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"Paul McCartney me escreveu pedindo um disco", conta John Pizzarelli

Jotabê Medeiros

Especial para o UOL

06/06/2016 11h23

"Eu estava sentado no sofá do meu apartamento, durante semanas, esperando aparecer uma ideia para um novo disco. Foi quando alguém enfiou um envelope de Fedex por baixo da porta. Eu olhei e tinha um carimbo de Londres. 'Londres?', eu pensei. 'Será que fiquei devendo lá?' Quando eu abri o envelope, começava assim: 'Olá, espero que você esteja bem!'. Era uma correspondência de Paul McCartney. Ele me dizia que tinha tido uma ideia para um disco meu e do meu pai", conta por telefone ao UOL o guitarrista John Pizzarelli, de seu apartamento no Upper West Side, em Manhattan.

A carta de Paul McCartney (com quem o guitarrista John Pizzarelli e seu pai, Bucky, também guitarrista, tinham colaborado em 2012, no disco anos "Kisses on the Bottom"), dizia assim: "Eu me dou conta de que isso pode ser um tanto imodesto, ou impositivo. Imagino que esse repertório poderia incluir minhas melodias pós-Beatles como 'Love in the Open Air' (da trilha do filme The Family Way, de 1967), 'Junk', 'Warm and Beautiful' e, possivelmente, 'My Valentine'". Era como um manual de instruções de Paul.

Pizzarelli então escolheu 13 das canções "lado B" de Paul e gravou "Midnight McCartney" (Concord Records, 2015) com uma espécie de Fab Four familiar: O irmão Martin no baixo, o nonagenário pai Bucky na guitarra base e a filha Madeline e a mulher Jessica Molaskey nos vocais. Esse show desembarca no próximo dia 7, terça, às 21h30, no Bourbon Street Music Club, em São Paulo. Em seguida, no dia 9, é a vez de Porto Alegre, no Teatro Bourbon Country. No dia 11, o guitarrista se apresenta no Vivo Rio, no Rio de Janeiro. E fecha a turnê no Teatro Bradesco, de novo em São Paulo, no dia 12 de junho.

Sobre o resultado, Adam Gopnik escreveu, na New Yorker de abril: "Mais recentemente, McCartney conclamou o maravilhoso guitarrista e vocalista da segunda geração do swing, John Pizzarelli, a fazer uma gravação com seus standards de segunda geração, e o disco que resultou, 'Midnight McCartney', talvez seja a melhor coleção de covers de McCartney jamais gravada".

"É impressionante que, 46 anos após o final dos Beatles, Paul tenha produzindo canções tão maravilhosas e algumas tão pouco conhecidas. O que eu fiz, ao visitar esse repertório dele, foi traduzi-las em jazz e bossa nova", contou Pizzarelli.

A chave da transcriação de duas das músicas, "My Valentine" e "Wonderful Christmastime", foram dois breques de samba brasileiro que ele ouviu no rádio de um táxi, em Nova York. "Essas inflexões, papapaparapapá, me vieram como uma pista. 'Talvez eu possa cantar como um sambinha', pensei. É uma transposição dessa linguagem universal, quase scats, que o samba canção tem, pequenos momentos que nos transportam para um mundo de sensações e sentimentos", ele explica.

"Após os Beatles, Paul se sentiu livre para expressar todas suas ideias musicais. Ele realmente expandiu seu pensamento nesse período, e se aproximou do American Songbook, que ele tanto admira. Outra coisa é que ele também ficou mestre na arte de tocar ao vivo, que é a coisa que ele mais ama no mundo, como eu mesmo", diz Pizzarelli.

"O estilo do jazz é pegar e transformar, sempre foi. Eu fiz isso quando comecei a tocar Beatles em forma de jazz. As pessoas ouvem e dizem: 'Mas é isso o jazz?', e vão comprar o disco, ouvir. Descobrem que não é só Cole Porter, George Gershwin, mas também James Taylor, Paul McCartney. Isso me interessa, é o que eu penso do meu ofício."

Recentemente, John Pizzarelli fez uma apresentação ao lado do grupo The Roots durante o programa Late Show, de Jimmy Fallon, e comentou a respeito. "Adorei The Roots. Caras muito engraçados e conhecem o meu trabalho, desenvolvemos grande respeito uns pelos outros. O programa é como o Jô Soares nosso", brincou.

Ao saber que Jô Soares (ele tem uma canção, Soares, no disco Bossa Nova, dedicada ao apresentador) deve encerrar seu programa na Rede Globo esse ano, emendou: "Vou correr, quem sabe ainda dá para me apresentar lá!".

John Pizzarelli (voz e guitarra) apresenta o repertório íntimo de Paul McCartney ao lado de  Paul Keller (baixo acústico), Kevin Kanner (bateria) e Konrad Paszkudziki (piano). A canção de Paul McCartney preferida de John Pizzarelli, antes que alguém lembre de perguntar, é "Maybe I'm Amazed".