Rodrigo Silveira
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Jan Fjeld
Foi-se o tempo em que as meninas dos chamados "girl groups" cantavam sobre o amor perdido e inatingível, e davam receitas para conquistar o homem ideal. As músicas pareciam manuais de sobrevivência para garotas indefesas num mundo dominado por homens ameaçadores.
Hoje, as "meninas", especialmente as da nova geração de cantoras e compositoras negras, querem falar de racismo, dos problemas das favelas, da esperança de oferecer um mundo melhor para os seus filhos e sobre o poder do sexo. Alias, todas querem falar e cantar sobre sexo. Todas querem fazer sucesso, sem dúvida, mas não sob qualquer pretexto.
A nova geração é altamente politizada, sem a preocupação de ser politicamente correta. Jill Scott, Erykah Badu, India Arie e Macy Gray são cantoras norte-americanas contemporâneas, e foram todas comparadas à rainha do soul, Aretha Franklin, seja pelo fraseado, pelo timbre ou simplesmente pela alma, o "soul".
Todas têm as suas raízes firmes nas tradições do soul, funk e rythm and blues. É a geração pós-Tracy Chapman e posterior às grandes damas de rap como Queen Latifah, Roxanne Shante e a dupla Salt'N'Pepa.
As letras falam dos menos privilegiados da sociedade --o mais recente single da Erykah Badu é "Bag Lady"(Sacoleira)-- e até sobre experiências sexuais mais explícitas. Macy Gray canta em uma das suas
canções: "I'm a sex-o-matic venus freak when I'm with you, and I won't stop it. Only when you tell me to" (algo como "sou uma venus maníaca quando estou com você, e não paro até você mandar").
Entre o rap e o canto Com uma voz poderosa, a debutante Jill Scott lançou "Who is Jill Scott? Words & Sounds: Vol. 1" em meados do ano passado, pela gravadora independente Hidden Beach, e já goza de uma influência razoável no mundo pop. Scott ganhou em agosto três prêmios "Soul Train" (Programa dominical norte-americano dedicado à música afro-americana): o de melhor álbum solo de rhythm and blues e soul, melhor single e melhor álbum de estréia. Além disso, ganhou o "Aretha Franklin Award" por artista do ano.
Em várias das faixas de seu disco de estréia, Scott dispara uma metralhadora verbal que fica no território entre o rap e o canto.
Como disse a própria cantora numa declaração disponível no site da sua gravadora, "Não quero ser classificada. O meu cabelo não tem permanente, não sou magra, não tenho bundão. Cada um tem o seu rumo."
Já Erykah Badu está em seu segundo disco, "Mama's Gun" lançado este ano pela Motown. A lendária gravadora que trabalhou com gigantes do soul e rythm & blues como The Jackson 5, Marvin Gaye, Diana Ross and the Supremes não deixou a moça escapar. Badu já mostrou a sua força vocal e também comercial: seu primeiro CD, "Baduizm" foi lançado em 1997 e até agora vendeu quase cinco milhões de cópias no mundo todo.
"Acho que canto sobre as mesmas coisas que os rappers fazem rap", declara a cantora em seu site. Seu primeiro CD era cheio de soul, o segundo tem mais rythm and blues, mais peso e funk --tem até guitarras distorcidas. E sua voz é mais para Billie Holiday do que para Aretha Franklin.
Batida pesada encontra voz poderosa India Arie tem uma influência folk explicita. Não levanta muito a voz e toca violão. Arie é a voz mais contida de sua geração. Suas letras falam sobre conflitos internos e presta várias homenagens explícitas a Stevie Wonder, seu colega de gravadora. Arie compôs a maior parte das músicas do seu CD de estréia, "Acustic Soul", lançado pela Motown em 2001.
A mais desbocada, mais direta, e a mais "rock'n'roll" --no sentido de subversão que o termo evoca- é Macy Gray. Seu disco de estréia, "On How Life Is", de 1999, revelou uma voz rouca, mas jovem. Um timbre que tem sido comparado com cantoras como Abbey Lincoln, Nina Simone e Tina Turner, além de, é claro, Aretha Franklin. Macy Gray tem um fraseado todo próprio, uma voz suingada que lhe rendeu um Grammy em 2000 pelo single "I Try".
O seu aguardado segundo CD, "The Id" tem lançamento mundial previsto para o dia 18 de setembro, e sua gravadora, a Sony, confirma sua participação no Free Jazz em outubro, no Rio e em São Paulo. Com sorte, o público brasileiro poderá presenciar ao vivo uma colaboração de Gray com o mago das batidas, Fatboy Slim, a música "Demons", lançado como single este ano. A batida pesada encontra a voz poderosa.
Veja abaixo links para sites de artistas citados na coluna:
http://www.radiouol.com.br http://www.whoisjillscott.com/ http://www.erykahbadu.com/ http://www.indiaarie.com/ http://www.hiddenbeach.com/ http://www.accessyourid.com/ http://www.gutterandstars.com/gutterandstars/demons/ http://www.soultrain.com/