Rodrigo Silveira
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Jan Fjeld
Fazer lista é uma das melhores coisas do mundo e a lista que segue é dos melhores lançamentos de dinossauros que nunca pararam de lançar discos, jurrásicos que voltarem à ativa, os melhores momentos de gente grande e coletâneas importantes das mais variadas -todas lançadas em 2001.
Tem pouco rock, já que o gênero perdeu qualquer relevância há tempos. Para que servem as poses de The Strokes e White Stripes se temos ainda na ativa New Order e Radiohead? O marketing de Madonna e Michael Jackson não significa mais nada comparando com a trilha sonora para o caos do terceiro milênio produzido por uma Mary J. Blige ou Dr Dre.
Arthur Baker "Breakin" (Perfecto 2001)
Inventor do electro, irmão de Afrika Bambaata, o produtor/compositor Baker já tentou de tudo para se dar bem na vida embora não precisasse. Tem produções lendárias como "Planet Rock" do próprio Bambaata e "Walking On Sunshine" de Rocker's Revenge, todas disponíveis nesta compilação de grandes momentos de Baker. A coleção contém também versões, remixes e produções poderosas de músicas de Armand van Helden, Felix the Houscat e Timo Maas em alta rotação atualmente nas melhores pistas do mundo. Se você não conseguir dançar com nenhuma destas faixas, você pode ter perdido sua sensibilidade, pode estar em coma ou deve ter tomado overdose de algo.
Dr Dre. "Chronicled" (Death Row, 2001)
É uma coleção de melhores momentos da claustrofobia e paranóia do gangsta rap -e eles são muitos. O mais poderoso produtor e compositor do gênero como também do g funk e o rap da Costa Oeste, Dr Dre mostra neste disco tudo de bom de Snoop Doggy Dogg, 2Pac e de si mesmo. Nascido Andrew Young em Compton, subúrbio brabo de Los Angeles, Dre conta histórias sonoras do submundo de drogas, sexo e crime. É exagerado e assustador como um filme de terror. São faixas com batidas arrastadas, pesadas e funkeadas, que retratam uma vida movida pelo hedonismo e sem qualquer direção, acompanhada de lamentos sintetizados. Dre usa, quase sempre, uma base de baixo inspirado no funk de Bootsy Collins (P - Funk e Bootsy Rubber Band), Larry Graham (Sly and the Family Stone) e Bernard Edwards (Chic) para traçar os seus registros musicais de desordem e caprichos sexuais. "Eu fumo maconha".
Dusty Springfield "The Ultimate Collection" (Hi-O Records, 2001)
Esta é uma seleção primorosa de 20 faixas que vão do clássico "Son of a Preacher Man" (incluído originalmente no seminal "Dusty in Memphis", produzido por Jerry Wexler e Arif Mardin) até a sua colaboração com os Pet Shop Boys na breguíssima "What Have I done to deserve This?". Nascida Mary O'Brien, Dusty fez a sua fama calcada num repertório que tem desde o mais fuleiro pop até exuberantes orquestrações de soul e rhythm and blues. Virou um ícone dos "swinging 60s" com o seu topete branco e delineador preto e pesado, além de ser famosa pelo abuso de entorpecentes. Dusty era uma das responsáveis pela difusão do
Motown Sound na Europa. Faltou a sua brilhante versão de "Anyone who had a Heart" de Bacharach/Davis, mas em compensação tem "Look of Love" da mesma dupla. As faixas "All Cried Out" e "Breakfast in Bed" são minutos tenros da música popular.
New Order "Get Ready" (London Records/Reprise 2001)
Roqueiros independentes seminais e os principais responsáveis por importar as sonoridades e batidas do que mais tarde ganhou nomes como "electro", "house" e "techno", das discotecas gay americanas para a Europa, no início dos anos 80. Os ingleses de Manchester estão de volta com um mix melancólico e pesado -é mais para "Bizarre Love Triangle" do que para "Blue Monday", ou mais rock do que electro-, e tratam os temas de sempre -solidão, amor e o não-conformismo- de uma forma elegante e com a aparente discrepância de antigamente entre a melodia, a linha de baixo e a batida. O som é espaçado e empolgante.
New Order tem bem mais do que vinte anos só de carreira e, portanto, não é uma banda confiável. É rock pra velho. Ouça em volume alto, mas tome cuidado com a ressonância no seu nível de colesterol: sentimentalismo é perigoso. Pode matar.
Radiohead "Amnesiac" (EMI 2001)
Thom York e o Radiohead são responsáveis pelas baladas mais belas e tristes do início de terceiro milênio. "Amnesic" é mais pérolas aos porcos, e serve um lirismo que é único no mundo pop. Totalmente diferente dos álbuns anteriores do grupo, salvos o timbre e a melancolia. Cada uma das 11 faixas é uma revelação. É música para ouvir deitado. É rock pra nerd e é tão estranho quanto o seu site oficial (http://www.radiohead.com).
Mary J. Blige "No More Drama" (MCA 2001)
Mary J. Blige é a grande diva de rhythm and blues contemporâneo e não precisa pedir licença para ninguém. Com a sua voz poderosa, repertório e colaboradores de primeira linha, o álbum de 2001 é diferente dos seus mais recentes -é muito melhor. Pontos altos são as colaborações com Lenny Kravitz e com a dupla Neptunes. Mas nem tudo melhorou: antes a diva vestia Gucci e usava cabelo alisado, agora ela posa em hot pants com cabelo assimétrico. Ficou dramático demais.
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aqui Smashing Pumpkins "Rotten Apples/Judas 0" (Hut 2001)
Com uma releitura de monstros do rock progressivo e glam -como Uriah Heep, Black Sabbath, T-Rex e The Sweet-, o Smashing Pumpkins levou o seu rock progressivo e pomposo, com a credibilidade de uma banda independente, para o topo das paradas de sucesso nos anos 90. Esta coletânea, um CD duplo, é, como quase todos os lançamentos da banda norte-americana, um exagero. A banda, que se dissolveu em 2000, continua irônica: o primeiro CD chama-se "Rotten Apples" e traz os melhores momentos com camadas de guitarras, muita distorção em contraste com orquestração, e belas melodias como os angustiantes "Alone" e "Disarm". O segundo CD, "Judas 0", é de material não incluído na sua discografia oficial -sobras de estúdio e "lado Bs". Atenção para o melódico "Sparrow" e o pensativo "Set the Ray". A coleção é um valioso documento sonoro de uma era do rock, os chamados independentes anos 90, quando a indústria do rock perdeu a sua hegemonia e relevância para os independentes, e para a revolução da eletrônica e do hip hop. Ainda há esperança para um rock verdadeiro, independente e de vanguarda.
Stereo MCs "Deep Down and Dirty" (Island 2001)
Stereo MCs voltou em ótima forma com a mistura que fez a sua fama com "Connected" há dez anos: batidas e linha de baixo funkeadas, às vezes digitais e às vezes analógicas, refrões e frases vocais de efeito, às vezes puro nonsense, muitos metais e o sample ocasional. O grupo leva em frente a parte soul e hip hop de uma espécie de funk branco e inglês, na linha Happy Mondays e Stone Roses dos anos 80/90. Uma deliciosa mistura de bateria acústica com eletrônica, flertes com gospel e uma batida que não deixa ninguém ficar quieto. É música para animar a festa.
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aqui Vários "Champion Sound" (Wordplay 2001)
É uma compilação que junta o que há entre o radical dub de raiz e o ragga mais moderno. É um prato cheio para quem curte todas as facetas do reggae. Tem artistas e produções mais contemporâneos como Sizzla e Royal Fam com a excelente "Acid", e também o veterano Sugar Minott, representado com a pesada faixa "Crazy Soundboy". Não é uma seleção leve, com aqueles sucessos que tocam nas rádios no litoral norte. Mostra como a maior parte da música eletrônica de hoje deve tudo ao reggae -um CD que os puristas de tecno vão adorar odiar.
Vários "Dread meets punk rockers Uptown" (Heavenly Recording 2001)
Uma coletânea com músicas esparsas e arejadas, de grandes artistas como Horace Andy, Tappa Zukie, Big Youth e U-Roy. É uma ótima chance de atualizar a sua discoteca com 16 faixas de clássicos de dub da mais alta qualidade. O encarte conta um pedaço da história do início de punk com texto de Don Letts, o DJ responsável pela coletânea, mais conhecido mundo afora pelo seu envolvimento com The Clash e mais tarde Big Audio Dynamite. Além de DJ, Letts faz filmes (os mais conhecidos são "Dancehall Queen" e "The Punk Rock Movie") e fez videoclipes para Bob Marley, Elvis Costello, The Pretenders e Baba Maal. O que está na coletânea é o que tocava no The Roxy, clube que Johnny Rotten, Chrissie Hynde e Mick Jones freqüentavam antes de gravar uma primeira demo. Não dá pra viver sem a versão de "Pure Ranking" de Horace Andy e "Police and Thieves" de Junior Murvin.
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