Com Racionais em fase urgente, Blue diz: "Brasil só não evoluiu a política"
O Racionais MC’s volta a subir ao palco de uma casa de shows grande em São Paulo neste sábado (9), no Citibank Hall, com direito a novo figurino, cenário e algumas surpresas para os fãs. Algo impensável para um grupo que fez fama por ser pouco afeito a aparições e produções grandiosas.
“As coisas mudam, as pessoas mudam, a gente precisa mudar também. Não dá para ficar na fita K7. A linguagem é outra e temos que assimilar essa mudança. Não dá para pedir para uma pessoa ser o que ela foi há 20 anos", observa Edi Rock.
Ainda no pique dos 25 anos de carreira, comemorados em 2014 no mesmo local, os fãs foram convocados para escolher parte do repertório. Os clássicos de sempre lideraram a votação nas redes sociais do Racionais: “Jesus Chorou”, “Capítulo 4, Versículo 3” e “Vida Loka”. Em conversa com o UOL, Edi Rock e Ice Blue indicam que o grupo, na verdade, está em outra direção.
Eles prometem exibir um trecho do inédito documentário oficial da carreira, e uma olhadela no novo clipe para a música “Preto Zica”, gravado há algumas semanas, em um bar na Vila Olímpia, bairro nobre de São Paulo.
O vídeo será lançado nos próximos dias, com produção de KondZilla, espécie de midas dos clipes de funk. Para quem critica a onda "ostentação" do Racionais, que saltou aos olhos dos fãs com o disco "Cores e Valores", lançado em 2014, Blue rebate: "As pessoas podem ter uma televisão legal, um carro melhor, mas o negro drama não pode ter não, se não vira playboy".
Há ainda a chance de uma música nova entrar no setlist. Sim, Mano Brown, Edi Rock, Ice Blue e KL Jay estão em estúdio e prometem não demorar mais 10 anos para lançar o próximo trabalho. É o senso de urgência que tem tomado conta do grupo.
“Estamos procurando fazer as coisas o mais rápido possível para não perder tempo”, Edi Rock explica. “Daqui a pouco cada um faz 50 anos, estamos quase vendo o fim do túnel.”
A urgência só não se repete quando o assunto é a polarização política acerca do impeachment de Dilma Rousseff. Blue, no entanto, se diz contrário à saída da presidente: “Não dá para ser de direita por causa de uma suspeita". E lamenta: "A única coisa no Brasil que não evoluiu é a política."
Confira a entrevista com Edi Rock e Ice Blue:
"Tem muita gente que é da esquerda que está envolvido e está decepcionado, mas não dá para ser de direita por causa de uma suspeita. Até porque nós somos periféricos, como vamos ser de direita?"
UOL - Em dois anos, o Racionais completará 30 anos de carreira. Olhando para trás, como vocês mensuram a evolução na carreira?
Edi Rock – A gente é oldschool. Eu não vejo uma evolução, vejo continuidade do trabalho. A gente ama música, ama coisas novas. Até tomamos certo cuidado com novidade demais, justamente para o público não estranhar.
Ice Blue – O plano é sempre fazer coisas novas, apesar de demorar algum tempo para sair disco, essas coisas. Nesses 10 anos que ficamos sem gravar, cada um foi fazer seu trabalho solo, cada um estava com sua responsa individual. Com os quatro juntos, hoje, a banda fica melhor. Melhora até a convivência. O Racionais só continua porque somos amigos. Cada um consegue respeitar a posição do outro, bem melhor de quando éramos jovens. Somos mais bem resolvidos. Isso reflete no grupo, é espontâneo.
Ainda tem uma parcela dos fãs que criticam os novos rumos que o grupo tomou em “Cores e Valores”. Que torcem o nariz quando Mano Brown faz parceria com Naldo ou quando vocês vão ao programa do Luciano Huck. O que vocês têm a dizer a eles?
Edi Rock – O Racionais nunca foi engessado. A gente sempre fez o que quis. Você tem que acompanhar o mundo. As coisas mudam, as pessoas mudam, a gente precisa mudar também. Não dá para ficar na fita K7. A linguagem é outra e temos que assimilar essa mudança. Não dá para pedir para uma pessoa ser o que ela era há 20 anos.
Ice Blue – O cara está condicionado com o Racionais de 1994. Ele pode ter uma televisão legal, um carro melhor, mas o negro drama não pode ter não, se não vira playboy.
O Racionais hoje está mais aberto?
Edi – Daqui a pouco cada um faz 50 anos, estamos quase vendo o fim do túnel. Estamos vendo a hora de se aposentar.
Mas já?
Edi Rock - Vou ficar cantando rap minha vida inteira? Estamos mais abertos à informação. As coisas estão muito rápidas e estamos procurando fazer as coisas o mais rápido possível. Para não perder tempo.
Ice Blue – O envolvimento é o novo movimento. Tem uma nova geração, com Emicida, Criolo, Flora Matos e Projota, e seria um pouco contraditório, em um momento de novas propostas, o Racionais travar essa continuação. Essa é uma das razões pela qual nos abrimos mais. Temos até assessoria de imprensa. É um novo começo.
Muita coisa mudou também no Brasil desde então. Como vocês estão enxergando a crise política? São contra ou a favor do impeachment da presidente?
Edi Rock – Eu acho que a justiça tem que ser feita.
Ice Blue – Eu costumo dizer que toda evolução reflete em alguma coisa. No Governo Lula, o Brasil deu uma evoluída. Periferia evoluiu, várias coisas. As pessoas ficam mais expostas, é muito mais dinheiro. É natural você falar de outras coisas. As pessoas falam: ‘Ah, o discurso de vocês de agora...’. O discurso é o mesmo. Falamos das mesmas coisas, mas de outras maneiras. As pessoas falam que “Eu Compro” é uma música de ostentação. Não, ela mostra que o dinheiro não vai mudar nada, as pessoas vão continuar desacreditando em você. A evolução na periferia é a evolução humana. O Governo Lula fez evoluir porque não dava para continuar da maneira como o Brasil era tratado, independente do partido. Essa evolução é natural, o Brasil tinha que crescer. Depois dessa crise política, acredito que o Brasil pode ser um dos melhores países. Hoje os políticos brigam pelo poder, não por uma causa. Tanta coisa para ser aprovada, e os mesmos que estão falando mal não aprovam coisas necessárias. A única coisa no Brasil que não evoluiu foi a política. Eu costumo dizer que não sou direita, sempre fui de esquerda. Independente de quem está comandando, vai ser difícil eu ser de direita por causa de uma pessoa. Tem muita gente que é da esquerda que está envolvido e está decepcionado, mas não dá para ser de direita por causa de uma suspeita. Até porque nós somos periféricos, como vamos ser de direita?
"Daqui a pouco cada um faz 50 anos, estamos quase vendo o fim do túnel. Estamos vendo a hora de se aposentar"
Vocês são contra?
Ice Blue – Lógico.
Edi - A favor da justiça, o que for melhor para o povo. Não para a minoria, para a maioria.
O público tem votado nas músicas para o show, mas tem alguma que vocês cantariam de qualquer forma, mesmo se não fosse tão pedida? Aquela que vocês acreditam ser uma das melhores da carreira? Que ainda soa atual?
Edi Rock – “Negro Drama”. Depois “A Vida é Desafio”.
Ice Blue – “Tô Ouvindo Alguém Me Chamar”. Das antigas, é a que eu mais gosto.
Em que pé está o documentário oficial que vocês estão preparando?
Edi Rock - Está na edição final. Vamos passar um resumo lá [antes da apresentação]. Um trailer de cinco minutos. A gente também vai fazer o lançamento do último clipe, “Preto Zica”. Gravamos no começo da semana passada em um bar em São Paulo, na Vila Olímpia. A gente está trabalhando.
Quanto tempo vai demorar para o próximo disco do Racionais?
Edi Rock - Já estamos trabalhando nas próximas músicas. Talvez tenha alguma amostra neste show, se ficar pronto até lá. Esse ano ainda sai alguma coisa, alguma track solta. Um ou dois singles. Estamos com gana, com sede. Muito tempo parado.
Ice Blue - O mais rápido possível.
Será uma continuação do “Cores e Valores”?
Edi Rock - É uma continuidade. É o que a gente gosta. Som grave, som pesado.
Serviço:
RACIONAIS MC'S
Sábado, dia 09 de abril de 2016 às 23h30.
Local: Citibank Hall – São Paulo (SP)
Av. das Nações Unidas, 17955 – Santo Amaro/ SP
Site: www.ticketsforfun.com.br
Ingressos (3° lote): R$ 120 (inteira) / R$ 60 (meia) - Pista
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