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Joe Satriani aos jovens guitarristas: "Toque cada nota como se fosse única"

O guitarrista norte-americano Joe Satriani - Divulgação
O guitarrista norte-americano Joe Satriani Imagem: Divulgação

Rodolfo Vicentini

Do UOL, em São Paulo

07/12/2016 06h00

Joe Satriani apresenta todo o virtuosismo pela 8ª vez no Brasil nesta quarta (7), no Espaço das Américas, em São Paulo. Comemorando 30 anos de carreira, o norte-americano tem um currículo invejável e é um ícone para tantos músicos. “Eu não ligo se a pessoa está tocando rápido ou lento ou se usa acordes complexos ou simples. Tudo o que eu ligo é para o resultado final, se a música que eu ouvi é boa”, conta o guitarrista ao UOL.

Desde “Not of This Earth” (1986), Satriani não parou de fazer música. Com os clássicos “Surfing With The Alien” (1987) e “The Extremist” (1992), o guitarrista teve a oportunidade de excursionar com o Deep Purple e ainda criou a G3, uma turnê especial que já reuniu praticamente todos os “deuses da guitarra” da década de 1990 para cá. O ocupado músico ainda faz parte do supergrupo Chickenfoot, que reúne o vocalista Sammy Hagar e o baixista Michael Anthony, ex-integrantes do Van Halen, e o baterista Chad Smith, do Red Hot Chili Peppers.

O último álbum solo, “Shockwave Supernova”, lançado no final de 2015, foi elogiado pela crítica e deu frescor à carreira de Satriani: “Há ritmos sul-americanos, que misturo com o delta blues, tipo um híbrido”. Entre conselhos para os jovens e uma análise das 3 décadas de carreira, o guitarrista dá continuidade à turnê brasileira em Curitiba (09) e no Rio Grande do Sul (11).

Turnê G3 com os guitarristas Joe Satriani, Steve Vai e John Petrucci  - Divulgação - Divulgação
Turnê G3 com os guitarristas Joe Satriani, Steve Vai e John Petrucci
Imagem: Divulgação

UOL: Recentemente, vi uma entrevista do falecido guitarrista Gary Moore, e ele estava falando que muitos jovens que começam a tocar guitarra acabam privilegiando a rapidez e não sabem fazer direito uma única nota. Você concorda com ele?

Quando adolescente, tive algumas aulas com Lennie Tristano [pianista de jazz e professor de improvisação], e ele me mostrou como tocar uma nota sem nenhuma neurose (risos). Ele me desafiou: “você consegue tocar uma nota que soa correta sem colocar nada?”. Ele me mostrou que jovens guitarristas e profissionais frequentemente são obrigados a emular músicos populares para continuar tendo trabalho. Por isso algumas pessoas sempre usam o mesmo vibrato toda hora, então quando você olha para trás acaba percebendo que sempre soam do mesmo jeito. Por que o guitarrista deve tocar cada nota do mesmo jeito? Ele deve tocar cada nota como se fosse única, como se fosse a primeira vez que a está tocando. Então fui iluminado por isso que Gary Moore estava falando. Eu não ligo se está tocando rápido ou lento ou se usa acordes complexos ou simples. Tudo o que eu ligo é para o resultado final, se a música que eu ouvi é boa, e eu acredito que o próximo passo, depois de absorver tudo isso, é dar um passo para trás e perceber que tudo é expressão. Depois que você atinge isso, todos os efeitos e velocidades não importam. O que importa é quando você senta em frente a uma criança de 8 anos ou um idoso de 80 e têm uma resposta.

A internet está lotada de tablaturas e videoaulas para quem está começando a tocar guitarra. Qual o papel do professor de música atualmente?

Existem excelentes professores na internet, isso é fato. Ser um professor de guitarra é complicado, e alguns professores não conseguem manter seu negócio, então a internet é excelente para alguém que pode fazer um vídeo e ensinar o mundo como tocar algo correto, sem ter que abrir uma escola (risos). Eu acho isso ótimo, sou uma dessas pessoas que no meio da noite acabo pesquisando como tocar algo que não seja do mesmo estilo. Isso é algo que eu queria ter quando era um garoto de 13 anos, ficaria encorajado para tocar mais cedo. Entretanto, aprender a tocar um instrumento antes da internet, dos DVDs e dos VHS significava sentar na frente de alguém. E era caro, sem falar que tinham poucos professores que ensinavam rock lá na História Antiga, quando eu estava crescendo (risos). Então é animador que um garoto de 10 anos possa entrar na internet e pesquisar milhares de vídeos e diferentes versões de inúmeras músicas. Isso é a realidade.

30 anos de carreira. Como a experiência pode mudar um músico?

Bom, você sempre espera que fique melhor, que aprenda a criar um caminho mais rápido e melhor para se reinventar. Acredito que essas sejam as coisas mais difíceis quando jovem, principalmente se você é um adolescente, quando está preocupado com outras coisas na vida e ainda está aprendendo fisicamente como a tocar. Mas se você for sortudo o suficiente para tocar por algumas décadas, todos os problemas se resolvem, o que fica é uma forma verdadeira de arte e criatividade, por isso fico feliz em ter continuado.

Você já teve algum período menos criativo na carreira?

Com certeza! Eu acho que fazer 15 álbuns em um curto período de tempo, além de criar todas as outras coisas que eu fiz, tipo trabalhar com o Chickenfoot e os shows do G3, é muita coisa (risos). Eu me mantive muito ocupado e eu ainda tenho muito material que continuo escrevendo, mas não encontro tempo para trabalhar, e isso é bom. É sempre melhor quando tem muito material disponível. E ainda estou muito interessado em tocar guitarra e fazer música, colaborar, conseguir outras inspirações.

Falando agora do Chikenfoot. Por que vocês nunca vieram ao Brasil?

Eu acho que Chad e eu viajamos o mundo constantemente, enquanto Sammy e Mike não rodaram tanto assim, mas não tenho certeza, não tenho uma explicação para isso. Desde quando entrei no Chickenfoot, estive no Brasil umas 4 vezes e eu administrei para passar aí com a banda. Vou encontrar Sammy na semana que vem e pergunto isso.

Essa é a sua 8ª passagem pelo país. De alguma forma, você foi influenciado pela cultura brasileira?

Ah, com certeza. Desde a 1ª vez que passei pelo Brasil, acho que toquei em 2 ou 3 cidades na ocasião, eu fiquei embasbacado com a cultura. Tem tanta diversidade e o Brasil é igual aos Estados Unidos, parece ter uns 8 países dentro de um só. Parece que tem tanto para absorver. Quando estamos em turnê, acabamos ficando uns 2 dias em cada lugar e ainda temos que trabalhar e conhecer um monte de gente, ficar em aeroporto e hotéis. Não é a vida real, mas uma versão de turista do que de uma pessoa que vive no lugar. Eu sempre tento tirar um senso de harmonia e ritmo do lugar em que estou. Acredito que se você ouvir a faixa título do meu último álbum há ritmos sul-americanos que misturo com o delta blues, tipo um híbrido. Quem tem um conhecimento de música ao redor do mundo vai pegar logo de princípio.

Serviço:

Joe Satriani em "Surfing to Shockwave Tour 2016"
Quando
: 7 (SP), 9 (Curitiba) e 11 de dezembro (Porto Alegre)
Onde: São Paulo (Espaço das Américas, Rua Tagipuru, 795 – Barra Funda), Live Curitiba (Rua Itajubá, 143 – Novo Mundo) e Porto Alegre (Auditório Araujo Vianna)
Quanto: os ingressos variam de R$ 125 a R$ 500 (SP)
Vendas: bilheterias ou pelos sites www.ingressorapido.com.br (SP e Porto Alegre) e www.diskingressos.com.br (Curitiba)
Mais informações: em Curitiba (41) 3317-3283 e em Porto Alegre (51) 40031212