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Anitta critica proposta que criminaliza o funk: "Invistam em educação"

Anitta na gravação do clipe de "Paradinha" - Reprodução
Anitta na gravação do clipe de "Paradinha" Imagem: Reprodução

Do UOL, em São Paulo

09/06/2017 20h52

Uma proposta que criminaliza o funk foi encaminhada para comissão no Senado nesta sexta-feira (09) e Anitta não está nada contente com a decisão. A cantora usou o Twitter para soltar o verbo e afirmar que é preciso que "invistam em educação primeiro".

"22 mil desinformados que estão precisando sair do conforto de seus lares para conhecer um pouquinho mais do nosso país", escreveu.

"Ta tudo ok com o Brasil já? Achei que tivesse coisa mais séria pra se preocupar do que com um ritmo musical que muda a vida de milhares", ela continuou. "O funk gera trabalho, gera renda.. pra tanta gente... uma visitinha nas áreas menos nobres do nosso país e vocês descobririam isso rápido. Se o conteúdo das letras ou das festas não agradam é porque cresceram vendo e vivendo aquilo que cantam", acrescentou.

Anitta ainda questionou se também vão proibir as músicas de outros países que não agradam aos "cultos ou é só uma descriminalização mais direcionada?".

Por fim, a dona do novo hit "Paradinha" completa: "Não mexe com quem tá quieto. Ou melhor... não mexe com quem tá se virando pra ganhar a vida honestamente diante de tanta desigualdade".

Entenda o caso

O empresário paulista Marcelo Alonso, autor do relatório, reuniu mais de 20 mil assinaturas no site do Senado com a proposta legislativa de criminalizar o funk.

No texto descritivo da ideia, Marcelo define: "São somente [o funk] um recrutamento organizado nas redes sociais por e para atender criminosos, estupradores e pedófilos a prática de crime contra a criança e o adolescente, venda e consumo de álcool e drogas, agenciamento, orgia, exploração sexual, estupro e sexo grupal" (sic).

A ideia de lei não significa que o funk já foi proibido. O que ocorreu foi o seguinte: qualquer pessoa pode ir até o site do Senado e sugerir uma ideia de lei e, se em quatro meses ela receber 20 mil assinaturas, é encaminhada para a relatoria que pode dar andamento à lei ou não.

O jornalista Renato Barreiros, diretor do documentário "O Fluxo" (2014), sobre os bailes funk de rua de São Paulo, e estudioso da cultura da periferia, ironizou a ideia. "Para início de conversa: os principais bandidos do Brasil nunca frequentaram um baile funk. Basta ver as delações premiadas".

"O funk fala de crime porque ele está inserido naquela realidade. Ele é espelho de um problema social muito maior", completou. "O funk nunca foi o problema. O problema é a realidade que ele mostra, de uma parcela da população sem perspectiva, com uma taxa de desemprego alta entre jovens. Não adianta matar o mensageiro. E se proibirem o funk, vai surgir o reggaeton, a cumbia, enfim, as manifestações culturais vão continuar".

O funkeiro carioca Mr. Catra, autor de funks proibidões e que lançou recentemente o clipe de sua nova (e polêmica) música "Pepeka Chora", também criticou a proposta. "Eu fico sem reação com alguém simplesmente cogitar a ideia de criminalizar o funk", reclamou. "O rap americano tem letras muito piores. Em vez de brigar com o funk, por que não briga contra o rap?", sugeriu.

"Milhões de pessoas no Brasil vivem do funk. Ele gera empregos e é um movimento cultural legítimo da favela. O problema não é o funk e sim a educação que os pais não dão para seus filhos. O funk é a cultura do trabalhador. Deixo a sugestão: vamos fazer a mesma coisa lá no senado. Tenho certeza que teremos milhares de assinaturas apoiando o funk", finalizou.

Ao UOL o autor da ideia de lei, Marcelo Alonso, 46, afirmou que está democraticamente tentando salvar a juventude. "O funk faz apologia ao crime, fala em matar a polícia. Sou pai de família e se eu não me preocupar com o futuro, amanhã só teremos marginais", disse ele.

Alonso revelou que teve a ideia de criminalizar o funk após o Facebook suspender duas vezes a página que ele mantém na rede social contra o funk. "O Mark [Zuckerberg, criador do Facebook] mandou fechar a minha página por causa das coisas que postamos lá. Mas se o funk for crime, eles vão ter que obedecer, porque é lei. Estou apenas defendendo o ECA [Estatuto da Criança e do Adolescente]", disse.

Para o empresário, o funk apela para a vulgaridade. "O axé e o forró também estão indo nesse ritmo. A cultura paulista sempre foi do rock e do hip hop. O paulista não tem esse apelo musical do funk. A música eleva seu estado de espírito e o funk te irrita e provoca", concluiu.