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Em Brixton, brasileiros e ingleses se despedem de Bowie em clima de show

Márcio Cruz

Colaboração para o UOL, de Londres

11/01/2016 23h44

Antes de entrar na boca dos londrinos como sinônimo da gentrificação, Brixton, bairro localizado ao sul da cidade de Londres sempre foi famosa por sua ligação com grandes da arte e com a comunidade negra. Van Gogh viveu em Brixton por alguns anos. Paul Simonon e Mick Jones, do Clash, são de lá.

Nascido em uma casa vitoriana na rua Stansfield, uma pequena travessa a menos de duzentos metros da Brixton Academy, David Bowie viveu no bairro apenas até os 6 anos de idade e frequentou uma escola em Stockwell. A rua permaneceu calma durante todo o dia, com poucos fãs, que prestavam homenagem trazendo rosas, velas, e mensagens. "Parece que não tem ninguém aí", dizia um deles.

O local escolhido pelos fãs para relembrar o ídolo foi a praça em frente ao Ritzy. Desde a manhã, o cinema local atraia a atenção dos fãs, da imprensa e de passantes com um letreiro especial que anunciava a programação para o resto do dia: "David Bowie. Our Brixton Boy. RIP".

Por volta das 17h, horário em que a maioria dos trabalhadores deixa os escritórios, o lugar permanecia tranquilo. Mas às 18h, o coro de 'Let's Dance", do álbum homônimo de 1983, já podia ser ouvido do segundo andar da Tate Library, a biblioteca local, que fica bem em frente à praça.

Cercados, os fãs tentavam improvisar algumas músicas a partir de letras que encontravam em seus celulares. "Andem logo com isso, antes que ele volte", brincou um deles fazendo em referência à Ziggy Stardust, entidade que Bowie criou e sepultou nos anos 1970.

"Quando eu era criança eu ouvia Beatles e os Stones. Mas mais tarde, você meio que começa a ouvir a sua própria música e eu ouvia Bowie e Alice Cooper. O primeiro show ao qual eu fui, eu tinha 15 anos e foi no dia 6 de maio de 1966 no Wembley Arena, que na época era chamado de Wembley Empire Pool e foi do David Bowie," relembrou o inglês Phil Mark.

O músico gaúcho Luiz Bruno, 34, mudou-se para Londres há dois anos para poder fazer música e ter sua banda. "A gente estava cantando ali de galera. 'Cantamos Changes', 'Oh You Pretty Things' e 'Fill Your Heart', que que é uma música que tem a ver com Aleister Crowley", disse.

Quando veio morar em Londres, a antropóloga Luana Kaderabek, 35, sempre teve o sonho de encontrar pelas ruas David Bowie ou Damon Albarn. "Eu me sinto privilegiada de estar aqui neste momento", revelou. "E deu certo", brincou.

Em Brixton, fãs cantam em homenagem a David Bowie

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Por toda a parte, era possível ver rostos pintados com glitter e no formato do raio cor-de-rosa da capa de "Aladdin Sane" (1973), que virou uma das marcas mais reconhecíveis do artista. Os amigos Timothy Gibbons, 18 , Dodie Carter e Siena Venturine eram algumas dessas pessoas.

"Somos estudantes de arte, e ele é uma inspiração. Tem uma frase que eu ouvi que eu adoro que diz que ele faz com que todos que são de fora se sintam incluídos. E eu adoro isso", disse Dodie. 

"Não há ninguém como ele. Eu sou tão agradecido por tudo que ele fez que eu achei que deveria vir prestar uma homenagem para ele hoje", disse Gibbons.

Para a estudante Emma Beny, o clima também era de show. "Estávamos ontem mesmo falando com meus amigos o quanto gostaríamos de vê-lo tocar. É claro que não vamos mais ter essa chance, então isso é o mais próximo, a gente aqui reunido celebrando com todo mundo", disse.

Às 18h, cerca de 40 pessoas reuniam-se junto a um mural pintado com o rosto do artista, em frente à estação de metrô de Brixton. Duas horas depois, já eram mais de 100.

De violão nas costas, o jornalista Tim Hakki, 23, repórter da famosa publicação NME, era um deles. "Eu o admiro porque no rock você tem um monte de machos-alfa. Você tem seus Elvis e Chuck Berries, mas Bowie era um macho-Beatle", disse. Hakki destacou também a capacidade de reinvenção do artista, que lhe rendeu o apelido de Camaleão do rock.

"Era um pouco afetado e extravagante e era ele mesmo. Era afim de coisas que rock stars não deveriam, como kabuki (técnica teatral japonesa) e música eletrônica alemã, jazz". "E eu trouxe o violão porque eu achei que de repente eu poderia encontrar algum outro músico e fazer algum som."