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The Who revisa a própria história em show de clássicos no Desert Trip

Jotabê Medeiros

Colaboração para o UOL, em Indio (Califórnia)

10/10/2016 08h58

"Boa sorte na eleição, galera!", disse o guitarrista Pete Townshend, do grupo britânico The Who, à plateia do Desert Trip no show que abriu a noite de domingo (9) do megafestival em Indio, na Califórnia, que reuniu os maiores nomes do rock ainda vivos. Mais discreto e sarcástico, The Who trouxe ao Desert Trip um nível de refinamento musical que parece nem caber mais no mundo, tamanho o acabamento e o artesanato.

Abrindo a noite às 18h20, com "I Can't Explain" (de 1964), a banda reforçava a todo momento o caráter retrospectivo do seu show, mostrando nos telões fotos de época e currículos de seu time de turnês, enfatizando coisas como "hoje é o aniversário de John Entwistle" (baixista do grupo que morreu de overdose em 2002). A perspectiva "o que fizemos, como fizemos, o que deixamos?" perpassa todo o concerto, um dos grandes da nossa época (na verdade, ficou difícil escolher o melhor show aqui).

Após um set que teve "The Seeker", "Who Are You", "The Kids Are Alright" e "I Can See For Miles", ficou claro o privilégio que é poder seguir ouvindo a veterana banda (Townshend é um gênio, e é espantoso notar que ele já tinha essa reputação quando Jimi Hendrix andava pela Terra.

"As próximas canções são de 'Quadrophenia'", anunciou o guitarrista Pete Townshend, e tocaram "5:15" e "I'm One". Townshend tirou de Daltrey o "cargo" de porta-voz, assumindo o posto de mestre de cerimônias - praticamente só ele falou.

Em quase todas as canções, até nas mais autônomas, como "You Better You Bet", nota-se uma queda do Who pela noção de ária operística.

A ideia generalizada é que, quando velhos, os roqueiros se tornam automaticamente indignos de seu próprio legado, que aquilo que faziam quando tinham 20 anos hoje fazem só por dinheiro. A habilidade musical permanece, mas as motivações seriam materiais, egoísticas.

"My Generation" foi uma espécie de reexame desse paradoxo: o significado da canção já é maior até do que seus autores, e é na pulsão que a banda dá à música que se difunde seu significado.

Desert Trip

Classificado como "festival do século", por reunir os maiores nomes do rock ainda vivo, o Desert Trip foi realizado na cidade de Indio, na Califórnia, no mesmo local que recebe o festival Coachella. Depois do The Who, no domingo (9), Roger Waters fez um show cheio de mensagens políticas. No sábado, as atrações foram Neil Young e Paul McCartney, que chegaram a subir juntos ao palco. Na sexta, Bob Dylan abriu o festival, seguido pelos Rolling Stones. A mesma escalação se repete no próximo fim de semana.