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Pet Shop Boys lança "tecnobrega", e DJ diz: "dá pra tocar na aparelhagem"

Os ingleses Chris Lowe (tecladista) e Neil Tennant (vocalista), do Pet Shop Boys - Divulgação
Os ingleses Chris Lowe (tecladista) e Neil Tennant (vocalista), do Pet Shop Boys Imagem: Divulgação

Leonardo Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

11/04/2016 14h12

A batida eletrônica vem cadenciada: aquele ritmo dançante e praticamente irresistível do Norte do país. No arranjo, o tom é dado por um teclado estridente e minimalista, que parece emular as composições do tecnobrega do Pará. Mas quem canta em inglês e assina a familiar “Twenty-something”, terceira faixa do recém-lançado álbum “Super”, são os ingleses do Pet Shop Boys.

Capa de "Super", do Pet Shop Boys - Divulgação - Divulgação
Capa de "Super", do Pet Shop Boys
Imagem: Divulgação

A semelhança entre a nova música da banda de synthpop e o estilo popularizado pela cantora Gaby Amarantos foi um dos assuntos mais comentados na internet na última semana. E parte do crédito desse “crossover” pode ser atribuído ao DJ e produtor paraense Waldo Squash.

Em 2012, ele foi convidado pela gravadora inglesa Parlophone para fazer um dos remixes da faixa “Memory of the Future”, dos Pet Shop Boys, que foi lançada mundialmente em single com outras quatro versões. Inusitada, a união, que foi construída a partir de trocas de e-mails com a equipe do grupo, rendeu frutos no álbum "Super".

Para Squash, é mais do que nítida a influência de seu trabalho na nova música, produzida por Stuart Price, que já trabalhou, entre outros, com Madonna, The Killers e Kylie Minogue mesmo que a crítica internacional não tenha percebido isso. O jornal inglês "The Guardian", por exemplo, ressaltou  influência do ritmo caribenho reggaeton, "parente" do tecnobrega.

O DJ e produtor paraense Waldo Squash - Divulgação - Divulgação
O DJ e produtor paraense Waldo Squash
Imagem: Divulgação

“Eu adorei o que eles fizeram. A forma que eles utilizaram batida tem bem a pegada que eu fiz naquele remix”, diz ao UOL Waldo Squash. “Conseguiram utilizar a identidade deles, aquele estilo melódico de cantar, e inseriram a 'primeiridade' que é a base. Tudo bem que não tem muita variação de batida, mas isso é opcional. Ficou bastante interessante.”

Segundo Waldo, produzir vários remixes com estilos diferentes para a mesma faixa, prática comum no pop e eletrônico atual, é uma forma de os artistas pesquisarem novas sonoridades, que posteriormente podem ser aderidas, como aconteceu com os Pet Shop Boys em “Twenty-something”.

O interesse brasileiro do duo Neil Tennant e Chris Lowe, que forma o grupo, também tem a ver com o DJ alemão Daniel Haaksman. Ele que, depois de lançar duas coletâneas de tecnobrega em 2004 e 2006, organizou o primeiro festival do estilo na Alemanha, o Lusotronics, em 2012, ajudando a popularizar o gênero na Europa.

Difícil agradar a todos

A cruzada em nome do estilo paraense, no entanto, tem lá suas dificuldades. Mesmo recebendo inúmeros elogios de músicos e fãs nas redes sociais, alguns seguidores de Waldo e do tecnobrega, os mais puristas, criticaram a mistura.

"Existem muitos aqui no Pará que são contra que bandas de fora toquem. Acho que não é por aí", afirma o DJ. "Essa música do Pet Shop Boys pode ajudar o tecnobrega a entrar pela primeira vez em vários lugares do mundo e também em várias partes do Brasil. Ainda rola muito preconceito aqui dentro."

Se a lei é a da mistura, que tal tocar “Twenty-something” na “aparelhagem”, os famosos paredões de som utilizados em festas e shows no Pará? “Esse não é um tipo de música que está sendo consumido hoje em dia. Mas, de repente, pode vir um DJ e adaptar a batida, trazendo alguns elementos legais. Tudo é adaptável na aparelhagem", conclui Waldo Squash.