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Um dos melhores discos do ano? O que está por trás do novo álbum do U2

U2 abre turnê brasileira do disco "The Joshua Tree" com show no estádio do Morumbi, em São Paulo - Lucas Lima/UOL
U2 abre turnê brasileira do disco "The Joshua Tree" com show no estádio do Morumbi, em São Paulo Imagem: Lucas Lima/UOL

Tiago Dias

Do UOL, em São Paulo

01/12/2017 18h14

O U2 chega a seu 14° álbum dividindo a crítica. A banda que acabou de passar pelo Brasil com um show potente em comemoração dos 30 anos do clássico “The Joshua Tree” lança “Songs of Experience”, álbum que chega ao mundo nesta sexta (1) mas já figurava há dias em lugar privilegiado entre os melhores do ano da edição americana da revista “Rolling Stone”. Resultado um tanto duvidoso para um disco rotulado por uma parte das críticas como fraco e até medonho.

A presença do álbum em uma das listas mais comentadas de fim de ano revela muito mais sobre a fase em que o U2 vive do que sobre o próprio disco.

Capa de "Songs of Experience", 14° disco do U2 - Divulgação - Divulgação
Capa de "Songs of Experience", 14° disco do U2
Imagem: Divulgação
No recém-lançado livro “Sticky Fingers”, que reconta a saga da histórica publicação, o jornalista Joe Hagan revela que o fundador da revista Jann Wenner, amigo pessoal de Bono, pediu pessoalmente que o disco anterior da banda, “Songs of Innocence”, fosse eleito o melhor disco de 2014. Qual a surpresa de se ver “Songs of Experience” em 3° lugar da lista dos 50 melhores álbuns de 2017 – e apenas nesta?

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Listas são subjetivas por excelência e não devem ser levadas ao pé da letra, mas a revelação dá uma leve gastura ao novo trabalho, semelhante à ação agressiva de lançamento de “Songs of Innocence”. O disco anterior foi distribuído gratuitamente nos dispositivos da Apple, querendo o usuário ou não. O resultado foi um álbum recebido com certa aversão pelo público e pela crítica e evidenciou a ânsia do U2 em estar no topo do mundo novamente.

Fato é: “Songs of Experience” não é um disco ruim e talvez seja o trabalho mais harmonioso dos irlandeses em anos. Traz algumas músicas fortes para que o U2 continue regendo arenas e estádios, mas está anos-luz dos melhores álbuns lançados este ano. E não foi por falta de tentativa.

O álbum, que deveria ser lançado em 2016, acabou atrasando por um esforço da banda em lapidar melhor as canções e extrair uma sonoridade mais potente. Sem deixar de favorecer os timbres mais pesados, o U2 mirou em uma produção mais pop e etérea, em um trabalho feito há dez mãos com os produtores Jacknife Lee, Ryan Tedder, Steve Lillywhite, Jolyon Thomas e Andy Barlow.

Tem bons singles, como a já conhecida "You're The Best Thing About Me" e a dançante e política “Red Flag Day”. A balada “The Showman” com irresistível tom juvenil, é o exemplo positivo desse cruzamento no estúdio.

Mas na maior parte do trabalho, o U2 soa como uma versão cover das bandas que justamente se inspiraram nos irlandeses. “Get Out Of Your Own Way” poderia facilmente figurar no repertório do Imagine Dragons e soa um tanto quanto flácida para uma banda de hits tão poderosos, como já provado na última turnê.

Há um tom político discreto em canções como "American Soul", com participação do rapper Kendrick Lamar, que louva a ideia da América como a pátria-mãe que abraça os estrangeiros, mas mais do que tomar pulso do momento politico, Bono canta versos íntimos, motivado pelo grave acidente de bicicleta que sofreu em Nova York em 2014, meses depois de lançar “Songs of Innocence”.

Em versão pregador, Bono fala muito do amor como a única coisa que nos resta, desde a abertura, na apagada “Love Is All We Have Left”, com efeitos de autotune, a "The Little Things That Give You Away", na qual o compositor pede ao seu eu mais jovem por ajuda.

A sensação é de se ouvir uma banda determinada a criar um grande gancho para marcar e emocionar o ouvinte, e a figurar no topo dos melhores do ano. Pena que no meio do caminho eles desperdiçaram a chance de se gravar um grande disco ou pelo menos um mais memorável.