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"Sou crucificado dos dois lados", diz violeiro caipira que toca Slayer

Os violeiros Ricardo Vignini e Zé Helder no projeto "Moda de Rock" - Fernando Yakota/Divulgação - Fernando Yakota/Divulgação
Ricardo Vignini e Zé Helder no projeto "Moda de Rock"
Imagem: Fernando Yakota/Divulgação

Felipe Branco Cruz

Do UOL, em São Paulo

13/01/2016 06h00

Viola caipira combina com heavy metal? A dupla Ricardo Vignini & Zé Helder garante que sim. Tanto é que chega ao mercado neste mês o segundo disco do projeto “Moda de Rock”, onde os músicos adaptaram clássicos do metal em ritmo de viola. As faixas vão desde “Refuse/Resist”, do Sepultura, passando por “Raining Blood”, do Slayer, até “Diary of a Madman”, do Ozzy Osbourne.

O primeiro disco, lançado em 2011, rendeu mais de 300 shows, inclusive no exterior. O lançamento do novo trabalho, que já pode ser ouvido no UOL Música Deezer, ocorre neste domingo (17), às 18h, no Sesc Pinheiros, em São Paulo, e vai contar com a participação do guitarrista Robertinho de Recife.

Ao UOL, Ricardo Vignini disse que as duas faixas mais difíceis de adaptar foram “Raining Blood” e “Diary of Madman”. “Slayer é rápido e barulhento. Sua velocidade e complexidade deu trabalho”, explicou. “A faixa do Ozzy é uma epopeia. Ao estudá-la, deu para ver que ela é quase uma música erudita. É uma composição sofisticada”, completou.

Quando jovem, Vignini se apaixonou primeiro pelo heavy metal. “Os primeiros discos que comprei foram do Judas Priest e do Ramones”. Só depois que ele foi estudar a viola caipira. Hoje, o violeiro ensina adolescentes a tocar o instrumento. “Muitos chegam querendo tocar Metallica e Iron Maiden. E eu digo: ‘Primeiro vamos aprender Tião Carreiro & Pardinho’. Se você quer aprender guitarra, tem que saber Jimi Hendrix, mas se vai tocar viola, o negócio é com o Tião Carreiro. A mão de um é diferente do outro”, explica.

Para o violeiro, os fãs de rock pesado e viola são parecidos. “Os dois grupos são seguidores fiéis de seus artistas”, diz. Por causa disso, Vignini revela que seu trabalho ás vezes é atacado pelo dois lados. “Somos crucificados. Os metaleiros dizem que tocamos Metallica com instrumentos primitivos. Já os violeiros afirmam que estamos ridicularizando a viola”.

Não é o que pensam, no entanto, os guitarristas brasileiros Pepeu Gomes, Kiko Loureiro (que agora está no Megadeth), Andreas Kisser e Lúcio Maia, que já fizeram participações especiais em shows do Moda de Rock. “Estava faltando o Robertinho de Recife. A participação dele neste domingo será incrível”, garante.

Além da dupla com Zé Helder, Vignini também toca em outros projetos, como a banda Matuto Moderno, o Mano Sinistra e uma dupla com o violeiro Índio Cachoeira. “Ao todo, eu já lancei 11 discos diferentes”, lembra. “Acho que o fundamental é encarar a música com naturalidade, sem preconceitos e se divertir com o que está fazendo”.