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Sem glamour da MTV, produção de videoclipes vive auge na internet

"The Odyssey", filme sobre a banda Florence + The Machine, é destaque no Music Video Festival - Reprodução
"The Odyssey", filme sobre a banda Florence + The Machine, é destaque no Music Video Festival Imagem: Reprodução

Guilherme Bryan

Colaboração para o UOL, em São Paulo

13/08/2016 11h22

Um videoclipe nacional com mais de 100 milhões de visualizações? É certamente um número inimaginável de ser alcançado por qualquer emissora de televisão. E isso comprova que a produção brasileira vive seu auge, mesmo sem o glamour da época áurea da MTV Brasil, na década de 1990. Essa é só uma das abordagens do Music Video Festival, que acontece neste sábado (13) e domingo (14), gratuitamente, no Museu da Imagem e do Som de São Paulo.

Com o intuito de incentivar o aparecimento de novos talentos e premiar os melhores videoclipes nacionais do ano --como um dia já fez a MTV com o VMB (Video Music Brasil)--, o evento chega a sua quarta edição exibindo pela primeira vez no país o filme "The Odyssey", sobre os bastidores da banda Florence + The Machine, dirigido por Vincent Haycock.

Na programação há produções do mundo todo, bate-papo com diretores e nomes independentes do cenário nacional, como Silva, Liniker, Lia Paris, MC Linn da Quebrada, O Terno e Strobo, entre outros. O convidado internacional da vez é o diretor britânico Ninian Doff, responsável por clipes de artistas como Chemical Brothers, Kasabian, Royal Blood, Peace, Darwin Deez, Mykki Blanco e Graham Coxon, entre outros.

Momento favorável

O festival acontece em momento extremamente favorável aos videoclipes no mundo todo. "Hoje o videoclipe tem mais espaço do que na época da MTV", avalia o diretor Fred Ouro Preto, responsável por produções como "Na Batida", sucesso de Anitta com mais de 100 milhões de views, e "País do Futebol", de MC Guimê, com mais de 60 milhões. "Antes o clipe era um instrumento que servia para ilustrar e vender disco. Hoje, já é o produto final. Muitas pessoas recorrem ao YouTube para escutar suas músicas favoritas".

Se já era importante na época em que era exibido na televisão, hoje, com a internet, o clipe é um produto fundamental para os artistas. "A importância do videoclipe está relacionada à forma como o artista deseja desenvolver sua identidade visual, expressar opiniões e em seu posicionamento. Existem muitos casos em que o videoclipe faz muito sucesso e isso puxa a música. Às vezes acontece o contrário, não existe uma fórmula. Tem casos de videoclipes que não alcançam um número muito alto de visualizações, mas que ele se faz muito importante para estabelecer a imagem do artista", avalia Ouro Preto.

Thiago Calviño, que dirigiu o videoclipe de "Show das Poderosas", vencedor de melhor produção do ano em 2013 no Prêmio Multishow e o primeiro a ultrapassar a marca de 100 milhões de views no Youtube, credia à internet essa retomada. "A internet não cria barreiras, formatos ou restrições que talvez algum canal de TV tenha. Na internet o formato é livre e acho que isso ajuda muito o processo criativo e, principalmente, o desenvolvimento de talentos através de ideias que talvez não fossem aceitas na TV", disse ele, acrescentando que, em alguns trabalhos recentes, teve que entregar formatos diferentes para TV e internet, editando principalmente a duração dos filmes.

Maior alcance de público

Felipe Sassi começou como assistente de direção na produtora KondZilla, trabalhando no videoclipe "Tombei", da rapper Karol Conká, e é hoje um dos mais jovens realizadores de videoclipes de destaque no país. Para ele, o videoclipe impacta um número muito maior de pessoas hoje em dia. "As redes sociais e as diferentes plataformas de vídeo contribuem para a propagação do clipe. Precisa estar sempre nutrindo esse meio. A música pode até sair antes, mas o anseio por um clipe é muito maior. O videoclipe se tornou essencial na era digital", acredita ele, que concorre a melhor direção de videoclipe no Music Video Festival por "Lista VIP", do DJ Boss in Drama

Sassi define o vídeo como "a cara da música". "É a sua tradução em imagens, que muitas vezes não precisam ter relação direta com os versos. É aí que entra a liberdade artística. Ela ganha um poder de alcance muito maior. Vem acompanhada de um visual que impacta e causa diversas sensações, permanecendo na cabeça do público por muito mais tempo", diz ele, que é responsável pelos clipes de "24 Horas por Dia", de Ludmilla, com mais de 68 milhões de visualizações; e "Melhor Assim", de Biel com Ludmilla, com 43,8 milhões.

Apesar do alcance a internet, Fred Ouro Preto garante a importância de ter sido reconhecido pela televisão quando ganhou VMB de 2011 com "Então Toma", de Emicida. A mesma opinião tem Mauricio Eça, diretor dos filmes "Carrossel" e "Carrossel 2", que se destacou na década de 1990 com videoclipes como "Diário de Um Detento", dos Racionais MCs', vencedor dos prêmios de melhor videoclipe de rap e escolha da audiência no VMB de 1998. "Hoje não temos mais o glamour que a MTV dava, mas temos a internet divulgando e alcançando muito mais pessoas. Nunca se produziu tanto videoclipe como hoje. Ficou mais barato para produzir clipes e, por isso, um artista independente pode fazer seu material e divulgar muito mais do que antes".