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Irmão de Emicida, Fióti abraça a MPB e afasta "deprê" de escritório com EP

Irmão de rapper, rapper não é: Evandro Fióti quer deixar a MPB popular novamente - Filipe Borba/Divulgação
Irmão de rapper, rapper não é: Evandro Fióti quer deixar a MPB popular novamente Imagem: Filipe Borba/Divulgação

Tiago Dias

Do UOL, em São Paulo

01/07/2016 17h53

Por trás do sucesso de Emicida, está e sempre esteve Evandro Fióti. Empresário e produtor do irmão mais velho, ele pilota há sete anos o selo Laboratório Fantasma, e embora tenha conseguido transformar o selo da família em um case de sucesso na indústria musical, não conseguiu fugir da “deprê” que lhe abateu no ano passado.

“Essa coisa de lidar com dinheiro é necessária, mas ao mesmo tempo desgasta também. Isso me chateava”, ele explica, ao UOL, após uma reunião com a equipe de marketing da sua empresa. “Tem essa ideia na cabeça das pessoas de que a gente está rico, quando na verdade nossa prioridade é trabalhar.”

Foi resgatando o antigo sonho de se lançar como cantor que ele conseguiu remediar a situação. A cura chega agora, aos 26 anos, com seu primeiro trabalho. Alegre e solar, o EP “Gente Bonita” é reflexo de um Fióti com um sorriso ainda mais largo.



Embora tenha servido de MC de apoio do irmão, o trabalho passa ao largo do rap e abraça a MPB no sentido mais clássico e popular do gênero. “O que foi tachado de MPB no Brasil virou algo intelectualizado, muitas pessoas acham que não é para elas. Virou uma música de elite, mas sempre veio do gueto”, defende.

Mesmo com MCs assinando as seis composições, o cardápio é variado, indo do samba de Rodrigo Ogi em “Vacilão” ao reggae do novato MC Coruja em “Leve Flores”.

Logo de cara, a voz grave e o violão mais clássico, que aprendeu ainda criança no projeto Guri, dá o tom em “Obrigado Darcy”, escrita por Emicida há dois anos de encomenda para uma marca de refrigerantes. A peça publicitária buscava realçar a brasilidade na época da Copa do Mundo, mas os irmãos preferiram a inspiração nas raízes antropológicas de Darcy Ribeiro.

O clipe ainda conta com participação de Caetano Veloso, recitando um texto de Darcy --uma forcinha da amiga de profissão, Paula Lavigne. “Queria que as pessoas prestassem atenção na letra. É uma canção que não tem muitos elementos, justamente para que as pessoas se surpreendessem logo de cara”.

Emicida acompanha a gravação do EP do irmão - Filipe Borba/Divulgação - Filipe Borba/Divulgação
Emicida acompanha a gravação do EP do irmão
Imagem: Filipe Borba/Divulgação

Homem de negócios

Antes de se tornar empresário, Fióti era apenas mais um garoto das quebradas da zona norte de São Paulo que mirava em uma carreira musical. Chegou até a prestar vestibular para música na USP (Universidade de São Paulo). “Não passei, fui trabalhar no McDonald's e acabei desistindo”, lembra.

Na época, frequentou o selo Na Humilde Crew, gênese do Laboratório Fantasma, por onde foi lançada a primeira música de Emicida, “Triunfo”. Com o trabalho rendendo e o irmão em ascensão, logo sacou que não havia espaço para os dois sob o mesmo holofote. Chegou para Emicida e disse que pararia de tocar. O irmão chorou com a decisão: “Você está louco?”. A privação transformou o empreendimento amador em uma das maiores empresas de distribuição digital no Brasil hoje.

Antes que fosse sugado pelas obrigações burocráticas, se deixou entregar pela pressão dos amigos e do irmão para que finalmente lançasse um disco. O apoio o inspirou a batizar o trabalho de “Gente Bonita”, canção composta com Emicida naquela mesma época das fritadeiras do McDonald's. Gozou da posição de ser seu próprio patrão para uma produção bem azeitada. “Decidi colocar tudo que eu queria, e o bom é que eu não precisava pedir aprovação para mim mesmo.”

Os shows, em pequeno número, começam no segundo semestre, até para não atrapalhar o império a ser construído em família. Agora, sem “deprê”. “Sendo bem sincero, estou vivendo coisas bem gostosas. Tenho me encontrado. É meu primeiro filho e super valeu a pena”, diz.