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Engenheiros do Hawaii aparece até fase áurea em biografia

Capa do livro "Infinita Highway - Uma carona com os Engenheiros do Hawaii" - Divulgação
Capa do livro "Infinita Highway - Uma carona com os Engenheiros do Hawaii" Imagem: Divulgação

Guilherme Bryan

Colaboração para o UOL

21/10/2016 20h41

A fase áurea de um dos trios mais famosos do pop rock nacional, Engenheiros do Hawaii, tem a história contada na biografia “Infinita Highway – Uma carona com os Engenheiros do Hawaii”, do jornalista gaúcho Alexandre Lucchese, que começa com a apresentação do que era o embrião do grupo em janeiro de 1984, numa festa do curso de Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e vai até a saída do baterista Carlos Maltz, em 1996. Ele, junto com o vocalista e guitarrista Humberto Gessinger e o guitarrista, violonista e tecladista Augusto Licks, emplacou uma série de hits nos anos 80 e 90, como a própria canção que dá título ao livro, “Longe Demais das Capitais”, “O Papa é Pop”, “Toda Forma de Poder”, entre tantos outros.

"Comprei meu primeiro disco da banda com oito anos e, desde lá, segui acompanhando, às vezes com mais e às vezes com menos afinco, mas eles sempre foram uma referência muito importante para mim. Na faculdade de jornalismo, alimentei o desejo de escrever sobre a banda e, em janeiro de 2015, escrevi uma extensa reportagem especial por conta de seus 30 anos. Durante a pesquisa, me dei conta de que ninguém estava fazendo um livro ou documentário sobre eles", conta Alexandre Lucchese.             

Porém, álbuns lançados depois de 1996 e que contaram apenas com Humberto Gessinger da formação clássica da banda ficaram de fora, caso de, entre outros, "Minuano", “Tchau Radar”, “Surfando Karmas & DNA”, “10000 Destinos”, “Acústico MTV” e “Novos Horizontes”. “Com a saída de Carlos Maltz, a banda praticamente acaba. Ela só recomeça mais adiante, quando Humberto a reformula a partir do Humberto Gessinger Trio, projeto ao qual estava se dedicando. No entanto, nenhuma das formações seguintes tem músicos dividindo responsabilidades e ganhos em igualdade com Humberto”, explica o autor.

De acordo com Lucchese, o núcleo inicial se rompeu e deu lugar a algo novo, com novos personagens e novos modos de se relacionar como banda. E garante que essa fase merece seu próprio livro.

O jornalista elogia a capacidade do vocalista e guitarrista Humberto Gessinger se recriar artisticamente, mesmo não tendo mais o furor criativo dos artistas de 20 e poucos anos. “Além disso, ele mantém um público próprio, sempre renovado, sem necessitar de mainstream, e a partir de um ponto periférico de atuação, Porto Alegre. É uma história tão rica quanto a narrada em ‘Infinita Highway’”, acrescenta. Já Humberto prefere não opinar: “Acho indelicado da minha parte tecer comparações entre os músicos que já tocaram comigo. E seria pretensioso analisar as várias fases da minha carreira. Não sou cardiologista, sou um coração. Que o trabalho fale por si e que cada um tire suas conclusões. Há várias formas de se ver o mesmo quadro”. Cita um verso da música “Ninguém + Ninguém”, que abre o álbum “Gessinger, Licks & Maltz”, de 1992.

Engenheiros - Divulgação - Divulgação
Carlos Maltz (esq), Gessinger (centro) e Augusto Licks (dir) da formação original
Imagem: Divulgação
Amados pelo público, odiados pela crítica

Como Alexandre Lucchese, vários ouros fãs da banda contam histórias que às vezes beiram a idolatria, o que é um dos trunfos da biografia e que confirma uma máxima que se tornou comum na trajetória dos Engenheiros do Hawaii – ser amado pelo público e odiado por boa parte da crítica especializada. “Em primeiro lugar, os críticos devem ter liberdade para julgar as bandas segundo seus critérios, então não quero dizer que um crítico que elogiou a banda tem mais razão do que outro que a condenou. No entanto, a veemência da condenação é que às vezes parece descabida”, garante.

Lucchese procura encontrar uma razão: “Talvez isso se explique pelo fato de que os Engenheiros eram estranhos no ninho. Eram caras que foram morar no Rio de Janeiro quando já tinham muitos fãs e uma ótima circulação, mas não eram figuras conhecidas do meio musical, não frequentavam festas, não pediam bênção de ninguém. Ou seja, era um grupo difícil de entender, e que não fazia questão alguma de se explicar”.

A isso soma-se o fato de o trio ser muito ensimesmado e com fama de arrogante, o que deixou mais fácil ele ser o alvo preferencial de muitos jornalistas. “É muito mais fácil para um crítico ser contundente contra alguém com fama de arrogante e alheio do que contra um conhecido ou alguém com quem ele vai topar em um bar ou restaurante no dia seguinte”.
           
Outro fato curioso na carreira dos Engenheiros do Hawaii é que, exceto o álbum “O Papa é Pop”, de 1990, que, na contramão da era Collor, vendeu mais de 250 mil exemplares, os outros todos sempre ficaram na casa dos 100 mil. Há razões para um público tão fiel, segundo Alexandre Lucchese: “Apesar de negarem o pertencimento a movimentos, os Engenheiros se beneficiaram com a explosão do rock nos anos 1980.

A fama nacional veio logo no primeiro disco, pois o rock era a bola da vez e havia interesse nas grandes gravadoras e rádios em veicular o que estava sendo produzido neste gênero – oportunidade que roqueiros gaúchos de gerações anteriores não tiveram”. E acrescenta: “Para o grupo se manter neste cenário, a individualidade foi importante. A banda criou uma identidade própria, conseguindo se desviar de rótulos, gerando sonoridades e letras únicas.

Era um grupo dedicado a fazer boas canções, sem querer surfar as sucessivas ondas da indústria ou da comunidade musical. Talvez isso tenha dificultado a carreira deles em alguns momentos, sendo incompreendidos pela crítica e por colegas, mas gerou credibilidade e aproximação com o público”.
           
O biógrafo garante que os Engenheiros do Hawaii também não tentaram posar de modernos e que Humberto Gessinger sempre teve muito cuidado com seus versos, remetendo à tradição da canção brasileira. "Algo que não era tão valorizado pela geração roqueira que começou a carreira nos anos 1980, apesar de exceções como Cazuza e Renato Russo. Além disso, por serem apenas três músicos, mas não perseguirem o virtuosismo heroico dos power trios, criaram sonoridades próprias, a partir de teclados, mídis e outros artefatos que iam se sobrepondo", finaliza.