Rodrigo Silveira
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Jan Fjeld
Se as paradas de sucesso são termômetro, as grandes damas do rap norte-americano atual são Missy Elliott e Lil' Kim, ambas com pose, histórias pornôs para contar e boas batidas para acompanhar.
As duas trabalham com sonoridades inusitadas e com produtores de peso do universo hip hop: Missy Elliott com
Timbaland; Lil' Kim com
Junior M.A.F.I.A.. Mesmo assim, nos seus mais recentes álbuns, os produtores não as salvam.
As duas oferecem um entretenimento hedonista sonoramente confuso e liricamente preguiçoso. Em letras sexualmente explícitas, mostram o que é ser "bitch" para o rap. Em vez de subserviência, elas encarnam as superpoderosas do sexo.
Na recente história do hip hop, as rappers negras interpretaram e articulam os medos, prazeres e promessas de jovens mulheres negras, que antes de
Queen Latifah e de Salt'n'Pepa não tinham espaço em qualquer fórum público ou nas paradas de sucesso. O discurso de Latifah sempre foi anti-violência, anti-machista e trouxe uma bandeira feminista para o rap. Salt'n'Pepa bateu recordes de venda chegando em primeiro lugar nas paradas americanas.
Lil' Kim, a rainha do mundo de letras sexualmente agressivas e pornográficas, foi por outro caminho. Ela é uma das poucas vozes femininas da vertente
gangsta rap e ganhou notoriedade por em enfrentar o chauvinismo com a mesma moeda dos homens: mais chauvinismo.
Seu maior sucesso até agora, a música "Not Tonight" - do álbum de estréia "Hard Core" (1996) - tem o seguinte refrão: "I don't want dick tonight, eat my pussy right"
A cantora, ex-mulher do rapper
Notorious B.I.G., abre seu mais recente lançamento "The Notorious K.I.M.", com um aviso ao ouvinte: "Little Kim is a threat to society". Mas não é bem assim.
O álbum conta com uma extensa lista de colaboradores como Grace Jones, Puff Daddy, Mary J. Blige e o rapper sensação do momento,
Sisqo, entre outros. A lista impressiona, mas o som não. É hardcore rap, com faixas cheias de samples do mundo rap, funk e rhythm and blues. Sempre vestindo (pouco) Versace, Iceberg e Dolce & Gabbana, Lil' Kim aparece nas capas dos seus álbuns e vídeos promocionais de uma forma sexy e ousada. Mas fica nisso. Apesar da pose, suas músicas, em 2001, só provocariam a Liga de Senhoras Católicas.
Em "How Many Licks", a letra encena um diálogo entre um casal em que a mulher ao seduzir e elogiar seu parceiro diz que ele tem "big ass dick and a hurricane toungue".
Missy "Missdemeanor" Elliott lançou o seu terceiro CD, "Miss E", apelando para um público adolescente mais fissurado em detonar ecstasy e ouvir
electro (referência do E do título do disco). Mudou de hábito ou de público alvo. No primeiro disco, Missy aparecia jogada num colchão com cara de quem estava louca de maconha.
Como Kim, Elliott aborda temas sexualmente explícitos, mas de uma forma menos pornográfica. Em "One Minute Man" ela diz que ela quer alguém que dure mais que um minuto. "Me excita / me mostra o que você tem / porque quero alguém que agüente mais do que um minuto". O rapper que participa nesta mesma faixa tem o estranho nome de Ludacris (proveniente de "ludicrous", em português algo como ridículo ou absurdo) e ele afirma, na mesma faixa, que um pau duro faz o sexo durar.
Como nos seus trabalhos anteriores, "Miss E" é uma colaboração com o menino prodígio, o mago dos estúdios Timbaland e, como os outros, é mais pop e sonoramente experimental do que os produtores de Lil' Kim, que são mais old school. Onde Kim apela para o lado funk, Elliott flerta com drum 'n' bass.
São poucas as rappers que contribuíram com algo contundente para o debate sobre a cultura machista e sexista do mundo hip hop. O seu espaço na mídia é utilizado apenas para a autopromoção. As duas não são exceções.
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