Topo

O "Verão do Amor" faz 50 anos e mostra que o sonho ainda não desbotou

Jovens reunidos em São Francisco (EUA) durante o "Verão do Amor", em 1967 - DPA/Reprodução
Jovens reunidos em São Francisco (EUA) durante o "Verão do Amor", em 1967 Imagem: DPA/Reprodução

Tiago Dias

Do UOL, em São Paulo

04/06/2017 07h53

Sete discos essenciais que transbordam paz, amor e psicodelia

Foi com toneladas de LSD, roupas coloridas e muito psicodelismo que os jovens de 1967 se armaram contra as notícias sobre a Guerra do Vietnã que insistiam em pintar aquele ano com cores sombrias.

Em resposta a tempos obscuros, as artes foram dominadas pela contracultura, que na década anterior havia desvendado uma outra América, livre do sonho capitalista, com os escritos da geração Beat.

A semente jogada nos anos 1950 fez brotar flores e ferventar ideias (com a ajuda do ácido) na cabeça daqueles jovens, que começaram a circular nos protestos contra as ações bélicas do governo americano.

Raiava ali os primeiros sinais do “Verão do Amor”. Essa nova estação começou efetivamente em junho de 1967 com o Monterey Pop Festival. Idealizado na cidade californiana, o festival de música contou com The Who, Otis Reading e apresentou ao mundo o desbunde de Janis Joplin e Jimi Hendrix.

A partir dali, milhares de jovens se mudaram para grandes acampamentos em São Francisco, onde o único lema era “Paz e Amor”. O espírito libertário, a experimentação de drogas e a psicodelia na música, no entanto, ressoariam no mundo todo e ainda ecoa até hoje.

Pode parecer um sonho desbotado, mas 50 anos depois, o "Verão do Amor" ainda está vivo em grandes discos: 

"Big Brother & the Holding Company"

"Big Brother & the Holding Company" - Divulgação - Divulgação
"Big Brother & the Holding Company"
Imagem: Divulgação

Grande sensação em Monterey, a banda californiana Big Brother and Holding Co. traduziu perfeitamente no palco o espírito libertário que já corria nas ruas, principalmente na figura de Janis Joplin. Furação de longas madeixas, roupas hippies e gogó poderoso, a cantora entremeava canções de amor não correspondido e versos positivistas, como em "Down on Me”: "Acredite no seu irmão/ tenha fé no homem”

 

"Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band", The Beatles

The_Beatles_Sgt_Peppers_lonely_hearts_club_band -  -
The Beatles, "Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band"

Com as cabeças fervilhando de ácido, os Beatles de certa forma traduziram as viagens lisérgicas em canções estruturas de forma nada usual, costuradas com instrumentos exóticos e influência da música oriental. Por mais que não fosse a intenção da banda em criar um disco ‘hippie’, as letras reflexivas e místicas, as indumentárias psicodélicas e as imagens ricas de simbolismo passaram a proliferar nas rádios, mudando a música para sempre.

 

"Younger Than Yesterday", The Byrds

byrds - Divulgação - Divulgação
The Byrds, "Younger Than Yesterday"
Imagem: Divulgação

O influente grupo chegou ao seu quarto disco fundindo o tradicional folk rock ao psicodelismo. A ascensão do baixista Chris Hillman como compositor e vocalista, atrelada às belas harmonias de David Crosby, deu vida a pérolas como “Have You Seen Her Face” e "So You Want to Be a Rock 'n' Roll Star". A referência central da banda, Bob Dylan, aparece no disco com a releitura de “My Back Pages”. Coeso e pop, “Younger Than Yesterday” é um disco que traduz o Verão do Amor como poucos.

 

"Are You Experienced?", Jimi Hendrix

Jimi - Divulgação - Divulgação
Jimi Hendrix, "Are You Experienced?"
Imagem: Divulgação

Um jovem guitarrista negro americano, indomável no palco, já andava fazendo barulho dos bons em pequenos clubes em Londres, mas ninguém poderia imaginar o frisson que causaria seu primeiro álbum “Are You Experienced?”, gravado com o trio Experience (Mitch Mitchell na bateria e Noel Redding no baixo). O show em Monterey serviu para consolidar o deus da guitarra também em território americano. E até hoje músicas como “Manic Depression" e “Foxy Lady” fazem tremar qualquer ouvinte “virgem” de Hendrix.

 

"Disraeli Gears", Cream

Cream - Divulgação - Divulgação
Cream, "Disraeli Gears"
Imagem: Divulgação

Outro power trio também fez as cabeças floridas da época. Eric Clapton, Ginger Baker e Jack Bruce aumentaram os decibéis e as viagens experimentais logo no primeiro disco, um prato cheio para os fãs de blues-rock. “Sunshine of Your Love” tem status de hino e é música obrigatória em qualquer ambiente em que se evoca o espírito de 1967.

 

"The Doors"

The Doors - Divulgação - Divulgação
The Doors, "The Doors"
Imagem: Divulgação

É só ouvir a última canção do álbum de estreia do The Doors, “The End”, para sacar que Jim Morrison estava mais interessado na tragédia grega do que em flores no cabelo. Mas por mais que a banda não levasse o lema ‘paz e amor’ ao pé da letra, o movimento hippie ficou enraizado em sua história, desde o momento em que “Light My Fire” estourou nas rádios. Com um pé na contracultura, e outro no blues, o Doors levou a sério a experimentação e a sexualidade aflorada de Morrison nos palcos.

 

"Surrealistic Pillow", Jefferson Airplane

"Surrealistic Pillow", Jefferson Airplane - Divulgação - Divulgação
"Surrealistic Pillow", Jefferson Airplane
Imagem: Divulgação

Foi a primeira banda de São Francisco a alcançar fama nos Estados Unidos, justamente ao misturar o folk com a psicodelia. Neste disco, o Jefferson Airplane catalisou a essência hippie (e drogada) dos jovens da época, sem abrir mão do engajamento político. “Surrealistic Pillow” traz alguns dos melhores hinos dessa época, como "Somebody to love" e "White Rabbit", uma legítima viagem de ácido com referências ao clássico “Alice no País das Maravilhas”.