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Despida das fantasias, Lady Gaga busca sua verdade na simplicidade

Do UOL, em São Paulo

21/10/2016 15h20

Embora tenha estourado como a última revolução do pop, Lady Gaga chega ao seu quinto álbum ainda tateando o próprio caminho. Em "Joanne", que chegou às plataformas digitais nesta sexta-feira (21), ela mostra um pouco mais de sua essência, até então disfarçada por chapéus de lagosta e vestidos de carne crua.

Despida da produção excessiva que deu o tom em seus primeiros álbuns, Gaga busca alguma verdade musical nas raízes familiares. “Joanne” carrega no título o nome de sua tia, que morreu aos 19 anos, após lutar contra o lúpus. A julgar pela sonoridade, Joanne gostava mesmo era de country e soul --e é esse o farol de Gaga no novo disco.



Sem os arroubos de pretensão de seu último disco solo, "Artpop" (2013), ela buscou novas companhias na música alternativa. Levou para o estúdio Beck, Florence Welch (do Florence and the Machine), Father John Misty, Josh Homme (Queens of the Stone Age) e Kevin Parker (Tame Impala).

Mark Ronson (responsável pelo clássico "Back to Black", de 2006, de Amy Winehouse) é o principal parceiro neste trabalho e investe no clima mais orgânico, deixando sobressair a voz de Gaga (que aparece mais limpa após seu passeio pelo jazz, no disco “Check to Check”, gravado com Tony Bennett) e canções mais simples e melódicas --melhores do que o primeiro single, a repetitiva "Perfect Illusion". BloodPop, produtor que já trabalhou com Justin Bieber e Madonna, capricha nas batidas, sem desvirtuar o propósito do álbum.

A nova-iorquina bebe tanto na fonte caipira em "A-Yo" e “Come to Mama”, quanto pelo soul  sujo de sintetizados em “Hey Girl”. “John Wayne” chega com uma pegada mais roqueira, ao falar do homem idealizado como aventureiro, que deixa corações partidos pelo caminho.

Com o tom e as expectativas mais baixas, o disco surpreendente mesmo com as baladas, como “Million Reasons”, a mais sertaneja, e “Sinner’s Prayer, com slide guitar de Josh Homme e Sean Lennon, filho do beatle John.

Após tantos discos estridentes, dar um passo para trás nas pretensões é o melhor acerto de Lady Gaga.