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David Gilmour transporta 40 mil para o mundo fabuloso do Pink Floyd

Jotabê Medeiros

Colaboração para o UOL, em São Paulo

12/12/2015 00h55

Sem aviões explodindo, sem muros de isopor, sem pirotecnia, sem efeitos mirabolantes, munido apenas de um único telão (que parecia uma cama elástica de bombeiros), durante três horas (com 20 minutos de intervalo), David Gilmour fez 40 mil pessoas viajarem ao melhor do núcleo central da música do Pink Floyd.

Ele tocou 12 canções de sua lendária banda, mas foi o seu mágico toque numa descascada Fender Stratocaster que marcou a noite de forma definitiva. Sua maestria no instrumento, além da visão unificadora das diversas facções inseridas dentro de meio século de música do Pink Floyd, foram o diferencial do seu primeiro show no Brasil e na América do Sul, na noite dessa sexta-feira (11), em São Paulo, no estádio Allianz Park.

Do Pink Floyd, Gilmour compôs um painel quase completo: estavam lá desde "Astronomy Domine" (1967, do disco de estreia da banda, com 21 anos de idade) até canções dos mais recentes, como "High Hopes" (de Division Bell, 1994). O som era perfeito, cheio das ondulações psicodélicas e levemente surrealistas do grupo.

O disco mais representado na noite foi "Rattle that Lock" (2015), álbum solo de Gilmour, inspirado pelo Livro 2 do Paraíso Perdido, de John Milton, poema épico de natureza bíblica que alegoriza os interesses reunidos no estado de guerra, sejam os de Deus ou os de Satanás. O telão, no início, mostrava cenas em animação com rios de lava, corvos, maremotos.

Ele abriu a noite às 21h11 com "5 A.M." e "Rattle that Lock", além de "A Boat Lies Waiting", a densa "Faces of Stone" e "The Girl in Yellow Dress", são todas desse álbum solo de Gilmour, "Rattle that Lock". Quando o telão o mostrou empunhando pela primeira vez a mítica "Black Strat "(a guitarra que comprou no Manny's, em Nova York, em 1970, após o Pink Floyd ter tido todo o equipamento roubado) foi em "The Blue", e foi de lamber os olhos da alma.

Do Pink Floyd, prevaleceram "The Wall" (1979, com canções como Run Like Hell e Comfortably Numb) e "Dark Side of the Moon" (1973, um dos mais vendidos da história), como Money e Us and Them). Wish You Were Here (uma das mais belas baladas já paridas pelo pop, em 1975, do álbum homônimo) foi a quarta canção da noite, o primeiro impressionante coral da multidão.

Os solos de saxofone do brasileiro João Mello, novo integrante da banda de Gilmour, foram largamente publicizados no telão, até que o próprio Gilmour brincou: "Basta!", disse, rindo. A dobradinha de Gilmour e Phil Manzanera em "Wish You Were Here" foi celestial.

Houve um problema com o som do baixo em Money, o que fez Gilmour interromper a música duas vezes. O público também pareceu sentir certa quebra de ritmo, como na jazzy The Girl In Yellow Dress - mas por falta de familiaridade do público, porque a canção é uma pedra de toque da excelência vocal de Gilmour.

Ao enfileirar Astronomy Domine e Shine on You Crazy Diamond, fez belíssima homenagem ao seu antecessor na banda, Syd Barrett. O bis, com Run Like Hell, Time e Comfortably Numb, levou o público direto para a Swinging London em tempos cavalheirescos e psicodélicos.

Gilmour volta ao Allianz Parque neste sábado. Dia 14, toca em Curitiba (PR) e dia 16 em Porto Alegre (RS).