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De morador de rua a sucesso na TV: como rap mudou a vida de Rafael Teixeira

Leonardo Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

25/07/2017 04h00

Filho do guitarrista Mister Paco, do grupo Os Incríveis, e sobrinho-neto de Teixeirinha, um dos grandes repentistas do país, o rapper Rafael Teixeira, 31, já esteve muito pior do que seu novo clipe (veja acima) pode sugerir. Aos 14 anos, após uma briga com o padrasto, o paranaense saiu de casa e, entre idas e vindas, passou nove longos anos vivendo na rua.

“Eu tive uma discussão feia. Minha mãe tinha acabado de se casar de novo, e eu não tinha a figura de pai presente. Aí chegou um cara querendo impor fundos e fundos para mim. Aí gerou aquela revolta” conta ao UOL Rafael, que, nos tempos de relento, chegou a ser ferido com uma facada. Foram quatro pontos nas costas. “Na rua, tem muita gente invejosa”, diz ele. “Mas eu nunca me envolvi com droga pesada, sou contra, vi muita gente morrendo por causa disso.”

Da vida nada fácil da cidade Rafael absorveu a cultura hip hop e começou a rimar e improvisar em calçadas e rinhas. Desde que as coisas começaram a acontecer para ele, em 2014, já conseguiu entrar em estúdio, foi destaque no reality musical “X-Factor” e, mais recentemente, fez uma ponta na nova "Malhação: Viva a Diferença", mandando um rap "freesltyle".

Rafael Teixeira se apresenta no centro de SP - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Rafael Teixeira se apresenta no centro de SP
Imagem: Reprodução/Facebook

Agora apadrinhado pelo coletivo Damassaclan, ele lança em novembro seu primeiro disco completo, com várias participações especiais e um grande show em São Paulo. “Acho que o maior presente que Deus me deu foi chegar no ‘X-Factor’. Isso engrandeceu demais minha carreira a abriu portas.”

“Passar por aquele fila gigante, pegar frio de quase zero graus à noite e calor de quase 30 graus de dia. E, depois disso tudo, fazer um improviso de última hora e ver o sorriso daqueles monstros na bancada. Isso não disso tem preço. Consegui patrocínio e pude gravar meu novo disco.”

Segundo o MC, sua sonoridade herda, ainda que de forma inconsciente, a influência do pai e de Teixeirinha, além do jazz, MPB e do samba de raiz. “O Mister Paco vive hoje em Balneário Camboriú. A gente se fala umas duas vezes por mês, e eu peço muitos conselhos. Ele me diz para atacar por outros estilos música, mas o rap corre na minha veia, não tem como.”

Em suas letras, Rafael, que já tentou carreira no skate, versa sobre a própria história de vida, geralmente em tom positivo e de superação pessoal. Atualmente, ele mora na casa de um amigo no bairro da Brasilândia, zona norte de São Paulo, e ainda precisa tirar o sustento das ruas.

Rafael se apresenta na avenida Paulista, no centro de São Paulo e também nos metrôs, onde vende seus CDs. Em um dia proveitoso, passando o chapéu durante oito horas, consegue ganhar até R$ 300. “Amanhã mesmo estou indo para rua para pagar a divulgação do clipe novo, senão a coisa não anda”, confessa ele, amigo de outro coletivo independente que faz sucesso nas ruas, o WuTremClan.

“O rap é um estilo underground por natureza, mas o fato é que, infelizmente, essa é a música que menos tem investimento. E quem consegue chegar lá, muitas vezes, não abre os braços para os outros. Tem muito cara bom trabalhando na rua, só à espera de uma oportunidade. A molecada está toda no corre.”

O rapper Rafael Teixeira - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
O rapper Rafael Teixeira
Imagem: Reprodução/Facebook