Encontro de Paul McCartney e Neil Young marca segunda noite do Desert Trip
Imaginem um show de Paul McCartney com um reforço de Neil Young na guitarra e nos vocais. Pois bem: aconteceu, embora durante "apenas" três músicas. E foi suficiente para alimentar novas viagens sobre o que teria sido o rock se essa mistura tivesse acontecido há umas três ou quatro décadas.
Na metade do seu show no festival Desert Trip, na noite deste sábado (8), Paul convidou Young (que tinha tocado antes dele e não fez o bis por ter estourado o tempo) para subir ao palco e juntar-se à sua banda. Young veio e juntos atacaram "A Day in the Life", canção dos Beatles; "Give Peace a Chance", de John Lennon; e, pela primeira vez ao vivo num show de Paul, "Why Don't We Do It in the Road?", dos Beatles.
McCartney insistiu que o canadense fizesse um solo de guitarra e o resultado foi um momento de virulência, algo fora do controle e inesquecível. Neil Young costumava encerrar seus shows com "A Day in the Life" e estava à vontade ali, dividindo microfone com McCartney.
Paul fez a noite do Desert Trip algo a ser lembrado por muito tempo, com um show mais cheio de imprevistos e improvisos, algo ao qual não é habituado. Abriu com "A Hard Day's Night", seguiu com "Jet" e desfilou hits dos Beatles e dos Wings, como em 99,99% dos seus roteiros. Mas incluiu novidades, como a novíssima "FourFiveSeconds", parceria com Rihanna e Kanye West (com direito a letra no telão, para ajudar os fãs a criarem mais um hit).
Antes, ao violão, Paul tocara "In Spite of All the Danger", algo anterior aos Beatles, de 1958, quando eles ainda eram os Quarrymen. Cinquenta e sete anos separam a canção dos Quarrymen da parceria com Rihanna.
Como Mick Jagger homenageara os Beatles no dia anterior, com "Come Together", Paul disse que iria retribuir o tributo. E tocou "I Wanna Be Your Man", composição de McCartney e Lennon que foi gravada por Beatles e Stones (mas os Stones lançaram um pouco antes, tornando-a "sua"). McCartney reverenciou os Stones com um som de mão dupla, algo que os torna mais aparentados.
Veja a íntegra do dueto de Paul McCartney e Neil Young:
Neil Young
Mais cedo, Young abriu a segunda noite do festival Desert Trip, às 18h30, e só saiu às 20h30 porque não tinha outro jeito: Paul McCartney estava chegando.
Depois de um set acústico folk solitário, com "After the Golden Rush", ao órgão; "Heart of Gold", com gaita e violão; e "Comes a Time", ao violão, ele extraiu um gospel das profundezas do teclado, "Mother Earth", e a partir daí o show virou um bombardeio de rock.
Algumas pessoas de máscara atravessaram o palco pulverizando algo (parte visual do manifesto do artista contra a empresa Monsanto) e a a banda surgiu. Havia um totem indígena do lado direito do cenário, e tendas indígenas espalhadas onde se lia a mesma mensagem da camiseta de Neil ("Water is Life", "água é vida", em português). O ativismo permeia a obra dele, mas o próprio músico fez questão de frisar, a certa altura do show: "Vamos a alguma poesia. Porque isso é poesia, não?".
Os guitarristas Lukas e Micah Nelson encabeçam a banda que acompanha Neil, Promise of the Real, que é resultado de uma transfusão sanguínea: Lukas Nelson, um notável guitarrista, formou o Promise of the Real em 2007, após ver um show de Neil Young, e o nome do grupo veio de um verso da clássica canção "Walk On", de 1974. O pai deles, Willie Nelson, é tão lendário quanto o atual parceiro.
Micah tocou a guitarra até com o arco do violino. Eles fazem os solos como se fossem os Meninos Perdidos da Terra do Nunca em volta de Peter Pan, rodeando Young e triturando canções como "Human Highway", "Neighborhood", e emprestando delicado respeito a clássicos como "Harvest Moon", com seu coro de bezerros amamentados pela melhor música das planícies. Sabem dar peso dramático e credibilidade a antenas como "Between the Lines of Age".
Neil Young berrava e espancava as guitarras em "Powderfinger", balada rock seminal, e os meninos não se deixavam intimidar: berravam no mesmo tom. Se entusiasmaram tanto que podem ter tornado "Down by the River" a mais longa música de todo o festival até agora.
O som de Neil Young, nesse diapasão, trouxe memórias lisérgicas aos espectadores, em músicas como "Love and Only Love" e "Peace Trail", com percussão e órgão. "Nós temos só 40 segundos. Vamos tocar "Rocking in a Free World" em 40 segundos, ok?", ele disse. Teve que deixar "Hey Hey My My" para outra vez, mas saiu aplaudido de pé. E os filhos de Willie Nelson mostraram que receberam o testamento do rock e turbinaram a herança.
O Desert Trip, festival no deserto da Califórnia que reúne os maiores nomes do rock ainda vivos, ainda terá The Who e Roger Waters na noite deste domingo (9). Na sexta, Bob Dylan e Rolling Stones abriram o festival, que repete a mesma escalação no próximo fim de semana.
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