Rodrigo Silveira
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Jan Fjeld
Ele é alemão, tem nome inglês e é mais conhecido pelos remixes feitos para Daft Punk ("Burnin'"), Deee-Lite ("Power of Love") e alguns sucessos nas pistas de autoria própria como
"Celtic Cross" e "What's Your Number". No seu mais recente CD, "Since Then", Pooley faz música pop com sotaque brasileiro e está tentando sair das pistas para entrar nas paradas de sucessos e nas ondas das FMs mundo afora.
"Since Then" traz sambas eletrônicos, bossas digitais, boas melodias e refrões que grudam, além de faixas que têm vocação para manter as pistas cheias _a sua marca registrada. Mas a habilidade de Pooley supera as pistas.
Sua música é interessante mesmo para quem não quer dançar.
Lançado pela gravadora
V2Music no final de junho deste ano, "Since Then" é o segundo
álbum cheio deste mago dos estúdios e dos teclados. O primeiro, "Meridian", foi lançado há dois anos quando Pooley deu o primeiro passo saindo do formato vinil de 12" para CD cheio, com ampla distribuição nas Saraivas e Fnacs da vida.
"Since Then" abre com uma faixa instrumental de quase três minutos em que violões do tipo Luiz Bonfá conversam com um efeito sintetizado de uma guitarra wha-wha. A batida bossa é de pandeiro eletrônico. É bonito e anuncia o que está por vir.
A segunda faixa, "Venasque", é um loop com vozes em francês. É repetitivo, não encheria nenhuma pista mas é agradável. Na terceira faixa, a que dá nome ao disco, Pooley encontra a fórmula: após uma intro de sons borbulhantes, entra uma batida de house tímido e uma voz feminina, cantando baixinho em português "eu amo sozinha / é que eu amo tanto tanto". A faixa vai crescendo até que vira um house épico com os breaks de percussão _outra marca registrada do produtor.
Épico é um adjetivo que vale para o clima da maioria das 11 faixas, embora "Balmes" seja o ápice. Este foi o primeiro single a circular nos clubes na Alemanha e Espanha, onde o Pooley tem o seu maior público. O baixo é bem Daft Punk com uma batida que vai crescendo em intensidade. A linha de violão acústico que puxa a melodia parece às vezes música de elevador, às vezes soa como um João Gilberto que se animou demais. A música já existe em várias versões em vinil, uma delas com o vocal da dupla canadense
Esthero, além dos remixes de Faze Action. A versão incluída no "Since Then" não tem vocal.
O trabalho com vocais não-sintéticos é uma novidade neste álbum de Pooley. Agora ele está incluindo vocalistas ao vivo nas suas apresentações em clubes. As cantoras portuguesas Rosanna e Zélia o acompanham em duas faixas no "Since Then". As duas têm também o crédito de serem co-autoras das faixas "Coração Tambor" e "Menino Brincadeira", além de tocarem guitarras e percussão.
A primeira faixa com a dupla vocal é um samba eletrônico com vozes femininas cantando o refrão "samba pula / bate forte / mostra raça". É uma faixa curiosa com breaks de percussão e interlúdios de guitarras meio ciganas.
"Menino Brincadeira" abre com a voz da Rosanna ou Zélia anunciando "Ciranda de roda / zueira", junto a tambores tipo candomblé resultando numa batida quatro por quatro, estilo house. Seria o estilo ciranda-house? Novamente com frases sampleadas de violão acústico - outro elemento que permeia a produção.
O vocal da inglesa
Kirsty Hawkshaw na faixa "Visions" é quase um sussuro, cheio de ar, soando frágil em contraste com a batida dançante.
Com barulhinhos gostosos e o vocal refrescante de Hawkshaw, "Vision" é puro pop e tem até solo de guitarra.
Mais pista e menos pop é "900 Degrees". Acima da batida seca há várias camadas de teclados, loops e samples _a faixa utiliza um trecho do vocal e do baixo do sucesso dos anos 70 do grupo Shalamar, "I Love You
More". É simples, soa sofisticado e é diversão garantida na pista.
No encarte do CD, há uma listagem extensa dos sons que Pooley gosta de ouvir. Além dos nomes mais óbvios como Elis Regina, Nara Leão, João e Astrud Gilberto, tem também Luiz Bonfá, Marcos Valle e Edu Lobo.
No site oficial que é eficiente e bem atualizado, encontram-se dicas das músicas que ele mais gosta de tocar. Na maioria são produções recentes de house como Basement Jaxxx, Joe Santoz e Gloss.
A curiosidade fica por conta da dica do seu álbum favorito que é o R&B meloso de cantora e compositora Aaliyah, que morreu recentemente num acidente de avião.
Com uma cultura musical bastante variada, Ian Pooley está dentro de "Since Then" nas lojas do seu shopping favorito, e certamente estará audível numa pista perto de você.
Ouça
Ian Pooley na Rádio UOL