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Nunca gostou de Bieber, mas agora não para de ouvir? Você não está sozinho

Mariane Zendron

Do UOL, em São Paulo

22/01/2016 12h17

Um fenômeno estranho está atingindo pessoas que, até então, consideravam ter "bom gosto musical". De uma hora para outra, Justin Bieber passou a ser trilha do dia a dia, das festas, e, pior (ou melhor): há quem esteja gostando. Desde o lançamento do disco "Purpose", em novembro do ano passado, ficou comum ouvir de amigos ou ler nas redes sociais algo como: "Estou ouvindo Justin Bieber, e gostando. O que está acontecendo comigo?".

Compradora de moda Caroline Couto - Divulgação/Arquivo Pessoal  - Divulgação/Arquivo Pessoal
Compradora de moda Caroline Couto
Imagem: Divulgação/Arquivo Pessoal

William Bonner foi a "vítima" mais emblemática do álbum mais recente do cantor canadense. Depois de passar por uma cirurgia, o apresentador do "Jornal Nacional" escreveu em seu Twitter: "Três choques psicológicos pós-cirúrgicos. 1) Não tenho vesícula; 2) Mudaram meu umbigo; 3) Eu... eu ouvi uma música do Justin Bieber. E gostei".

Aos poucos, o estranhamento ou a vergonha dão espaço para um entendimento: o dono do hit "Baby", que completa 22 anos em março, está mais maduro, fechando parcerias interessantes, e quem nunca deu crédito para o fenômeno teen está notando essa mudança. Diferentemente dos outros álbuns, Bieber apostou, dessa vez, mais no hip-hop e na parceria com Skrillex e Diplo, que juntos foram o duo queridinho do final do ano, Jack Ü

Três choques psicológicos pós-cirúrgicos. 1) Não tenho vesícula; 2) Mudaram meu umbigo; 3) Eu... eu ouvi uma música do Justin Bieber. E gostei.
Willian Bonner

Estou gostando e não sou "belieber"

Quando o UOL questionou esse público novo, a reação foi quase unânime: "Ok, eu topo falar, mas eu não sou seguidor de Justin Bieber". Fã de Caetano Veloso e Kendrick Lamar, a compradora de moda Caroline Couto, 30, nunca foi uma "belieber", como são conhecidos os fãs fiéis do cantor, mas disse que está ouvindo "Sorry" sem parar. "Tive preconceito quando uma amiga veio me falar que queria mostrar uma música nova dele, mas ela me ganhou pelo clipe, com aquelas meninas dançando. A partir disso, comecei a ouvir".

DJ Adriano Pagani - Divulgação - Divulgação
DJ Adriano Pagani
Imagem: Divulgação

O gerente de redes sociais Thiago Kaczuroski publicou em seu Facebook uma versão acústica de "Sorry", acompanhada da frase: "Admitam: é uma baita canção". Ele refletiu sobre o estranhamento de ter que admitir que uma música do Bieber pode ser boa. "É engraçado. Ele é um artista que ficou muito conhecido por ser o ídolo das adolescentes, uma coisa infantil até. Então rola aquela coisa 'não ouvi e não gostei'. Se as pessoas nem soubessem que é Bieber, muito mais gente ia gostar".

Abraçado pelos DJs

Nas casas noturnas e festas, o movimento é parecido. DJs que nunca haviam tocado o artista canadense se renderam a "Sorry" e "What Do You Mean?". Com mais de uma década de experiência, Adriano Pagani, residente no clube Sirena, de Maresias, no litoral paulista, nunca havia incluído Justin Bieber em seus sets, por apostar mais no house e bem pouco no pop.

Para o profissional, o pulo do gato está na parceria do cantor com o DJ Skrillex, que produziu quatro faixas do álbum, incluindo o megahit "Sorry". "Agora ficou nítido o amadurecimento dele, um timbre diferente". Pagani diz que recebeu algumas mensagens, amigos na maioria. "Me perguntaram: 'como assim você está tocando Bieber?' Mas eu não ligo. Se o som é bom, eu toco".

Thale Vieira - Divulfação/Arquivo Pessoal - Divulfação/Arquivo Pessoal
Thales Vieira
Imagem: Divulfação/Arquivo Pessoal
Dago Donato, um dos sócios da Neu, casa noturna de São Paulo, também diz que as festas com estilos mais misturados começaram a incluir Bieber no set. "Tem gente que pode tocar Bieber na zoeira, mas a gente toca porque gosta mesmo. O beat é bom e a produção é esperta", diz. "Muita coisa boa do pop, como Bieber, Drake, Rihanna, foi lançada ano passado e incluímos no set". 

Fã de Racionais e outros rappers, o antropólogo Thales Vieira, 27, também foi fisgado pelo clipe de "Sorry", protagonizado pelos grupos de dança neozelandeses ReQuest e Royal Family. O ritmo da música é um reaggaeton, com uma pegada mais latina, mas o visual das meninas é inspirado no hip-hop. "Isso de apostar na dança foi uma grande sacada, e o som é bem maneiro. Só acho uma pena ele se aproximar do hip-hop e fazer um clipe em que só aparecem mulheres brancas", aponta.

Rafa Maia, DJ da Festa Nega, em São Paulo, diz que Bieber não toca amplamente em seu evento por conta da seleção que celebra mais a cultura e os artistas negros, mas a aproximação de "Sorry" com a cultura latina fez com que ela fosse aceita no setlist. "'Sorry' é de longe a minha preferida. Para mim, ela é dessas músicas que ultrapassam barreiras de idade e tudo mais, atinge todo mundo. É impossível ouvir e não dançar".