carnaval carioca chega às lojas cercado de expectativa. Pelas quadras e barracões, a empolgação dos sambistas é movida pela percepção de que a safra de sambas-enredo pode ser a melhor dos últimos 15 anos. A coletânea das escolas, que até o início dos anos 90 liderava a lista dos mais vendidos na época natalina (em 1989, vendeu 1,5 milhão de cópias), viveu um longo período de ostracismo, sendo batida nas paradas e no inconsciente coletivo por ritmos como o axé.

Mas, na esperança dos especialistas que participaram de uma enquete organizada pela Rádio Arquibancada (webradio especializada em Carnaval), no que depender da qualidade das obras escolhidas para 2016, o samba-enredo poderá voltar à moda. "A safra de 2016 é uma das melhores dos últimos tempos e equilibrada em alto nível. Talvez tenhamos a melhor leva de sambas desde meados dos anos 90. O que mostra que o samba-enredo é um gênero musical que é sujeito a idas e vindas e renasce, de forma altamente surpreendente", acredita o jornalista e comentarista de Carnaval Fred Soares.

De acordo com os analistas, três sambas largam na frente dos demais em relação à sua qualidade: Imperatriz Leopoldinense, Unidos da Tijuca e Portela. Curiosamente, as duas primeiras escolas trazem enredos baseados no mundo rural. A Imperatriz faz uma homenagem à dupla sertaneja Zezé Di Camargo e Luciano e a Tijuca exalta a pujança do agronegócio da cidade mato-grossense de Sorriso. Mas, segundo o jornalista Fábio Fabato, a pouca familiaridade dos temas com a folia carioca não foi suficiente para atrapalhar a inspiração dos poetas: "São enredos que, num primeiro momento, causaram estranheza. Porém suas sinopses foram muito bem escritas e ajudaram a surgir bons sambas". A Portela, sob o comando do carnavalesco Paulo Barros, traz um samba com jeitão de anos 80 – o que despertou uma reação apaixonada de seus torcedores.

Na opinião dos analistas, Salgueiro, Beija-Flor, Mangueira, Vila Isabel e Estácio de Sá também contam com sambas de ótima qualidade. Mas, na opinião do produtor musical Chico Frota, ao contrário de anos anteriores, até as obras menos bem avaliadas têm suas virtudes. "Não temos, como em outros anos, sambas de nível muito ruim, que fazem o folião pular a faixa do CD. Temos sambas de qualidade muito boa puxando a safra e outros, bastante interessantes, que devem propiciar bons desfiles", acredita. O jornalista Ralph Guichard destaca como um diferencial nos sambas de 2016 o fato de que todos foram escolhidos em suas quadras com o apoio das comunidades das agremiações: "Sem dúvidas, quando o samba cai no gosto dos componentes da escola, suas qualidades se acentuam, já que o canto é muito mais apaixonado".

Gênero musical de características totalmente singulares, o samba-enredo é feito por encomenda pelos compositores, que buscam vencer a disputa interna  contando  uma história pré-definida pela escola a partir de uma sinopse. E, em um ano de crise, o Carnaval 2016 tem um fator que a distingue dos anos anteriores: a pouca presença de enredos patrocinados.

Na opinião do escritor e historiador Luiz Antônio Simas, as escolas tiveram que usar a cabeça para encontrar bons temas e, a partir daí, propiciar aos seus compositores a oportunidade de fazer sambas de melhor qualidade. "Um enredo ruim dificilmente consegue trazer um bom samba. Já, mesmo com um bom enredo, o samba, se não for brilhante, pode conquistar seus componentes e ser burilado até o desfile. O samba-enredo não é uma obra fechada; ele pode crescer muito nos ensaios e explodir na avenida. Muitas vezes um samba em que acreditamos muito não acontece e outro, que ninguém apostava, vira a sensação do carnaval", conclui Simas.

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