Cantora de "Pokémon" celebra sucesso e pede que fãs não viciem em novo game

"Pokémon, temos que pegar". Essa frase é considerada hino pelos fãs da animação japonesa que voltou a ser moda com o lançamento do game "Pokémon Go", ainda indisponível no Brasil. Muitos não sabem quem cantou a versão em português da música de abertura do anime, sucesso no Brasil desde 1999. O nome dela é Janaina Bianchi.

"Tenho muito orgulho e amo ter cantado em 'Pokémon'", diz ao UOL a intérprete de 49 anos. "É um carinho muito grande, um reconhecimento, um agradecimento. Não esperava. A surpresa maior está sendo agora, 20 anos depois, receber todas essas manifestações de homens e mulheres, alguns pais de família, que se comovem e se emocionam ouvindo minha voz".

Janaina conta que a procura dos fãs por ela aumentou após a Netflix oferecer a primeira temporada de "Pokémon", com a abertura clássica, em setembro de 2015. A cantora diz que recebe elogios até de estrangeiros --as outras versões, incluindo em inglês, são cantadas por homens-- e muitas pessoas não reconhecem a voz dela na música mais famosa do anime.

"As pessoas pensavam que era uma menina de 12, 13 anos que cantava. Eu fazia uma voz mais jovial, mas nem planejei isso, achei que tinha a ver com o arranjo de rock. Hoje ainda consigo cantar exatamente igual", explica a intérprete, que gravou a música quando tinha 31 anos e se inspirou em bandas como Journey, uma de suas favoritas.

Em outubro, ela foi convidada pelo ator e cantor Tiago Abravanel para interpretar o tema de "Pokémon" no Baile do Abrava, um especial de Dia das Crianças, e foi ovacionada pelo público. Janaina também recebeu convites para eventos de anime e games. Empolgada com o sucesso, ela planeja regravar seu trabalho mais famoso para matar a saudade dos fãs.

"Um fã me mandou um arranjo e pediu para eu regravar. Acho que tenho esse direito (risos). Pedi um tempo, porque estou muito ocupada, mas gravaria com o maior carinho", afirma.

De "Pokémon" aos musicais

Janaina canta desde os quatro anos e já foi caloura dos programas de Chacrinha e de Raul Gil na TV. Em meados dos anos 1990, ela trabalhava com Nil Bernardes, cantor da abertura da novela "O Rei do Gado". Foi ele quem produziu o CD de "Pokémon" e chamou a colega para cantar o tema principal. O álbum ultrapassou cem mil cópias e ganhou disco de ouro, segundo a ABPD (Associação Brasileira de Produtores de Discos).

"Não subestimei em nenhum momento [o trabalho]. Não sabia o que era 'Pokémon'. Fiz como eu achava que deveria fazer. O disco bombou, as pessoas falam até hoje, é incrível a repercussão. Financeiramente, não significou nada. Ganhei um cachê para gravar e acabou. Tentei receber direitos por intérprete, mas fui informada que por ser uma versão não caberia pagamento. Absurdo, né? Mas a recompensa que eu tive é outra. O reconhecimento é muito grande", conta.

Apesar do sucesso do anime e do CD, Janaina nunca cantou o tema na televisão. Em 1999, o desenho liderava a audiência no programa "Eliana & Alegria", da Record. "Eliana sabia quem eu era, mas nunca se interessou em me chamar para cantar ao vivo no palco", diz, sem entrar em detalhes. Na época, a apresentadora também havia lançado um álbum com músicas de "Pokémon".

Depois de "Pokémon", Janaina entrou no teatro musical. O primeiro foi "Rent". Depois, "Os Miseráveis" e "Godspell", este dirigido por Miguel Falabella. Foi o último trabalho da cantora antes de se mudar para a Alemanha, em 2003, para atuar em "O Rei Leão", que ficou em cartaz durante quatro anos. Também fez "Dança dos Vampiros", de Roman Polanksi, durante dois anos.

"Foi um susto, porque fui a única cantora de São Paulo que passou no teste. A experiência foi muito rica. Odiei o clima, mas gostei da honestidade e do profissionalismo das pessoas", avalia. Após dez anos na Europa, Janaina retornou ao Brasil e tenta se firmar no mercado. Ela agora está no elenco de "My Fair Lady", musical dirigido por Jorge Takla que estreia em agosto, e dá aulas de canto.

"Não se viciem em 'Pokémon Go'"

Quando gravou a música "Pokémon", com 31 anos, Janaina disse que já tinha idade avançada para curtir o desenho. Mesmo assim, acompanhou os episódios com a filha, na época com oito anos, e tem seus personagens favoritos. E não é o Pikachu.

"Gostava do 'togeprrri' [imita a fala de Togepi)]. Minha filha desenhou para mim o Vulpix, tenho guardado até hoje. Ele é lindo, parece uma raposa com rabo de pavão", brinca.

Pouco habituada aos games, a cantora disse que não jogaria "Pokémon Go" e aconselha seus fãs a não se viciarem quando o game chegar ao Brasil: "Fazer do jogo uma rotina é muito perigoso. Tem que ser diversão, não pode ser dependência, vício. A vida real está acontecendo em volta".