Rodrigo Silveira
|
Jan Fjeld
Se lembra daquela música, "Connected" que tocava em todas as festinhas caseiras da década passada? A música até chegou a ser usada em comercial para fone celular em 1998. É da banda britânica Stereo MCs e é uma espécie de rock-rap-soul com hip hop groove.
Há quase uma década sem lançar trabalho novo (o álbum "Connected" foi lançado em 1992), os responsáveis pela invenção de hip hop inglês estão de volta com "Deep Down and Dirty", o seu quarto álbum em quase 15 anos de estrada. Valeu a espera.
"Deep Down and Dirty" é um prato cheio para quem gosta de suíngue, músicas bem-humoradas, sonoridades inusitadas com orquestrações que beiram o kitsch, rap e scratches.
Stereo MCs continua trabalhando a mesma fórmula que fez a sua fama há uma mais que uma década: batidas e linha de baixo funkeadas, as vezes digitais e as vezes analógicas, refrões e frases vocais de efeito, às vezes puro nonsense, muitos metais e o sample ocasional.
Continua também a sua formação inicial com o compositor, rapper e produtor Rob Birch e o mágico de teclados e orquestração Nick Hallam, o baterista galês Owen If e a vocalista Cath Coffey.
Já na segunda faixa do novo disco, "We Belong in This World Together" ouve-se a seqüência do sucesso "Connected" da década passada. Esta vez sem nenhum sample. A faixa "Connected" contava com o trecho do "Let Me Be Your Lover" de Jimmy "Bo" Horne, responsável por, entre outros, alguns dos sucessos de K.C. & the Sunshine Band. Na nova versão, já candidata ao sucesso, a programação de teclados é mais lenta, menos disco, mas os raps do Rob Birch continuam com o seu sotaque bem inglês, voz monótona e anasalada, parecendo mais uma mantra, aclamando o refrão "we belong in this world together" (juntos pertencemos a este mundo) sobre uma linha de piano repetida e um mar de efeitos sonoros meio dub que vão desde palmas e até serras elétricas.
Esta fórmula encantatória, para o a geração pós "United Colors of Benetton", na voz de um branco, uma negra e alguns músicos de cor não muito bem definida entoando "we belong in this world together" evoca paz e dá um sentido maior à frase numa época de guerra. "There ain't no time / There ain't no place / What's going on? (Não há tempo / Não há espaço / O que está acontecendo?)" perguntam eles repetidamente. Além do mais, movimenta os pés e enche a pista.
Na faixa "Sophisticated" -outro destaque dançante do disco- ouve-se o refrão "I'm getting relocated / Destination zero / I'm so dislocated from my natural born hero" (Estou me recolocando / Destino zero / Sou tão deslocado do meu herói nato e natural). Soa mais como terapia do que rap propriamente dito, repetido ad infinitum sobre uma base de piano, baixo e bateria. Imagino que a letra tenha a ver com o desaparecimento do grupo destes últimos anos.
Algumas faixas soam inacabadas, parecem exercícios em looping, como "Graffiti Part One" e "Graffiti Part Two" com as suas camadas de bateria programada junto com bateria e percussão acústica. A faixa "Traffic", com a sua base rítmica roubada da música "I Can't Go for That" de Hall & Oates, parece mais um exercício de batuque que uma música finalizada.
Já a faixa "Shameless", que fecha o álbum, tem um clima retrô e o uso do piano Wurlitzer soa atmosférico. Nesta, Birch canta de fato através de um vocoder (Voice Operated reCOrDER). É a única faixa com clima mais melancólico: "Through the city structures / Chalices shattered / Wasteland and ghost towns" (Através das estruturas da cidade / Cálices quebrados / Terra de ninguém e cidades-fantasma).
O desaparecimento Em 1992, quando lançaram "Connected", Stereo MCs era uma banda promissora e com mini sucessos dos dois lados do Atlântico. O disco estourou. Era uma coleção de músicas com poucos samples, bases programadas e bastante instrumentação ao vivo. A faixa-título virou sucesso mundial. Vieram as turnês, a venda de CDs disparou, chegaram os prêmios -dois dos cobiçados Brit Awards inglês de 1994, um pelo álbum "Connected" e também o de melhor banda.
E aí Björk disse que Stereo MCs era a a sua banda favorita. Parecia que não tinha erro, que o Stereo MCs seria o próximo grande acontecimento no mundo pop. Só que eles
desapareceram.
Atualmente a banda está dividindo o seu tempo abrindo para Jane's Addiction e Courtney Love nos EUA e participando no Livid Festival na Austrália, tocando nos mesmos palcos que Fun Loving Criminals e Cypress Hill.
Começaram tudo de novo. "Deep Down and Dirty" é funkeado como antigamente, vai encher as pistas e mais uma vez o futuro parece promissor para o Stereo MCs.
Conheça a história do Stereo MCs Ouça Stereo MCs na Rádio UOL Conheça o site oficial
http://www.stereomcs.co.uk